Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça, com o objetivo de ajudar os antigos combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra da Guiné (1961/74). Iniciado em 23 Abr 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência desta guerra. Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, e gostamos de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 22 de março de 2024
Guiné 61/74 - P25298: Manuscrito(s) (Luís Graça): Quinta de Candoz: a sagração da primavera
sábado, 13 de janeiro de 2024
Guiné 61/74 - P25063: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte IX: A caminho de França, a bordo de um vapor britânico... Foto de Joshua Benoliel, o pai do fotojornalismo português
É nesta altura que se começa a afirmar o fotojornalismo, de que o Joshua Benoliel foi um dos pioneiros e, reconhecidamente, o maior do seu tempo.
Temos aqui publicado algumas das fotos dos primeiros meses do embarque das tropas do CEP (Corpo Expedicionário Português), a caminho de França, transportadas por vapores britânicos... Já havia submarinos e a viagem (até Brest, no noroeste da França) não era isenta de riscos...
Treinados em tempo recorde, em Tancos (entre abril e julho de 1916, sob o comando político do então Ministro da Guerra, general Norton de Matos, e a direção operacional do general Fernando Tamagnini de Abreu), os nossos camaradas iam mal equipados para a guerra de trincheiras... E logo em abril de 1917 começaram a morrer os primeiros..."meninos da sua mãe" (como dirá o Fernando Pessoa). (É um dos poemas mais pungentes da nossa literatura: fala-nos não só da guerra e da irremediável solidão da morte mas também, metaforicamente, da perda da infância, do colo materno, da inocência)
Fernando PessoaO MENINO DA SUA MÃE
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). - 217.
1ª publ. in Contemporânea , 3ª série, nº 1. Lisboa: 1926.
Fonte: Arquivo Pessoa (com a devia vébia,,,)
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Nota do editor:
Úttimo poste da série > 7 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25043: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte VIII: mais um flagrante do fotógrafo Joshua Benoliel, no embarque do CEP para França: a cena tocante de um camarada que escreve, em cima do joelho, um bilhete-postal de despedida, para a família de um outro camaradadomingo, 7 de janeiro de 2024
Guiné 61/74 - P25043: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte VIII: mais um flagrante do fotógrafo Joshua Benoliel, no embarque do CEP para França: a cena tocante de um camarada que escreve, em cima do joelho, um bilhete-postal de despedida, para a família de um outro camarada
Capa da "Ilustração Portuguesa", II Série, nº 575, Lisboa, 26 de fevereiro de 1917. (Edição semanal do jornal "O Século"; editor lit.: José Joubert Chaves; nº avulso: 10 centavos.)
Observações: O jornal diário, republicano, "O Século", custava 1 centavo (uma centésima parte do escudo, a nova moeda que valia mil réis da antiga). Com o início da I Grande Guerra, e a escalada dos preços, há uma crise do papel que vem afetar brutalmente a toda a imprensa (nacional e estrangeira). O quilo de papel que, emPortugal, custava 8 centavos, disparava rapidamente para os 50.
"O Século" passará a custar 2 centavos (20$00 réis, um vintém), a partir de 1 de fevereiro de 1918. Era, a par do "Diário de Notícias", o jornal de referência dos lisboetas. A imprensa escrita tem o seu "boom" nesta época, que antecede a rádio (anos 20) e a televisão (anos 50). Apesar da censura imposta pela entrada de Portugal no conflito (a declaração de guerra da Alemanha contra Portugal data de 9 de março de 1916), é apenas pelos jornais que as famílias têm notícias do que se passa nos teatros de operações (na Europa e em África). Dado o seu custo, e a deficiência da cobertura da rede, o telefone era proibitivo.
Em 26 de fevereiro de 1917, a "Ilustração Portuguesa" custava (o número avulso) 10 centavos, não sendo portanto para todas as bolsas, estava apenas ao alcance da classes média, média alta e alta. (A edição de 4/2/1918 já custava 12 centavos e no final dos anos de 1918 e 1919, 15 centavos, passando a 20 centavos, no final de 1920. Na época (1917, o salário médio entre os rurais era de 60 centavos,diários, um pouco mais alto entre o operariado fabril. A inflação, por seu turno, torna- se "milionária": a valores atuais, o coeficiente de desvalorização moeda era superior a mil por cento: mais de 3 mil (para 1916), de 2,4 mil (para 1917) e de 1,7 mil (para 1918).
1. O fotojornalista Joshua Benoliel (1873-1932) é o autor deste "flagrante": antes da partida para França, no cais de embarque, em Alcàntara, dois militares do CEP estão anichados a um canto, junto a uma carroça, retirados do resto da tropa: vistos de perfil, um deles (lado esquerdo) escreve, em cima do joelho, uma carta ou um postal que outro camarada (à direita) lhe dita , e terá por certo como destinário a sua família, algures na terra...
É uma cena tocante, pela solicitude, pela camaradagem, pela entreajuda, pelo momento único de separação, saudade, angústia e incerteza, que representava para aqueles rapazes a partida para a guerra.
Na cobertura jornalística que fez da partida do CEP (Corpo Expedicionário Portuguès) para França, entre janeiro e outubro de 1917, o Joshua Benoliel privilegiou estes cenas mais intimistas da separação e da despedida.
De acordo com o censo de 1911, em 5,960 milhões de habitantes, 75,1% eram analfabetos, (68,4% dos homens e 81,2% das mulheres), com maior predominância nas zonas rurais.
____________Último poste da série > 4 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25033: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte VII: outra foto fabulosa, intimista, do Joshua Benoliel, na partida do CEP para França: uma jovem mulher despede-se do marido (ou do pai ?), com a mãe ao lado, de xaile; olha-o, olhos nos olhos, e com a sua mão direita afaga o pescoço do militar, que era do RI 14 (Viseu)
quinta-feira, 4 de janeiro de 2024
Guiné 61/74 - P25033: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte VII: outra foto fabulosa, intimista, do Joshua Benoliel, na partida do CEP para França: uma jovem mulher despede-se do marido (ou do pai ?), com a mãe ao lado, de xaile; olha-o, olhos nos olhos, e com a sua mão direita afaga o pescoço do militar, que era do RI 14 (Viseu)
Capa da Ilustração Portuguesa, II Série, nº 582, Lisboa, 16 de abril de 1917. (Edição semanal do jornal "O Século"; editor lit.: José Joubert Chaves; nº avulso: 12 centavos.)
1. Mais outra foto (ou "cliché") intimista do Joshua Benoliel, fotojornalista (1873-1932), considerado o pai da reportagem fotográfica em Portugal. Esta é outra foto fabulosa: uma jovem mulher despede-se do marido (ou do pai ?), com a mãe (presumivelmente) ao lado, de xaile, tapada dos pés à cabeça; olha-o, olhos nos olhos, e com a sua mão direita afaga o pescoço do militar, que era do RI 14 (Viseu); o gesto afectuoso, de ternura e de encorajamento, é surpreendente por ser em lugar público, e as mulheres portugueses estarem ainda longe de ter protagonismo na vida (e na via) pública; nenhum fotógrafo fez fotos como estas do Benoliel na despedida dos soldados durante a guerra colonial, no cais da Rocha Conde de Óbidos; não fez ou a censura estado-novista nunca terá deixado publicar.
Joshua Benoliel (segundo a Wikipédia):
(i) nasceu em Lisboa em 1873, no seio de uma família judia originária de Gibraltar;
(ii) fez a cobertura jornalística dos grandes acontecimentos da sua época: as viagens ao estrangeiro dos últimos dois reis portugueses; a revolução de 1910; as revoltas monárquicas durante a Primeira República; o CEP que partiu para França e combateu na Flandres durante a I Grande Guerra; a ditadura de Sidónio Pais...
(iii) as suas fotografias caracterizam-se pelo seu enfoque intimista e humanista
(iv) trabalhou para, entre outras publicações o jornal O Século, as revistas Illustração Portugueza, O Occidente (1878-1915), o Panorama (1837-1868):.
(v) em 1929, foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada;
(vi) morreu erm Lisboa em 1932.
quinta-feira, 28 de dezembro de 2023
Guiné 61/74 - P25010: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte IV: as mulheres que ficaram na retaguarda enquanto o CEP partia para França em 1917
Capa da "Ilustração Portuguesa", II Série, nº 580, Lisboa, 2 de abril de 1917. Edição semanal do jornal "O Século", Ed. lit: José Joubert Chaves. Com a devida vénia à Hemroteca Digital de Lisboa / Câmara Municipal de Lisboa.(*)
1. A partida de 60 mil homens do CEP (Corpo Expedicionário Português) para França, ao longo dos 3 primeiros trimestres de 1917, emocionou o país.
A participação portuguesa no esforço de guerra contra a Alemanha (que também ameaçava as colónias portuguesas em África, nomeadamente Angola e Moçambique) foi uma jogada geoestratégica e diplomática da República: ao lado dos aliados (França e Inglaterra), que iriam derrotar a Alemanha, Portugal conseguiu manter o seu "império colonial" e a jovem república portuguesa marcou pontos na Europa (e no Mundo). Mas a guerra iria tornar-se extremamemte impopular e dar origem origem a uma grave crise econónima e turbulência política. Em 28 de maio de 1926 o gen Gomes da Costa (1863-1929) (um dos heróis do CEP na Flandres) vai ser o carrasco da República, ao comandar a força rebelde, que marcha de Braga para Lisboa, onde entra vitorioso e sem resistência. Dava-se início à Ditadura Militar e depois ao Estado Novo (1933-1974) .______________
(*) Último poste da série > 25 de dezembro de 2023 : Guiné 61/74 - P25002: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte III: Comprando fruta antes de partir para a guerra: maia um feliz "cliché do Benoliel"...
segunda-feira, 25 de dezembro de 2023
Guiné 61/74 - P25002: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte III: Comprando fruta antes de partir para a guerra: maia um feliz "cliché do Benoliel"...
A 30 de janeiro, embarcaram em três navios a vapor britànicos, no Tejo, as tropas da 1.ª Brigada do CEP, comandada pelo general Gomes da Costa. Irão desembarcar passados 3 dias, no porto de Brest, na Bretanha, noroeste da França. A 22 de fevereiro seguiu um segundo contingente do CEP. E outros mais se hão de seguir até ao 4º trimestre desse ano.
O perimeiro soldado português a morrer em combate na Frente Ocidental Europeia foi o António Gonçalves Curado. A 4 de abril de 1917,
(...) "Em 3 de abril de 1917, a quarta companhia do Regimento de Infantaria 28 chegou à zona de Laventie, que deveria defender, em conjunto com as tropas britânicas. (...)( No dia seguinte, os alemães começaram a bombardear com morteiros as trincheiras, tendo uma das bombas caído sobre o abrigo onde se situavam António Gonçalves Curado e outros dois soldados portugueses. (...) Gonçalves Curado ficou gravemente ferido, acabando por falecer pouco tempo depois, enquanto que os seus dois companheiros apenas receberam alguns ferimentos ligeiros. (...)
"Na altura em que foi atacado, estava a escrever num livro de apontamentos, que sobreviveu, tendo a sua última entrada sido: 'Estou nas trincheiras da 1.ª linha a 100 metros dos boches. Caem granadas por todos os lados. Já tenho visto hoje a morte muitas vezes à roda de mi.. ' (...). A última palavra não chegou a ser concluída, devido à explosão que o vitimou." (...).
Era natural da Barquinha e tinha 22 anos.
Poste anterior:
24 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24996: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte I: Talvez a mais icónica foto do Joshua Benoliel (1873-1932): fevereiro de 1917, a despedida dos militares do CEP que embarcam no cais de Alcântara para França
domingo, 24 de dezembro de 2023
Guiné 61/74 - P24998: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte II: Outro "cliché" tocante do Joshua Benoliel (1873-1932): o adeus à família, por parte de um militar do CEP que parte para França
Nota do editor:
(*) Último pposte da série > 24 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24996: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte I: Talvez a mais icónica foto do Joshua Benoliel (1873-1932): fevereiro de 1917, a despedida dos militares do CEP que embarcam no cais de Alcântara para Françaterça-feira, 17 de outubro de 2023
Guiné 61/74 - P24763: Ser solidário (262): Fundação João XXIII - Casa do Oeste, Ribamar, Lourinhã: parafraseando Friedrich Schiller, "não temos em nossas mãos a solução de todos os problemas da Guiné-Bissau, mas perante os seus problemas temos as nossas mãos" - Fotogaleria (2014) - II (e última) Parte: agricultura, saúde e educação, três áreas-chave
Facebook da Fundação João XXIII - Casa do Oeste > Fotogaleria > 2014 > II (e última) Parte > A pacata vida em Ondame (a sudoeste de Quinhamel, capital da região do Biombo), onde se situa a Clínica Bom Samaritano - Centro materno-infantil de Ondame e a Biblioteca de Ondame (dois projetos apoiados pela Fundação), contrasta com a vida mais agitada de Bissau (de que se publicam as três últimas fotos acima).
Très projetos emblemáticos em que a Fundação João XXIII está (ou esteva, em 2014, à data desta documentalái fotográfica) empenhada.
Guiné > Região de Biombo > Carta de Quinhamel (1952) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Quinhamel, Ondame e rio Mansoa
Caro leitor: Para apoiar os projectos com a Guiné-Bissau pode depositar uma pequena oferta na conta da Fundação João XXIII - Casa do Oeste.
NIB:0033.0000.45308228096.05
IBAN: PT50.0033.0000.45308228096.05
SWIFT/BIC: BCOMPTPL
Nota: Os donativos terão recibo e serão considerados no IRS
Nota do editor:
Último poste da série > 16 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24760: Ser solidário (261): Fundação João XXIII - Casa do Oeste, Ribamar, Lourinhã: parafraseando Friedrich Schiller, "não temos em nossas mãos a solução de todos os problemas da Guiné-Bissau, mas perante os seus problemas temos as nossas mãos" - Fotogaleria (2014) - Parte I
segunda-feira, 9 de outubro de 2023
Guiné 61/74 - P24738: Manuscrito(s) (Luís Graça) (236): Da minha varanda virada para poente...
Nota do editor: