quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17876: Os nossos seres, saberes e lazeres (234): Passeio pedestre por algumas entranhas de Moffat (5) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 10 de Julho de 2017:

Queridos amigos,
O viandante vinha sedento de umas férias aprazíveis, pouco castigadoras de horários, deu sinal de tal propósito levando calhamaços para assinalar a sua firme disposição de ficar de perna estendida a saborear os elementos pastoris daquele Sul da Escócia.
Mas está-lhe na massa do sangue aquela irrequietude, vasculhar o território próximo, passá-lo a pente fino, e deixar-se seduzir-se por passeatas entre o património construído e natural. É disso que aqui se fala e continuará a falar. Uma das "vantagens" em viajar em low-cost é não se regressar carregado de tralha díspar, o viandante foi metódico na seleção musical e escassas roupas, havia vitualhas para prendas.
Férias cheias de sabor, acrescente-se, há aspetos daquela natureza que não se encontram em parte nenhuma, e não gostando o viandante de ver ruínas confessa que há ali ruínas de castelos que fazem da Escócia o tal local de sonho.

Um abraço do
Mário


Passeio pedestre por algumas entranhas de Moffat (5)

Beja Santos

É uma chuva miudinha, intermitente, incómoda para andar a cantar odes campestres, éclogas a favor destes desfiladeiros, charnecas e imensidades florestais. Contemo-nos com a prata da casa. Do remanescente da visita a Jedburgh Abbey, permite ao leitor que louvemos hossanas a esta porta lateral da igreja, praticamente intacta e com todos os sabores e requintes do que os britânicos chamam o romanesco, embora ataviado de elementos góticos. Estes obscuros construtores de igrejas e catedrais encontraram soluções primorosas para entrar neste espaços destinados a adorar Deus, fizeram estas peças de filigrana, e tratando-se de uma porta lateral nem foi necessário rebuscar aqueles elementos portentosos que encontramos no Pórtico da Glória, da catedral de Santiago de Compostela. Não sabe o que o tempo fará desta discretíssima porta lateral, à cautela mimoseio quem lhe quiser bem.


Estamos portanto em Moffat, comece-se pelo chamado ponto focal do povoado, the Moffat Ram, símbolo da longa história do centro comercial lanífero que foi Moffat. Agora, em termos turísticos, o que prometem como mais vibrante é o toffee (um caramelo com um sabor ligeiramente avinagrado), os gelados, a mostarda, pastelaria e o haggis local (bucho de carneiro recheado de vísceras). Ninguém dirá, vendo esta fotografia, que já choveu e daqui a um bocado correrá água a potes do céu, até pareço mentiroso com este azul celeste como pano de fundo da escultura icónica de Moffat.



Quem percorre a Grã-Bretanha questiona a raridade das casas arruinadas, tudo se reconstrói a partir de um estábulo ou de uma velha garagem. O viandante ficou contente com esta recuperação, sabe-se lá do quê, um bom entrosamento entre a pedra local e materiais que asseguram conforto, com as exigências atuais. Nada de pindérico, nenhuma pontinha daquele novo-riquismo que agora encontramos nos discípulos de Siza Vieira que inundam as nossas vilas e aldeias.


Aqui está um templo da doçaria, a Meca para todos os gostos açucarados. Acontece que o viandante entrou aqui com um grupo de septuagenários que passaram as férias da sua infância em Moffat. A discussão foi imensa, entre o que havia ontem e o que há hoje, lembrou-se a guerra e o racionamento do açúcar, que prevaleceu até 1952, houve quem lembrasse a má qualidade do pão e coisas assim, mas o que pesou nesta visita era o xelim que cada um deles recebia sábado de manhã, numa aldeia próxima, fizesse o tempo que fizesse, vinham aos doces. Chama-se a isto a saudade dos velhos, verem-se ao espelho da infância.


Quando o viandante foi professor de Sociologia do Lazer, lembrava aos seus alunos a importância crescente dos museus temáticos locais, do vinho ao queijo, da lã ao vidro, do ferroviário ao naval, todos os átomos de uma identidade nacional passam por conhecer a história do nosso microcosmos. O viandante quis conhecer o pequenino museu de Moffat, dispondo de uma casa secundária em Tomar deu consigo a pensar que Tomar tem uma longa história que não se confina ao Convento de Cristo nem ao Paço Real onde habitaram desde o Infante D. Henrique até à Rainha D. Catarina, a viúva de D. João III, há uma estupenda arqueologia industrial, com papel e lanifícios, até a memória daquela batalha da Asseiceira que marcou o fim do miguelismo, isto para já não falar da presença judaica ou na gastronomia. Este museu instalou-se numa antiga padaria e mostra sem lamechas nem prosápias o que Moffat era e fez, as suas personalidades e até a importância do seu caminho-de-ferro. Aqui nasceu, por exemplo, o homem que respondeu inteiramente pelos acontecimentos empolgantes da Força Aérea (RAF) na decisiva batalha da Grã-Bretanha.



Aqui permaneceu durante mais de duas semanas o viandante e companha, casa reconstruída obviamente, reconstrução acarinhada, poiso procurado o ano inteiro pelo conforto e meio ambiente. O proprietário chama-se Charlie, o viandante interessou-me mais do que pela sua correção e verbosidade própria deste tipo de estalajadeiros. É que a mulher de Charlie vive há anos com uma esclerose múltipla, tem cuidadora mas é Charlie que lhe dá o principal alimento da vida, o carinho, o viandante ia consultar o tablet lá a casa e ouvia aquela conversa impossível entre o cuidador do coração e o doloroso paciente, momentos houve em que sentiu vontades de chorar, tal é a força do amor, há muitíssimos anos que aquele corpo se degrada, não emite sons, o corpo é francamente vegetal e no entanto aquele Charlie enamorou-se de uma rapariga alemã que trouxe para a Escócia. E enamorado está.


É num parque onde cirandam crianças entre o minigolfe e as embarcações aquáticas que se levanta este singelo monumento para recordar o marechal da Força Aérea Hugh Dowding, o tal que respondeu pela luta nos céus, naquele período crucial de 1940, matando o sonho de Hitler em intimidar a Grã-Bretanha com os seus devastadores bombardeamentos.

Amanhã, haja chuva que houver, viandante e companha vão à procura de Robert Burns, o bardo nacional da Escócia, em Dumfries, um dia inteiro que dê para vasculhar as velhas estradas deste Sul da Escócia.

(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 11 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17849: Os nossos seres, saberes e lazeres (233): Passeio por uma grande abadia em ruínas, voyeurismo em Moffat (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17875: Tabanca Grande (449): José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, 3ª CART /BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74, escritor, natural de Penafiel, a residir agora em Amarante... Passa a ser o novo grã-tabanqueiro nº 756


Foto nº 1


Foto nº 2

José Claudino da Silva, fotos de hoje (nº 1) e de ontem (nº 2), ex-1º cabo condutor auto, 3ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), novo membro da Tabanca Grande, com o nº 756 (*).

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2017), Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. É autor de dois livros, um de ficção, parcialmente inspirtado na guerra colonial (2016), e outro de poesia (2007). Está a preparar um terceiro livro, memorialístico, com base na sua correspondência do tempo da vida militar (1972/74).


UM CERTO JEITO DE MIM

por José Claudino da Silva

Nasci no tempo das flores,
Fruto de falsos amores,
Esse foi o meu dilema.
Vim ao mundo sem cuidado,
Surgi pelo lado errado
Da vida dita suprema.

Descalço me fiz criança,
Comendo frutos de esperança.
Na escola desabrochei,
Voguei num mar de bonança.
Era rica a minha herança
Que ao sonho me entreguei.

Pela vida apaixonado,
Espalhei por todo lado
Meu poder de adolescente.
Fui escravo, fui soldado,
Pela Pátria amordaçado,
Meu poder ficou ausente.

Começo tudo de novo,
Já pertenço a outro povo.
Sou hoje um fruto maduro,
Todos meus sonhos renovo.
Faço planos e aprovo
O meu caminho futuro.

Tropecei, tombei, caí
Nas estradas que percorri.
Fiz coisas boas e más,
Altos castelos ergui.
Alguns sonhos destruí,
Que ficaram para trás.

Formei-me na utopia,
Mas a vida dia a dia
Deu-me lições de rigor.
Mais tarde,  compreenderia
Que viver em fantasia
Não era viver melhor.

Com armas tão desiguais
Lutei sempre muito mais,
A vida me foi madrasta;
Nunca culpei os meus pais,
Afinal tenho ideais
Mais puros que qualquer casta.

Se às vezes o desalento
Me invade um momento,
Logo volto a reagir,
Meus poemas dão alento.
Breve, esqueço o tormento,
Sem precisar de fugir.

Se hoje sou quem eu sou,
Nada troco, nada dou,
Em quase tudo errei;
Sou este que aqui estou,
Que pela vida se formou.
Sou assim. Assim serei.

Se ao longo deste caminho
For caminhando sozinho,
Numa agonia fatal,
Com cicuta, adoço o vinho.
Bebo goles, de mansinho,
Na bebedeira final.

José Claudino da Silva




Título: Desertor 6520


Autor: José Claudino Silva

Data de publicação: Setembro de 2016

Número de páginas: 408
ISBN: 978-989-51-8120-9
Edição: Chiado Editora, Lisboa
Colecção: Viagens na Ficção

Género: Ficção

Idioma: Pt

Preço: 13 € (papel); 3€ (ebook)



Sinopse



“A partir daquele momento, era irreversível a sua partida e tinham a consciência da transformação radical que as suas vidas iriam sentir.” José C. Silva


2. Nota biográfica:





(i) José Claudino da Silva nasceu no lugar das Figuras Marecos Penafiel em 19 de maio de 1950;

(ii) filho de pai incógnito e de Mabilde da Silva;

(iii) foi criado pela sua avó materna. Emilia Queirós da Silva;

(iv) fez a escola primária na freguesia de Marecos, Penafiel, de 1957 até 1961;

(v) fez a comunhão solene na igreja matriz de Penafiel;

(vi) omeçou a trabalhar aos 11 anos na construção civil e posteriormente como chapeiro, na indústria automóvel, onde trabalhou cerca de 50 anos;

(vii)  através do seu professor primário, o professor Cunha, e do reverendo padre Albano,  adquire o gosto pela escrita e pela leitura; para ter acesso gratuíto aos livros inscreve-se na biblioteca  da Fundação Calouste Gulbenkian de Penafiel com o número de sócio  490;

(viii) ingressou nas fileiras das Forças Armadas em 3 de janeiro de 1972 e embarcou para a então colónia da Guiné em 26 de junho de 1972,  regressando à vida civil em 26 de setembro de 1974;

(ix) neste periodo escreveu centenas de cartas;  possui a maioria delas pois pediu que as guardassem (mas com a intenção de  jamais as reler);

(x) casou com Maria Amélia Moreira Mendes em 6 de setembro de 1975;

(xi) têm dois filhos do sexo masculino e uma neta;

(xii) no ano lectivo 1989/90 fez o 6º ano nas aulas noturnas; em 2005 completou o 9º ano através das Novas Oportunidades; em 2009 concluiu o 12º ano;

(xiii) ganhou o primeiro prémio dum concurso televisivo da SIC (Paródia Nacional);

(xiv) em 2007 publicou um livro de poesia e em 2016 um livro de ficção ("Desertor 6520", Chiado Editora, Lisboa); a sessão de lançamento do "Desertor 6520", em Amarante, teve como apresentador o antigo primeiro ministro José Sácrates;

(xv) escreveu dezenas de poemas e artigos de opinião para o jornal da Lixa;

(xvi) está aposentado, vive em Amarante;

(xvii) tem página no Facebook:

(xviii) faz parte de 2 grupos do Facebook:

GUINÉ - Capicuas de Fulacunda-CART 2772 Ano 1970/1972

Antigos combatentes da Guiné

[Fonte: adapt. livre de Chiado Editora, Lisboa, com a devida vénia +  conversa ao telefone + pesquisa adicional na Net]


3. Comentário do editor LG:

José Claudino, sê bem vindo!... Aprecio a tua franqueza e frontalidade, tão nortenhas... Como sabes, tratamo-nos por tu, como camaradas de armas que fomos (e continuamos a ser para  o resto da vida...). É uma das nossas regras básicas: facilita a comunicação, esbate eventuais diferenças que nos separaram no passado e podem separar no presente: por exemplo, postos, especialidades, habilitações académicas, história de vida, etc....

No blogue  Luís Graça & Camaradas da Guiné, partilhamos memórias (e afetos). Temos uma Tabanca Grande onde todos cabem com tudo aquilo que nos une e até com aquilo que nos pode separar (política, religião, futebol...). Tens aqui as 10 regras editoriais do blogue, que por certo subscreverás inteiramente.

Recebi ontem a tua última mensagem: "Envio então ainda por corrigir, o texto que denominei "EM NOME DA PÁTRIA" baseado no que escrevi há cerca de 45 anos. Sendo a guerra vista por um soldado, a minha maior surpresa, relendo os meus escritos, é a espantosa alteração da minha forma de pensar após aqueles dois anos. Saboreiem um certo romantismo intercalado de dor. Um grande abraço para o Jorge Pinto e todos os camaradas."

O teu manuscrito, ainda sem imagens, tem mais de 70 pequenos capítulos e pouco mais de 80 páginas. A partir das tuas memórias e das cartas que escrevestes à tua futura esposa (e das que recebeste dela), reconstituis a tua passagem pela tropa e pela guerra...

Vou ler com cuidado o manuscrito e dar-te o meu "feedback", mas desde já te digo que é um documento autobiográfico notável. Creio que estás a pensar em publicá-lo em livro (em papel e/ou em suporte digital, o chamado eBook). Mas, ainda antes disso, gostaria de poder publicar alguns dos capítulos mais interessantes no blogue que, como eu te disse,  forma  um grande auditório de camaradas e amigos da Guiné, os quais seriam os teus primeiros e devotados leitores. Pensa nisso!

Para já senta-te sob o poilão da Tabanca Grande, no teu lugar, que passará a ser o nº 756. O teu nome passa, a partir de agora, a constar da lista alfabética, de A a Z, dos membros, formalmente registados, da Tabanca Grande, e disponível na coluna do lado esquerdo do blogue.

Sê bem vindo e traz mais... cinco!
______________

Notas do editor:

Guiné 61/74 - P17874: Parabéns a você (1329). Luís Nascimento, ex-1.º Cabo Operador Cripto da CCAÇ 2533 (Guiné, 1969/71)


____________

Nota do editor

Último poste da série >  13 de outubro de  2017 > Guiné 61/74 - P17857: Parabéns a você (1328): Mário Ferreira de Oliveira, ex-1.º Cabo Condutor de Máquinas Reformado, Marinha (Guiné, 1961/63)

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Guiné 61//74 - P17873: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (2): Os meus passeios pelos Bijagós: ilha de Caravela


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4



Foto nº 5

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2017) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada Patrício Ribeiro, o "pai dos tugas" (como é conhecido na Guiné-Bissau):



Data - 14/10/2017

Assunto - Os meus passeios  - Parte

Luís:

Os meus passeios nos Bijagós… que agora estão na moda…

Como dizia no anterior post P16818 (*),  por lá ando a passar férias, para festejar os 70 anos. Sou de 1947. Grandes e bons passeios de 7h para cada lado, com muito conforto… como podem ver nas 9 fotos e no filme, tiradas no final de julho deste ano. Aqui vão as cinco primeiras fotos, as restantes seguem nputro mail.


Patrício Ribeiro, Orango, 2008
[O Patrício Ribeiro  nasceu em Águeda, em 1947; viveu desde tenra idade em Nova Lisboa / Huambo, Angola, vivido, onde casou e fez o serviço militar, como fuzileiro naval;: retornou ao "Puto" depois da descolonização, fixando-se entretanto na Guiné-Bissau, há 3 décadas, país onde fundou a empresa Impar Lda, líder na área das energias alternativas; trabalha com o filho,; passa agora mais algum tempo em Portugal, na época do verão]

Legendas (das cinco primeiras imagens):

Foto nº  1- Viagem de Bissau, para a Ilha da Caravela, na canoa de carreira semanal, 7 horas;

Foto nº 2- Nossos trabalhos; radar, rádios e energia solar, na ilha da Caravela em Betelhe, junto ao antigo aeroporto;

Foto nº 3- Porto de Betelhe, na Caravela, a preparar a saída para o Ilhéu de Caió [, a sudoeste da Ilha de Jeta, região de Cacheu];

Fotos nºs 4,5 - Viagem entre a Caravela e Ilhéu de Caió, 7 horas, muito agradável (não é só nas Caraíbas)-

[...] Para quem gosta de passar férias nos Bijagós, é ótimo em outras épocas do ano…

Aqui perto existe um pequeno hotel no ilhéu de Queré, que recomendo. É muito agradável e com muito qualidade, é gerido pela Sónia, uma Portuguesa, agora quase Bijagó. Podem ver a página na Net , Keré - 00245 966943547-  

Vd. aqui o sitío Keré, Bijagós.

Abraço
Patrício Ribeiro (**)

www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com



Mapa da região de Bolama / Bijagós. Cortesia da Wikipédia. Orango é a mais distante das ilhas, a 100 km de Bissau, 7 h de viagem.  A ilha Caravela, por sua vez, fica a 37 km da costa continental e  tem 128 km². É a a ilha mais a norte do  arquipélago: tem densas florestas, vastos mangais e praias de areia branca.
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de dezembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16818: Memória dos lugares (352): Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta, região do Cacheu: um local muito bonito onde, para o ano, quero vir passar umas férias (Patrício Ribeiro, Bissau)


Guiné 61/74 - P17872: Agenda cultural (594): Lançamento do livro "Isabel Minha Mãe", da autoria do nosso camarada Guilherme Costa Ganança, dia 21 de Outubro de 2017, pelas 16,30 horas, no Auditório do Centro Cultural John dos Passos, Ponta do Sol, Ilha da Madeira


C O N V I  T E

Lançamento do livro "Isabel Minha Mãe", da autoria do nosso camarada Guilherme Costa Ganança, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1788/BCAÇ 1932, Cabedú, Catió e Farim, 1967/69), no próximo dia 21 de Outubro de 2017, pelas 16,30 horas, no Auditório do Centro Cultural John dos Passos, Ponta do Sol, Ilha da Madeira

************

Sobre o autor:

Guilherme da Costa Ganança nasceu no Funchal em 1945.
Concluiu o Ensino Secundário no Liceu de Jaime Moniz, do Funchal.

Licenciou-se em Engenharia Electrotécnica, pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa e fez o Bacharelato em Engenharia Civil, pelo Instituto Politécnico de Castelo Branco.
Foi professor no Ensino Secundário e no Politécnico, Vereador e Director do Departamento de Desenvolvimento, Educação e Cultura, da Câmara Municipal de Castelo Branco.
Foi Director de Produção da empresa Cablesa, hoje, Delphi.
É também autor dos livros: "Do Cacine ao Cumbijã" e "O CORREDOR DE LAMEL - 68 GUINÉ 69".

____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17871: Agenda cultural (593): Lançamento do livro "Os Silêncios da Guerra Colonial", da autoria da antropóloga Sara Primo Roque, filha de um DFA, combatente em Moçambique, dia 9 de Novembro, quinta-feira, às 18:30 h, na Av. Padre Cruz, na ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas

Guiné 61/74 - P17871: Agenda cultural (593): Lançamento do livro "Os Silêncios da Guerra Colonial", da autoria da antropóloga Sara Primo Roque, filha de um DFA, combatente em Moçambique, dia 9 de Novembro, quinta-feira, às 18:30 h, na Av. Padre Cruz, na ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas


C O N V I T E

Mensagem de Sara Roque

Data: 11 de outubro de 2017 

Assunto: A guerra colonial e os seus silêncios


Boa noite,

Começo por me apresentar.

Chamo-me Sara Primo Roque e sou filha de um ex-combatente ferido em Moçambique com uma mina antipessoal.

Sempre vivi com a Guerra Colonial. 

Como forma de honrar e homenagear o meu pai, em 2005 defendi uma tese de mestrado científico no ISCTE com o tema "A guerra colonial e os seus silêncios".

Dia 9 de novembro pelas 18:30h irei lançar a obra agora em livro.

A obra traz à tona as vozes daqueles que estiveram nos teatros de guerra e que nunca viram as suas vozes ouvidas como deveria ter sido feito. Os silêncios que envolveram o antes, o durante e o pós-Guerra Colonial são a tónica deste ensaio.

Foi através das memórias e das representações de vida daqueles que viveram direta ou indiretamente este conflito que foi possível reconstruir a realidade de um tempo que se quer fazer desacontecer.

Gostaria que me ajudasse a divulgar o meu livro, que não é só meu, mas de todos os ex-combatentes que deram o seu testemunho e partilharam as suas memórias.

Cumprimentos
Sara Primo Roque


Sobre o livro "Os Silêncios da Guerra Colonial", da autoria da antropóloga Sara Primo Roque, consultar o facebook em Edições Pásargada.

A obra será apresentada no próximo dia 9 de Novembro, quinta-feira, às 18:30 h, na Av. Padre Cruz – Edifício ADFA, e só estará à venda no lançamento ou por reserva no mail: 

pasargada.edicoes@gmail.com

Preço: 22,00€
____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17869: Agenda cultural (592): Colóquio Internacional "O Ano de 1917", Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras, 4ª feira, dia 18, das 10h00 às 18h30... Um ano que mudou o mundo, da revolução russa às aparições de Fátima e ao envio do 1º corpo expedicionário português para a Flandres, na I Grande Guerra...

Guiné 61/74 - P17870: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (9): 7.º Dia: Bissau, Safim, Nhacra, Jugudul, Mansoa, Mansabá e Farim (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)


1. Continuação da publicação das "Memórias Revividas" com a recente visita do nosso camarada António Acílio Azevedo (ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74) à Guiné-Bissau, trabalho que relata os momentos mais importantes dessa jornada de saudade àquele país irmão.

AS MINHAS MEMÓRIAS, REVIVIDAS COM A VISITA QUE EFECTUEI À GUINÉ-BISSAU ENTRE OS DIAS 30 DE MARÇO E 7 DE ABRIL DE 2017

AS DESLOCAÇÕES PELO INTERIOR DA GUINÉ-BISSAU (9)

7.º DIA: DIA 05 DE ABRIL 2017 - BISSAU, SAFIM, NHACRA, JUGUDUL, MANSOA, MANSABÁ E FARIM


Depois de concluída a visita a terras de Bafatá e de Gabú e após uma calma viagem, regressarmos à nossa base, (Aparthotel Machado, em Bissau), para um bom necessário e refrescante banho, um bom jantar e mais uma boa dormida), acordámos no dia seguinte bem dispostos para nova aventura guineense, que neste sexto dia nos esperava.

Como pessoas conscientes que somos, não podíamos porém esquecer outros compromissos que o nosso grupo tinha assumido, antes da partida de Portugal, e que se relacionava com o já constante a folhas 10 do presente texto.

Assim e embora nos parecesse tudo já previamente combinado, e na presença dos nossos colegas Moutinho e Leite Rodrigues, o responsável da Alfândega de Bissau mandou chamar, na manhã dessa quarta-feira, dia 05 de Abril, esse tal agente (?!) que, logo de imediato apresentou a documentação em falta, afirmando que a mesma se encontrava numa das gavetas da sua secretária, mas que não tinha aparecido ninguém para levantar o contentor, o que se provou não ser verdade, porque ele próprio seria o representante legal do destinatário desse material escolar.

Antes de sairmos para mais um dia de visitas, fomos informados pelo nosso amigo, Dr. João Maria Goudiaby, médico no Hospital Padre Américo, em Penafiel e cunhado de sua Ex.ª o Senhor Presidente da República da Guiné-Bissau, Dr. José Mário Vaz, mas também amigo da maioria dos membros da Tabanca Pequena de Matosinhos, a que pertencemos e que prestaram serviço militar na Guiné-Bissau entre os anos de 1963 e 1974, que nos informou que pelas 11 horas da manhã do dia seguinte,  e em puro acto de cortesia, o Senhor Presidente da República ia ter a atenção de nos receber no seu Gabinete da Presidência, em Bissau.

Ficámos a aguardar a boa-vontade expressa pelo Senhor Presidente da República da Guiné-Bissau, em nos receber, pois para além dessa muito honrosa cortesia, nos permitiria, talvez, tentar expor a situação sobre um contentor que se encontra retido no Porto de Bissau, desde princípios de Novembro de 2016, visando a sua justa e oportuna intervenção, já que no interior do já referido contentor existem materiais e equipamentos oferecidos por entidades e muita gente anónima de Portugal, para ser entregue a escolas e outros serviços da área do ensino da Guiné-Bissau.

Assim e procurando manter o nosso programa de visitas, e com um bom pequeno almoço ingerido, cada grupo tomou lugar no seu habitual jeep, com destino às terras ou zonas que pretendiam visitar.
Neste dia e para o meu grupo de quatro colegas, no qual eu me integrava, iniciou a deslocação para a zona de Mansoa, para a partir daí seguir viagem até às localidades de Mansabá e Farim, localizadas na parte nordeste do território da Guiné- Bissau, com esta última a não ficar já não muito longe do território vizinho do Senegal.

Estrada plana, com longas rectas e um óptimo pavimento, que segundo nos informaram foi custeado pelo Senegal, visando um melhor escoamento das mercadorias produzidos naquela zona de fronteira, através do porto guineense de Bissau.

Com uma breve paragem no posto de abastecimento de Jugudul, para abastecimento de combustível, avançamos em direcção à vila de Mansabá, onde nos detivemos algum tempo antes de nos dirigirmos para Farim, pois pretendíamos ficar com uma ideia em como se encontrava esta povoação localizada num ponto importante de ligação rodoviária entre Bissau, o leste e o nordeste da Guiné-Bissau.

Ficámos muito impressionados, pela negativa, pelo aspecto de quase total abandono em que se encontra Mansabá, chamando-nos particular atenção o estado totalmente arruinado em que se encontram as instalações do nosso antigo aquartelamento sediado naquela antiga vila da Guiné, mas o mesmo se pode afirmar das habitações locais e dos próprios arruamentos que serviam a localidade, apenas escapando a esse “tornado”, a nova e boa estrada que de Mansoa se dirige a Farim e que num itinerário novo, contorna a antiga povoação.

Para uma melhor demonstração do que exponho, junto duas fotos, uma antiga e outra actual do que existia e do que agora nos ainda oferece a antiga vila de Mansabá. Sem mais comentários, porque não se compreende como as autoridades locais e nacionais deixaram cair Mansabá para um estado de quase total abandono, como tivemos oportunidade de confirmar, mas o mesmo, ou pouco melhor, se pode afirmar da antiga cidade de Farim.


Foto 94 - Mansabá (Guiné-Bissau): Antiga imagem da Vila, com as instalações militares na parte superior da fotografia 

Foto: © Carlos Vinhal  


Foto 95 - Mansabá (Guiné-Bissau): Imagem da talvez melhor rua e zona habitacional que encontramos em Mansabá http://mapio.net/pic/p-3525451/ 

Concluída a passagem por esta pobre e muito abandonada povoação, deixámos para trás a antiga vila de Mansabá, continuando a percorrer a bem asfaltada e ampla estrada que nos iria conduzir a Farim, situada na margem direita do Rio com o mesmo nome e que por inexistência de uma ponte, teríamos que atravessar a bordo de uma pequena jangada.

Durante o trajecto que liga Mansabá a Farim, despertou-nos a atenção o facto de vermos à margem da estrada e em locais mais abertos de vegetação, uns pequenos montículos que, em princípio me pareciam pequenas pedras, mas que, depois de efectuarmos uma breve paragem, constatámos serem montículos de terra, construídos pelas formigas bagabaga.

Antes de atingirmos as margens do Rio Farim e numa recta bastante grande, passamos no lugar mítico e muito perigoso, do tempo da guerra colonial, designado por K3, assim conhecido por se localizar a 3 quilómetros de Farim, e que era um local onde, além deste itinerário principal, se cruzavam outros, como era o caso do “corredor” do Olossato e Bissorã, bem como o da mata do Morés, ocupada pelo PAIGC, logo zona de interesses estratégicos comuns às duas partes envolvidas nessa guerra.

Percorridos esses três quilómetros, chegámos à margem esquerda do Rio Farim, onde aguardámos que chegasse a pequena barcaça/jangada que fazia a ligação entre as duas margens do rio, que ali tem uma largura de cerca de 150 metros, mas que apenas tem capacidade para o transporte de uma viatura de cada vez e mais ou menos 20 pessoas. Tivemos “sorte” quando ali chegámos, porque passámos para Farim logo de seguida, embora houvesse no local outros veículos para também fazerem a travessia do rio.

Como apontamento adicional, refiro que a maioria da população que faz a travessia de uma para a outra margem, utiliza pirogas que são embarcações estreitas, mas compridas e apetrechadas com motores fora de borda e com coletes de salvação, conforme o demonstra uma das fotos seguintes e que são construídas a partir de troncos de madeira, que são escavados e que têm uma capacidade entre 8 a 10 passageiros, mas que também transporta bicicletas, motorizadas e pequenas bagagens.


Foto 96 - Estrada Mansoa–Mansabá (Guiné Bissau): Terrenos junto à estrada, onde se vêm pequenos montes de terra, construídos pelas formigas bagabaga pretas (termiteiras em cogumelo)  

Foto: https://1.bp.blogspot.com/-y7AoF-IerJY/To7cHS8iEjI/AAAAAAAAh2o/2IlAFZ-WxlM/s1600/Guine_2006_Mansaba_HC_12+189.jpg 


Foto 97 - Farim (Guiné-Bissau): Os colegas Barbosa, Monteiro e Angelino na zona do famoso K3, que comigo estavam a aguardar embarque de jangada para Farim



Foto 98 - Farim (Guiné-Bissau): Piroga, transporte típico na travessia do Rio Farim entre K3 e Farim, que até motorizadas leva


Foto 99 - Farim (Guiné-Bissau): Chefe da Alfândega de Farim 


Foto 100 - Farim (Guiné-Bissau): Travessia em jangada de Farim para o K3, vendo-se o nosso jeep a meu lado 

Desembarcados em Farim, ficámos de imediato decepcionados com a degradação que a antiga cidade do leste da Guiné apresentava, pois além das ruas se apresentarem sem sinais de asfalto, todas em terra, poeirentas e cheias de buracos, mostrava um conjunto de antigos edifícios coloniais, todos eles muito degradados, que nos mostravam uma realidade de pobreza e abandono, daquela gente que ali vive.

A pé percorremos algumas dessas ruas, começando por atravessar o antigo parque público, onde ainda são ainda visíveis bancos em cimento para descanso das pessoas e vestígios do que terá sido um belo jardim, com diversos canteiros onde terão existido bonitas flores e pequenos arbustos que o embelezavam.

Vimos um espaço cimentado e ainda, em parte, vedado, que terá sido um local onde se terão praticado algumas modalidades desportivas, como o futsal, naquele tempo designado por futebol de cinco, o voleibol, o andebol e o ténis, mas que actualmente são apenas vestígios de equipamentos de uma época, que as autoridades de Farim e/ou os seus habitantes, não conseguiram conservar e manter.
Um edifício ao lado deste parque mostra-se ainda o que terá sido um hotel e onde é também bem visível uma antiga piscina, completamente abandonada.

Não vimos um único restaurante e lojas comerciais, apenas nos foi despertada a atenção para um edifício, relativamente moderno, onde funciona um talho e duas pequenas lojas de comércio local. No largo central e nas ruas que para lá convergem, ainda tivemos oportunidade de verificar a existência de pequenos armazéns e de algumas lojas destinadas à alfaiataria e à reparação e venda de bicicletas e respectivos acessórios, muito pouco para uma cidade que na época colonial chegou a viver com algum conforto, em que os habitantes se sentiam bem e onde havia espaços de divertimento e de lazer, mas tudo mudou e para pior.

Algumas ruas largas, tipo avenidas e com postes de iluminação na sua zona central, mas que, ao que nos disseram, não dão luz há muitos anos, são outros pontos que referenciam, pela negativa, a cidade de Farim, levando ao ponto de alguns dos actuais residentes nos afirmarem, com toda a convicção, que estão muito piores agora do que quando estavam lá as tropas portuguesas.


Foto 101 - Farim (Guiné-Bissau): Foto antiga da marginal da cidade, vendo-se à direita da imagem o tal antigo parque público de lazer e passeio e onde nos anos 70, se passeava e praticava desporto 

Foto: http://trip-suggest.com/guinea-bissau/guinea-bissau-general/bissilao/ 


Foto 102 - Farim (Guiné-Bissau): A travessia na jangada, com a actual Farim já ali próxima  

Foto: http://www.odemocratagb.com/duas-novas-pontes-e-estrada-para-sul-sao-prioridade-do-governo-da-guine-bissau/ 


Foto 103 - Farim (Guiné-Bissau): Antiga foto do parque público, vendo-se, a meio, o recinto desportivo e por trás dele o edifício do cinema, com a piscina a localizar-se entre estes dois espaços 


Foto 104 - Farim (Guiné-Bissau): Foto actual do monumento colonial, alusivo ao V Centenário da morte do Infante D. Henrique e que ainda se apresenta em bom estado de conservação. Ao lado e espalhados pelo antigo parque público, podem ver-se, pintados de azul, alguns dos bancos de cimento, ainda ali existentes 

Foto: © Fernando Inácio (2007). Direitos reservados. 


Foto 105 - Farim (Guiné-Bissau): Embora designada como Rua dos Alfaiates, nela só encontramos esta pequena amostra 

Foto: © Patrício Ribeiro (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Foto 106 - Farim (Guiné-Bissau): Imagem actual das instalações do nosso antigo quartel

Embora tivéssemos connosco o jeep que nos havia transportado até Farim, decidimos fazer um passeio a pé por algumas das ruas desta pobre cidade, ficando com a desagradável sensação de sentir as carências da sua população, apoiado no meu conhecimento que tinha sobre Farim, há cerca de 43/44 anos, e das realidades que agora se observavam e sentiam.

Passámos pelo pequeno edifício da Alfândega local, onde encontramos à porta o responsável daquele posto aduaneiro e com o qual eu troquei alguns minutos de conversa, sobretudo inquirindo sobre o movimento de mercadorias que actualmente são ali controladas.

Talvez não esperando a questão que apresentei, este responsável defendeu-se o melhor que pôde, procurando explicar-me que faziam o controlo das mercadorias que vinham do vizinho Senegal, para serem exportadas pelo porto de Bissau.

Foi evidente um certo nervosismo quando, de seguida, também lhe perguntei:
- Mas se não existe aqui nenhuma ponte para atravessar o rio e a jangada ser pequena e só levar uma viatura ligeira em cada travessia, como é possível dar resposta a esse movimento de mercadorias que me fala?!

Riu-se e não fez qualquer comentário.

Como não víamos qualquer local para almoçarmos, decidimos telefonar aos colegas de outros dois jeeps que tinham ficado pela zona de Mansoa, a fim de algum deles num indicar uma casa para esse fim.

Em boa hora telefonámos, porque esse grupo que se fazia acompanhar do senhor Djalló, proprietário da empresa dos jeeps em que andávamos, encontrava-se num Hotel Rural, na localidade de Uaque, próximo de Mansoa, onde iriam almoçar e convidaram-nos para esse mesmo almoço.

Estávamos porém a cerca de 120 quilómetros para leste de Mansoa, mas mesmo assim e como a estrada entre Farim e Mansoa era sempre plana e se apresentava com bom piso, decidimos vir para Uaque, onde chegámos cerca das 13,30 horas, mas ainda a tempo de participarmos na churrascada que tinham mandado preparar e que depois comemos à sombra de um redondel coberto com paus e ramos de palmeira.

Terminada a refeição, tivemos oportunidade de efectuarmos uma visita pelo espaço, onde além dos edifícios tradicionais também ali se localizavam salas de jantar e bares, existindo no exterior e isoladas umas das outras, cerca de 15 construções redondas, do tipo “bungalows”, cada um com duas camas e casa de banho privativa.

Na zona central do empreendimento, num grande edifício, funciona a zona da recepção, mas também possui áreas para a realização de conferências e seminários, tudo isto envolvido numa grande mancha verde de vegetação, com muitas palmeiras e outras árvores.


Foto 107 - Hotel Rural “Uaque”: Espaço turístico, localizado entre Mansoa e Jugudul, onde almoçámos, no regresso a Bissau. Começando pelo Djalló, proprietário dos jeeps, vêm-se, sentados à mesa, os colegas Barbosa, Angelino, Leite Rodrigues Rebola, Isidro e Ferreira


Foto 108 - Hotel Rural “Uaque” (Guiné-Bissau): Outra foto do mesmo local onde almoçámos, em que apareço eu, vendo-se de frente o Djalló e de costas os colegas Samouco e Vitorino e um pouco da careca do Moutinho


Foto 109 - Hotel Rural “Uaque” (Guiné-Bissau): Outra foto do almoço, onde à direita aparece o Isidro, o Rebola, o Leite Rodrigues, o Barbosa, o Djalló e ao fundo eu e o Moutinho e do lado esquerdo, o Cancela e o Rodrigo


Foto 110 - Hotel Rural “Uaque” (Guiné-Bissau): “Bungalows” existentes no interior do espaço do empreendimento

Depois de uma manhã bem preenchida por terras do interior leste da Guiné-Bissau, que apesar da evidente pobreza que verificámos existir, principalmente em Mansabá e Farim, gostámos de visitar, a manhã terminou com um bom almoço e um salutar convívio no empreendimento turístico Hotel Rural de Uaque, onde depois passámos uma parte da tarde, conversando, descansando e protegendo-nos um pouco do forte calor que se fazia sentir a esta hora do dia, não sem que antes de partir em direcção a Bissau, fizéssemos uma visita guiada às óptimas instalações deste novo empreendimento, que, pelo que vimos continua a expandir-se.

No decorrer da conversa, ficamos a saber que a sociedade que explora este espaço é também proprietária do agradável complexo da Pousada do Saltinho, situado junto à ponte com o mesmo nome, construída sobre o Rio Corubal, já a caminho da fronteira sul com a Guiné-Conakry, local que desta vez não me foi possível visitar por falta de tempo, e que desenvolve diversas actividades de entretenimento, como jornadas dedicadas à caça e à pesca, bem como caminhadas.

Ficará para uma próxima oportunidade, já que é um lugar muito bonito e aprazível, referenciado positivamente pelas designadas “corredeiras”, que mais não são que pequenas quedas de água existentes junto à ponte sobre o Rio Corubal, mas que toda a gente conhece como os “Rápidos do Saltinho“, nome este que tem origem no facto de as diferenças entre os diversos níveis de água serem pequenas, e que é um local onde, mesmo no tempo da guerra colonial, o pessoal militar gostava de tomar umas boas banhocas, já que apesar da corrente do rio, a profundidade das águas, é relativamente baixa.

Pelo que eu conheci e pelo que me transmitiram os colegas que agora lá foram, o Saltinho continua a ser um lugar paradisíaco, com o mesmo encanto, sendo um espaço que valerá bem a pena visitar.

Passados estes mais que 40 anos, a sensação de o visitar é naturalmente bem diferente, a segurança é total e sentimo-nos perfeitamente à vontade aqui, como em qualquer outra zona da Guiné-Bissau, onde como já foi por mim referido, fomos sempre bem acolhidos.

Depois de um dia bem passado e já com o final da tarde a aproximar-se, regressámos à nossa base em Bissau, sediada no Aparthotel Machado, para tomarmos um refrescante duche e depois jantarmos, desta vez com a companhia das 5 médicas e a enfermeira italianas, que “desenrascámos” dias antes na Praia Varela e que tinham mostrado vontade em vir confraternizar connosco.


Foto 111 - Saltinho (Guiné-Bissau): Uma das imagens de marca de quem se desloca ao Saltinho e aproveita este espectacular cenário para tomar uma banhoca, nas águas do Rio Corubal. Para mim, a visita ficará para uma próxima oportunidade, já que é um lugar lindo e encantador 

Foto: © Hugo Costa / Albano Costa (2006). Todos os direitos reservados


Foto 112 - Saltinho (Guiné-Bissau): Como lembrança do local, cá fica uma bela imagem da ponte em betão sobre o Rio Corubal  

Foto: http://www.povonalu.com/gbterradeoportunidades/


Foto 113 - Saltinho (Guiné-Bissau): Foto dum local já mais perigoso dos “Rápidos do Saltinho”, pois a corrente era mais forte  

Foto: https://www.youtube.com/watch?v=J_nfDEPhOBE


Foto 114 - Bissau: Sentados à mesa do Aparthotel Machado, ao fim da tarde, e bebendo umas cervejas, encontra-se o Azevedo, o Vitorino, o Barbosa, o Angelino, o Rodrigo, o Isidro e de costas o Samouco


Foto 115 - Bissau: À mesa do Restaurante do Aparthotel Machado, no início do jantar com as cinco médicas italianas de Udine, que se encontravam a fazer voluntariado numa clínica hospitalar de Bissau. Recordo que as encontrámos e safámos de ficar com a carrinha Toyota em que se faziam transportar, presas nas areias da Praia Varela

Fotos: © A. Acílio Azevedo, excepto as cujos autores e proveniência foram devidamente indicados

(Continua)
____________

Nota do editor CV

Último poste da série de 12 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17855: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (8): 6.º Dia: Bissau, Safim, Nhacra, Jugudul, Bambadinca, Bafatá e Gabu (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)