Mostrar mensagens com a etiqueta Madina Mandinga. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Madina Mandinga. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25371: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (38): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Batalhas com o PAIGC



"A MINHA IDA À GUERRA"

João Moreira


BATALHAS COM O PAIGC

1970/MAIO/14 - EMBOSCADA NO TRILHO DO MAQUÉ
O 2.º grupo de combate a sul do Maqué emboscou 2 guerrilheiros.
Apanhou 1 elemento ferido e 1 arma PPSH
O outro guerrilheiro fugiu.

1970/MAIO/26 - OPERAÇÃO JAGUAR VERMELHO
4.º grupo de combate em Bissancage.
Emboscamos 2 guerrilheiros.
Ferimos e apanhamos 1 guerrilheiro.
O outro foi ferido, mas fugiu.
Foi morto 1 soldado da milícia, por fogo da nossa tropa.

1970/MAIO/27 - OPERAÇÃO JAGUAR VERMELHO
1.º grupo de combate em Bissancage.
Matou 1 IN.
3 carregadores fugiram, deixando rastos de sangue.
Foi capturada 1 espingarda SIMONOV.

1970/MAIO/31 - OPERAÇÃO JAGUAR VERMELHO
2.º grupo de combate.
4.º grupo de combate.
Grupo de combate de milícias.
Trilho Morés/Madina Mandinga.
Às 06h30, 1 grupo de guerrilheiros accionou uma armadilha montada pelo 4.º grupo de combate, na véspera. Fizeram fogo com armas ligeiras, RPG e morteiro 61 para ver se denunciávamos a nossa presença. A nossa chefia caiu nesse logro, respondendo ao fogo deles e denunciando a nossa presença.
Às 10h00, quando esperávamos o reabastecimento de água, fomos atacados com morteiros, RPG e costureirinhas. Pelo poder de fogo deviam ser um grupo grande e bem armado.
Neste ataque tivemos vários feridos, entre eles:
- Capitão Moura Borges (Comandante da Companhia), com gravidade;
- Alferes Silva (comandante do meu 4.º grupo de combate), com estilhaços;
- Vários soldados e milícias com estilhaços.
- o capitão e o alferes foram evacuados por helicóptero para o Hospital Militar.

1970/JULHO/08 - PATRULHAMENTO A IRACUNDA E MANACA
1.º grupo de combate.
2.º grupo de combate.
2 secções de milícias.
Atacaram grupo IN que os perseguia.

1970/JULHO/13 - OPERAÇÃO BACARÁ
Golpe de mão a Amina Dala.
Helicanhão em alerta no Olossato.
1.º grupo de combate.
4.º grupo de combate.
2 secções de milícias.
Depois do 4.º grupo de combate fazer o golpe de mão, foi perseguido por um grupo de guerrilheiros.
Houve recontro com o IN, que vinha armado com RPG, armas automáticas e morteiros 61.
Pedida a presença do helicanhão o IN fugiu e deixou-nos chegar em paz ao Olossato.
Precisávamos bem desta protecção, porque o 4.º grupo de combate trazia cerca de 40 elementos recuperados.

1970/JULHO/17 - PATRULHAMENTO OFENSIVO A CANCUNCO
1.º grupo de combate.
? grupo de combate.
Atacou um grupo IN com 10 a 15 guerrilheiros, que ripostou com RPG e armas automáticas.
Sem consequências para as nossas tropas.

1970/DEZEMBRO/30 - GOLPE DE MÃO A CANJAJA
2 grupos de combate da CCAV 2721
2 grupos de combate da CCP 121
Confronto com 2 elementos da população armados.
Captura de 1 espingarda Mauser.
No regresso o IN bateu a zona com morteiro 61.

1971/MARÇO/29 - OPERAÇÃO URTIGA NEGRA (Patrulhamento ofensivo).
Às 07h30 as nossas tropas foram flageladas com armas pesadas e ligeiras.
Às 13h30 as NT detectaram e atacaram 1 grupo IN com 15 elementos.
Sem consequências para as nossas tropas.

1971/MAIO/?? - PATRULHAMENTO OFENSIVO A MARECUNDA
1 grupo de combate da CCAV 2721
2 grupos de combate da CCAV 3378
As nossas tropas foram flageladas com 2 granadas de morteiro 82, da região de Bancolene.

(continua)

_____________

Nota do editor

Último post da série de 4 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25337: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (37): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Ataques ao Quartel do Olossato e Nhacra

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23209: O Cancioneiro da Nossa Guerra (13): a "Spinolândia", com letra (parodiada) e música de "Os Bravos", de Zeca Afonso: uma preciosidade encontrada no sítio de "Os Leões de Madina Mandinga", a 1ª CART/BART 6523/73 (1973/74)




Guião do BART 6523/3 (Nova Lamego, 1973/74). 

Cortesia: coleção de Carlos Coutinho (2009)



1. No sítio dos Leões de Madina Mandinga - 1ª Cart / Bart 6523 (1973/74) fomos encontrar uma deliciosa cantiguinha satirizando o Spínola e a política "Por uma Guiné Melhor". 

A letra é uma paródia da uma canção tradicional da Ilha da Terceira, Açores, popularizada por Zeca Afonso (Os Bravos, in "Baladas e Canções", LP, 1964).

Para conhecimento dos nossos leitores, e enriquecimento de "O Cancioneiro da Nosssa Guerra", e com a devida vénia aos "Leões de Madina Mandinga" (e aos seus editores), tomamos a liberdade de reproduzir aqui a letra da "Spinolândia".  

Há outros versos que vale a pena ler, na secção "Cancioneiro", uma boa parte deles recolhidos pelo  António Costa, ex-fur mil. Como ele próprio diz, "na nossa casa de Madina Mandinga, durante o dia e parte da noite, sempre o nosso amigo Gaipo e a sua viola a animar as tropas com as suas canções. Obrigado, furriel Gaipo"(, de seu nome completo, José Graça Gaipo, a viver em Ponta Delgada). 

Não sabemos quem é o autor da letra. Nem muito menos a data, mas pelas referências (Gadamael, ataque a Bissau, foguetões, Santo António de Bissau), deverá ser de meados de 1973, quando o género António Spínola ainda era  o com-chefe e governadot-geral.

Spinolândia

Eu fui à Spinolândia,
Bravo, meu bem,
Pra ver se embravecia (bis),
Cada vez fiquei mais manso,
Bravo, meu bem,
Com os tiros que lá ouvia (bis).

A malta do comechefe,
Bravo, meu bem,
Não conhece Gadamael (bis),
Quando atacaram Bissau,
Bravo, meu bem,
Esgotaram o papel (bis).

Santo António de Bissau,
Bravo, meu bem,
De todos o mais casmurro (bis),
Quer do preto fazer branco,
Bravo, meu bem,
E do branco fazer burro (bis).

Qualquer pobre de Bissau,
Bravo, meu bem,
Daqueles com pouca roupa (bis),
Não está livre de apanhar,
Bravo, meu bem,
Com um foguetão na sopa (bis).

[ Revisão / fixação  de texto: LG  ]


Recorde-se, entretanto,  que o 1º sargento desta companhia era o nosso saudoso amigo e camarada Fern
ando Brito (1932-2014), que ainda entrou pelo seu pé na nossa Tabanca Grande, com o posto de major SGE, reformado... Era um grande fadista e foi um grande pai e avô para o nosso amigo Cláudio Brito... Fez duas comissões na Guiné, como 1º srgt, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e 1ª C / BART 6523 (Madina Mandinga, 1973/74), Era carinhosamente tratado pelos "leões de Madina Mandinga" por Ti Brito.


Ficha de unidade > Batalhão de Artilharia 6523/73

Identificação: BArt 6523/73
Unidade Mob: RAL 5 - Penafiel
Cmdt: TCor Inf João Damas Vicente
Maj Art Óscar José Castelo da Silva
2.° Cmdt: Maj Art Óscar José Castelo da Silva
Cap Art Carlos Alberto Ramalhete
OInfOp/Adj: Cap Art Carlos Alberto Ramalhete (acumulava)
Cmdts Comp: CCS: Cap SGE José Manuel Rijo | 1ª Comp: Cap Mil Inf José Luís Borges Rodrigues  (Lisboa,  1948 - Santarém, 2019) |2ª Comp: Cap Mil Inf Franquelim Bartolomeu Viçoso Vaz | 3ª Comp: Cap Mil Inf Rui Alberto Nunes dos Santos| Cap Mil Inf António Francisco Dias Vieira
Divisa: "Honra e Dever"
Partida: Embarque em 06Ju173; desembarque em 13Ju173 ! Regresso: Embarque em 07Set74

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, com as suas companhias, de 16Jul73 a 12Ag073, no CMl, em Cumeré, seguiu, em 13Ag073, para o sector de Nova Lamego, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com o BCav 3854.

Em 08Set73, assumiu a responsabilidade do Sector L3, com sede em Nova Lamego e abrangendo os subsectores de Madina Mandinga, Cabuca, Canjadude e Nova Lamego

Em 20Ju174, o subsector de Piche foi integrado na sua zona de acção, após desactivação do Sector L4. As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do batalhão até à extinção do sector.

Desenvolveu intensa actividade operacional, com realização de patrulhamentos, emboscadas, escoltas a colunas e segurança e protecção dos itinerários e das populações. As suas forças intervieram e colaboraram em acções de reacção a flagelações e ataques aos aquartelamentos e aldeamentos e na promoção socioeconómica das populações.

Comandou e coordenou a execução do plano de retracção do dispositivo e a desactivação e entrega dos aquartelamentos ao PAIGC, sucessivamente efectuadas nos subsectores de Madina Mandinga e Cabuca, em 20Ag074 e de Piche, em 29Ag074.

O comando do batalhão recolheu a Bissau em 29Ag074, a fim de aguardar o embarque de regresso, mantendo-se um pelotão da CCS em Nova Lamego até  sua desactivação e entrega ao PAIGC, em 04Set74.


***
A 1ª Comp seguiu em 13Ag073 para Madina Mandinga, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCav 3406. Em 08Set73, assumiu a responsabilidade do subsector de Madina Mandinga, com um pelotão no destacamento de Dara.

Com a retracção do dispositivo, efectuou a desactivação e entregaao PAIGC do aquartelamento de Madina Mandinga em 20Ag074 e do destacamento de Dara em 27Ag074, tendo seguido para o subsector de Bambadinca, na zona de acção do BCaç 4616/73, onde substituíu a CCSIBCaç 4616/73.

Em 02Set74 foi substituída pela 2ª Comp/BCaç 4616/73 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

***

A 2ª Comp seguiu em 13Ag073 para Cabuca, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCav 3404.

Em 08Set73, assumiu a responsabilidade do subsector de Cabuca, cedendo um pelotão para reforço da guarnição de Madina Mandinga.

Em 20Ag074, efectuou a desactivação e entrega do aquartelamento de Cabuca ao PAIGC e seguiu para o subsector de Xime, na zona de acção do BCaç 4616/73, a fim de substituir transitoriamente a CCaç 12, que fora entretanto extinta e onde se manteve até ser rendida pela 2ª Comp/BCaç 4518/73 em 31Ago74, tendo então seguido para Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

***
A 3ª  Comp seguiu em l3Ago73, para Nova Lamego, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCav 3405.

 Em 08Set73, assumiu a responsabilidade do subsector de Nova Lamego, cm um pelotão destacado em Cansissé.

Em 27Ago74, foi rendida pela 1ª Comp/BCaç 4518/73 e seguiu em  29Ag074 para Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações -  Tem História da Unidade (Caixa n." 122 - 2ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pp. 248/ 249.
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12747: In Memoriam (180): Fernando Brito (1932-2014), major art ref, ex-1º srgt, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e 1ª C / BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74)

(**) Último poste da série > 16 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20352: O Cancioneiro da Nossa Guerra (12): "Até p'ró ano outra vez", um "faduncho" do Francisco Santos (ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65; poeta popular de Sarilhos Grandes, Montijo): "Mas nós cá vamos passando, /As lembranças vão ficando, / Conservando alguma fé; / Nem que seja de bengala, / Eu reúno em qualquer sala / P'ra relembrar a Guiné"...

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12621: Tabanca Grande (421): Fernando Brito, ex-1º srgt art, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), e CCS/1ª C/BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74), hoje major reformado... Passa a ser o nosso 641º grã-tabanqueiro


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CSS/BART 2917 (1970/72) > c. 2º trimestre de 1970 > O jipe usado pelo 1º sargento Fernando Brito, avariado na estrada de Bambadinca-Bafatá, no regresso, depois das compras... Presume-se que ele tenha ido a Bafatá, integrado numa coluna, como mandavam as boas regras da segurança militar.


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CSS/BART 2917 (1970/72) >c. 2º trimestre de 1970 > o 1º srtg, sempre impecavelmente fardado, dá uma mãozinho na tentativa de resolver a arreliadaora avaria do seu jipe...Recorde-se que nesse tempo não havia telemóveis, e que  a distância entre Bambadina e Bafatá era de c. 30 km.

Fotos: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: L.G.]

1. Mensagem, com data de 15 do corrente,  de Cláudio Brito, em nome do seu avô Fernando Brito, maj art ref, antigo 1º srgt da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72):

[Foto à direita: O Fernando Brito e o neto, Claúdio Brito]


Muito Bom Dia,  caros ex-combatentes de um dos piores palcos de guerra que Portugal pisou,

Opto por expressar aqui a minha gratidão a todas as mensagens recebidas e ainda à informação concedida, sem dúvida de elevado valor pessoal para mim, pois trata-se do Homem que me criou, mas, igualmente, de importância histórica.

Um especial obrigado ao Doutor Luís Graça por ter telefonado ao meu avô e o ter feito o próximo membro dessa "grande tabanca".

O passado une-nos pela História e o presente pelo amor à mesma ciência. Não deve ser, sem dúvida, desprezada a História Pessoal e a Sociologia dos anos que cruzaram as ideias coloniais com os horrores da guerra e colocaram no jogo de xadrez, no campo de batalha, Homens (e Mulheres) com tanto em comum numa encruzilhada sem grandes respostas. Os personagens da História não são (só) os Grandes Chefes de Estado e os políticos de bastidores, mas, mais importante, também são os Homens e Mulheres que tornaram possível o desenrolar da História, são os anónimos que ficaram captados pelas fotografias e pelas fontes escritas da sua era. 

Como Historiador e Professor de História, todos os dias, sempre que tenho oportunidade ao dar explicações, demonstro isso mesmo aos meus discípulos, que a História é feita de Homens simples como nós que embarcaram em Grandes Empresas por esse mundo fora, sem saber o que esperar ou o que fazer.

O meu agradecimento pelo fado do cancioneiro e pela publicação [da minha naterior mensagem] no blog (*).

Já tenho algumas fotografias reunidas, que terei todo o prazer em partilhar com a "tabanca" e com o mundo, incluindo a fotografia tipo passe do meu avô, quando novo e já depois de reformado. É evidente que nem todas as fotografias, importantes fontes históricas pictóricas, retratam os temas de guerra no palco da Guiné, mas são pedaços da História, igualmente importantes, que, penso, irão gostar de ver.

Uma última mensagem: obrigado pelo apreço e disponibilidade demonstrada. A felicidade do meu avô também representa a minha felicidade :)

Os meus melhores cumprimentos,
Cláudio Brito

 2. Comentário de L.G.:

Cláudio, obrigado pelas tuas palavras e pela admiração e amor que dedicas ao teu avô. Presumo que ele não tenha endereço de email. Vais-lhe emprestar o teu. Os membros da Tabanca Grande precisam de ter um endereço de email válido, para nos podermos contactar uns aos outros. Fico a aguardar as fotos do teu avô. Aliás, ele prometei-me mandar um série de imagens dos seus diapositivos (de Bambadinca e de Madina Mandinga, terras por onde passou). Vê, com ele, o que pode ter mais interesse documental. Manda as imagens com a melhor resolução possível (mínimo, 0,5 MG).

Entretanto, ele está mais do que apresentado ao pessoal da Tabanca Grande. Sabemos que foi 1º sargento de artilharia na CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e depois foi também 1º srgt da  CCS/1ª C/BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74). Mais tarde fez o a escola de Águeda, e seguiu a sua carreira militar, até ao posto de capitão, tendo-se reformado como major.

Diz-lhe que ele passa a ser o membro nº 641 da Tabanca Grande (**), figurando o seu nome na nossoa lista alfabética, constante da coluna do lado esquerdo.

Explica-lhe também quais são os princípios da política editorial  do nosso blogue que é de partilha de memórias e de afetos. Diz-lhe que ele fica-nos a dever um ou mais histórias da sua vida na Guiné.

Mando-lhe uma do jipe dele, avariado em plena estrada (Bambadinca-Bafatá), em complemento das que já publiquei em poste anterior (*). Diz-que a foto doé do álbum do Benjamim Durães, o habitual organizador dos convívios anuais do BART 2917. Ele era fur mil op esp do Pel Rec Info.

Um grande abraço para ti e para o teu avô, o meu camarada e amigo Fernando.LG
______________

BLOGUE LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ: POLÍTICA EDITORIAL

As opiniões aqui expressas, sob a forma de postes ou de comentários, assinados, são da única e exclusiva responsabilidade dos seus autores, não podendo vincular o proprietário e editor do blogue, bem como os seus coeditores e demais colaboradores permanentes.

O nosso blogue é também uma Tabanca Grande. Originalmente, chamámos-lhe Tertúlia. Tabanca é um termo mais apropriado: nela cabem todos os amigos e camaradas da Guiné. É por isso é que é Grande.

Neste espaço, de informação e de conhecimento, mas também de partilha e de convívio, decidimos pautar o nosso comportamento (bloguístico) de acordo com algumas regras ou valores, sobretudo de natureza ética:

(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);

(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros; o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, o ciberbullying,  etc.;

(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir), extensiva à historiografia da presença portuguesa em África;

(iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);

(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;

(vi) recusa da responsabilidade coletiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;

(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da atual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);

(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;

(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome (e à reerva da intimidade);

(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.


PS1- Defendemos e garantimos a propriedade intelectual dos conteúdos inseridos (texto, imagem, vídeo, áudio...).

PS2 - Uma vez editados, os postes não poderão ser eliminados, tanto por decisão do autor como do editor do blogue, mesmo que o autor decida deixar de fazer parte da Tabanca Grande.

PS3 - Qualquer outra utilização desses conteúdos, fora do propósito do blogue (ou do nosso site na Net), necessita de autorização prévia dos autores (por ex., publicação em livro, programa de televisão, trabalho académico).

PS4 - Os editores,  colaboradores e autores que aqui escrevem têm total liberdade para seguir ou não o Novo Acordo Ortográfico. O fundador e editor principal segue o Acordo.


Luís Graça & Camaradas da Guiné, 31 de maio de 2006, revisto em 21 de janeiro  de 2014.
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12582: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (78): Informação sobre o ex-1º srgt Fernando Brito, da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), que é meu avô, está reformado como major e vive em Coimbra (Cláudio Brito)

(**) Último poste da série > 21 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12618: Tabanca Grande (420): José Cardoso da Silva Almeida, ex-1.º Cabo Mecânico Electricista do BENG 447 (Guiné, 1971/73)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12589: Memórias de Gabú (José Saúde) (38): Uma homenagem ao Major, aposentado, Brito, então 1º Sargento.


Um brinde com whisky entre o então 1º Sargento Brito, hoje Major, e claro, eu, José Saúde. As tabancas, ao fundo, retratam realidades num espaço distante onde as fortes e medonhas trovoadas se cruzavam com um cacimbo atroz e um arco ires que se sobrepunha a um horizonte belo, mas sempre carregado de incertezas. O calor sufocante hostilizava, também, as nossas vidas.


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

Uma homenagem ao Major, aposentado, Brito, então 1º Sargento 

As minhas memórias de Gabu


Revendo uma pequena parte do meu livro GUINÉ-BISSAU AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU

Uma homenagem ao Major, aposentado, Brito, então 1º Sargento 

Visita a Madina Mandinga

Foi um dia memorável! Uma visita amigável à 1ª Companhia do BART 6523 sediada em Madina Mandiga, apresentou-se como uma viagem tranquila e anteriormente impensável. As estratégias no terreno estavam definidas. O PAIGC e a nossa tropa haviam estabelecido princípios de entendimento e o medo da picada, e a sua imprevisibilidade, antes constatado, oferecia agora uma segurança absoluta.

Foi a um domingo e já em tempo de Paz que um grupo da CCS, em Nova Lamego, e a Companhia destacada em Madina, combinaram um jogo de futebol. Dois Unimog com malta que se entregava às jogatanas pontuais, e eis-nos perante o grupo disposto a desbravar conteúdos de uma picada onde a ondulação do capim se misturava com árvores de grande porte nascidas na exuberância da densidade do mato cerrado.

O resultado final não interessou, tão-pouco ficou registado nas minhas memórias. Não interessa! O único objectivo foi o amplo convívio verificado. O festim decorreu de forma cordial, trocaram-se impressões, comentou-se o último ataque a Madina, apontou-se para o sítio das valas que serviram de proteção aos ilustres soldados e recordou-se os locais onde os foguetões haviam caído. Pelo meio de dois dedos de conversa umas fotos para mais tarde recordar.

Dessa viagem, com o pessoal completamente dispensado das G3, bazuca, ou do morteiro 60, ficaram momentos inolvidáveis passados entre camaradas de armas que contemplavam a Paz agora sentida em toda a largura do terreno. Recordo, que a dita viagem entre as duas populações dista (va) cerca de 20 kms. Todavia, os quilómetros de picada assumiam-se como um osso duro de roer. Lembro que o percurso dividia-se entre o asfalto (alcatrão) e a terra batida.

Revivendo esse já longínquo convívio por terras da Guiné, recordo agora a forma desinteressada como fomos recebidos pelos ilustres anfitriões. Uma receção extraordinária, uns chutos numa bola já defeituosa, um almoço bem regado, uma cavaqueira que se arrastou ao longo da tarde, uma mesa cheia de bebidas e, finalmente, as despedidas aos companheiros de Madina que determinou, como foi evidente, o nosso regresso a casa emprestada.

O Cap. José Luís, sempre simpático, congratulou-se com a visita, mas foi com o 1º Sargento Brito que dissequei os momentos mais ávidos sentidos pela Companhia ao longo da comissão em Madina Mandiga. A talho de foice, e com toda a justiça o digo, que o 1º Sargento Brito era, e é certamente, um homem de se lhe tirar o chapéu. Gostei dele!

Soube, agora, através do ex Alferes Miliciano António Barbosa, um camarada de armas que integrava o nosso BART 6523 e que pertencia à 2ª Companhia sediada em Cabuca, que o então 1º Sargento Brito está, actualmente, aposentada como Major. Confesso que me congratulo por saber tão feliz notícia. Um abraço, e bem grande, meu Major. A vida, por norma, sorri-nos quando dentro de nós existem fatores humanos que suplantam o nosso querer, a nossa enorme vontade e o nosso egocêntrico ego.

Na minha guerra – Operações Especiais/Ranger, Lamego – evocava-se, com vaidade absoluta e estilo próprio, um grito (com a devida vénia e respeito) que arrepiava o mais incrédulo efebo da apelidada tropa “macaca”: “Vossa Excelência, meu Major, dá-me licença que evoque o seu bom nome para o colocar no meu Quadro de Honra?”. Creio, com certeza, que a resposta do meu Major será: SIM!

 
Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
____________


Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12582: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (78): Informação sobre o ex-1º srgt Fernando Brito, da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), que é meu avô, está reformado como major e vive em Coimbra (Cláudio Brito)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CSS/BART 2917 (1970/72) > c. 2º trimestre de 1970 > O então 1º sargento Fernando Brito, na estrada de Bambadinca-Bafatá às voltas, com o condutor e um outro militar, com um problema no motor do seu jipe.


Fotos: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: L.G.]



Coimbra > c. 2013 > Avô e neto, da esquerda para a direita, Fernando Brito e Cláudio Brito.

Foto: © Cláudio Brito (2014). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem do nosso leitor Cláudio Brito:

De: Claudio Brito

Data: 12 de Janeiro de 2014 às 15:47

Assunto: Informação sobre o Capitão Fernando Brito



Boa Tarde, Caro Sr. Luís Graça,


Observei com atenção o seu blog, no qual fala, entre muitas outras coisas, do meu avô, o Capitão Fernando Brito, reformado como Major e, na altura da comissão na Guiné, 1º Sargento [, da CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72]. Foi numa pesquisa que encontrei, para minha felicidade, esta página, o poste P9144.(*)

Congratulo vossas excelências pelo magnífico trabalho da História militar que no blog em causa executaram. Eu próprio sou formado em História, licenciatura e mestrado, e muito (se não quase tudo) devo ao meu avô.

Quero então informar, para atualizar o seu blog, que o Capitão Fernando Brito, por quem expressam carinho e saudade na página em causa, está vivo, tem 82 anos, está de boa saúde e continua a morar em Coimbra, no mesmo prédio, só o telefone é que mudou [Endereço a comunicar aos camaradas de Bambadinca, pelo correio interno da nossa Tabanca Grande, incluindo os orgnaizadores dos encontros do pessoal do BART 2917, L.G].

A minha avó, a senhora com o nome russo que falaram na página, Natacha, infelizmente morreu no passado dia 23 de Março do ano 2012. A juntar com a morte do meu pai (seu filho), a 9 de fevereiro de 2001, como devem entender, foram dois duros golpes para o meu avô que, para minha admiração, continua "rijo que nem um pêro", mantendo o físico e o verbo.

Pedia, se quisessem, pois o deixaria muito feliz, que lhe ligassem e falassem um pouco com ele ou mesmo que um dia se pudesse organizar um almoço ou convívio para relembrar algo que ainda o deixa feliz, os dias da tropa (e não da guerra).

Gostaria também de adquirir esse Cancioneiro, de que falam com tanto orgulho no blog :)

Deixo então as informações, aguardando uma resposta. Envio, igualmente, uma foto atual do meu avô comigo. Espero que gostem.

Os meus melhores cumprimentos e saudações

Cláudio Fernando Brito


2. Comentário de L.G.:

Meu caro Cláudio: Como costumamos dizer o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... Sem imodéstia: somos 636 "amigos e camaradas da Guiné", a maior parte combatentes. Acabei de falar, pelo telefone fixo que me deste, com o teu avô, e meu antigo camarada de armas de Bambadinca, onde estivemos kuntos cerca de 10 meses, entre maio de 1970 e março de 1971. Ele era o 1º srgt da CCS/BART 2917 e eu era o fur mil armas pesadas inf Henriques, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71). 

Reconheci-lhe a voz, de imediato, e perguntei-lhe se ainda cantava... Ele tinha uma bela voz de barítono... Continua, de facto, na mesma, em boa forma, pelo que me pareceu, à distância... Quarenta e três anos nos separam. Embora eu soubesse onde ele morava, em Coimbra, nunca mais nos encontrámos. Tentei, em vão, ligar-lhe algumas vezes. Foi graças ao teu mail, que acabo de descobrir o nosso Fernando Brito... E deixa-te tratar-te por tu porque os filhos e os netos dos nossos camaradas nossos filhos e netos são...

Falámos um bom bocado e eu confirmei aquilo que me transmitiste: a morte do seu filho e teu pai, num brutal acidente de viação, em 2001, e a perda, mais recente, da sua querida Natacha, sua esposa e tua avó. Foram dois duros golpes para a família, mas  também fiquei a perceber quanto ele te adora e admira.  Para ti, desejo boa sorte, em termos pessoais, académicos  e profissionais. Sei que gostas de história, como eu, oxalá tenhas oportunidade de trabalhar nessa área, como investigador e/ou docente.

Quanto ao teu avô, não sabia que ele tinha voltado à Guiné, para uma nova comuissão, desta vez em Madina Mandinga, na região do Gabu. onde terá apanhado "manga de porrada",  nos anos terminais da guerra. Também fiquei a saber que, depois da reforma, foi dirigente da Associação Académica de Coimbra – Secção de Futebol.

Para terminar, deixa-me dizer-te que eu convidei  o teu avô para integrar a nossa Tabanca Grande. Disse-me logo que sim, que teria muita honra. Prometeu-me ceder imagens dos seus diapositivos de Bambadinca e Madina Mandinga. Disse-lhe que tinha um lugar, o nº 637, à sua espera, para ele se sentar à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande (**). 

Muita saúde longa vida para ti, Fernando Brito.

PS - Quanto ao Cancioneiro de Bambadinca, para já só tem uma letra e uma música, o fado "Brito que és Militar"... Uma homenagem, na época ao teu avô (*)... Temos feito recolha de letras de canções de caserna, que cantávamos  durante a guerra colonial na Guiné. Pode ser que um dia  destes se publique um livrinho com esse material (ou uma seleção)... E nessa altura o fado "Brito que és militar" irá figurar nessa antologia...

______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9144: O nosso fad...ário (5): Fado Brito que és militar (Letra de Tony Levezinho, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

(**) Último poste da série > 15 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12297: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (77): Dois antigos camaradas da mesma unidade (CCAÇ 12), mas de épocas diferentes, sem grande tempo para se encontrarem em Lisboa, partem sábado, no mesmo avião, para Luanda, onde vão em trabalho...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Guiné 63/74 – P8862: Memórias de Gabú (José Saúde) (8): Guiné em tempo de paz: Visita a Madina Mandinga


1.   O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem para esta sua série, que, segundo ele me segredou, será parte de futuro um livro com o mesmo título. Também nos enviou mais 3 fotos do seu álbum de memórias, onde facilmente se deduz a sua amizade e empatia com os putos de Madina.

GUINÉ EM TEMPO DE PAZ: VISITA A MADINA

PASSEIO SEGURO À BEIRA DO ONDULADO CAPIM

Foi um dia memorável! Uma visita amigável à 2ª Companhia do BART 6523 sediada em Madina Mandinga, apresentou-se como uma viagem antes impensável. As estratégias no terreno estavam definidas. O PAIGC e a nossa tropa haviam estabelecido princípios de entendimento e o medo da picada, e a sua imprevisibilidade, antes constatado, oferecia agora uma segurança absoluta.

Foi a um domingo e já em tempo de Paz que um grupo da CCS, em Nova Lamego (Gabú) e a Companhia destacada em Madina, combinaram um jogo de futebol. Dois unimogues com malta que se entregava entretanto a brincadeiras pontuais, e eis-nos perante o grupo disposto a desbravar conteúdos de uma picada onde a ondulação do capim se misturava com árvores de grande porte nascidas na exuberância da densidade do mato.

O resultado final não interessou, tão-pouco ficou registado nas minhas memórias. Não interessa! O único objectivo foi o amplo convívio constatado. O festim decorreu de forma cordial, trocaram-se impressões, comentou-se o último ataque a Madina, apontou-se para o sítio das valas que serviram de protecção aos ilustres soldados e recordou-se os locais onde os foguetões haviam caído. Pelo meio de dois dedos de conversa umas fotos para mais tarde recordar.

Dessa viagem, com o pessoal completamente dispensado das G3, bazuca, ou do morteiro 60, ficaram momentos inolvidáveis passados entre camaradas de armas que contemplavam então a Paz agora sentida em toda a largura do terreno. Recordo, que a dita viagem entre as duas populações distavam cerca de 20 kms. Todavia, os quilómetros de picada assumiam-se como um osso duro de roer. Lembro que o percurso dividia-se entre o asfalto (alcatrão) e terra batida.

Revivendo esse já longínquo convívio em terras da Guiné, recordo agora a forma desinteressada como fomos recebidos pelos ilustres anfitriões. Uma recepção extraordinária, uns chutos numa bola já defeituosa, um almoço bem regado, uma cavaqueira que se arrastou ao longo da tarde, uma mesa cheia de bebidas e, finalmente, as despedidas aos companheiros de Madina que determinou, como foi evidente, o nosso regresso a Gabú.

O Cap José Luís, sempre simpático, congratulou-se com a visita, mas foi com o 1º Sargento Brito que dissequei os momentos mais ávidos sentidos pela Companhia ao longo da comissão em Madina. A “talho de foice”, e com toda a justiça o digo, que o 1º Sargento Brito era, e é certamente, um homem de se lhe tirar o chapéu. Gostei dele!

Soube, recentemente, através do ex Alferes Miliciano António Barbosa, um camarada de armas que integrava o nosso BART 6523 e que pertencia à 3ª Companhia sediada em Cabuca, que o então 1º Sargento Brito está, actualmente, aposentada como Major. Confesso que me congratulo por saber tão feliz notícia. Um abraço, e bem grande, meu Major. A vida, por norma, sorri-nos quando dentro de nós existem factores humanos que suplantam o nosso querer, a nossa vontade e o nosso ego.

Na “minha guerra” – Operações Especiais/Ranger, Lamego – evocava-se, com vaidade absoluta e estilo próprio, um grito (com a devida vénia e respeito) que arrepiava o mais incrédulo efebo da então apelidada tropa “macaca”: “Vossa Excelência, meu Major, dá-me licença que evoque o seu bom nome para o colocar no meu Quadro de Honra?”. Creio, com certeza, que a resposta do meu Major será: SIM!

FOTOS


Um brinde com whisky entre o então 1º Sargento Brito, hoje Major, e claro, eu, José Saúde. As tabancas, ao fundo, retratam realidades num espaço distante onde as fortes e medonhas trovoadas se cruzavam com um cacimbo atroz e um arco ires que se sobrepunha a um horizonte belo mas sempre carregado de incertezas. O calor sufocante hostilizava, também, as nossas vidas.

Três meninas, hoje senhoras, de Madina


Com um “mascote” apadrinhado nessa célebre visita a Madina. Atrás o Cap José Luís (de costas) e o Alferes Miliciano Santos, da minha Companhia.

Um abraço a todos os camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Fotos: © José Saúde (2011). Direitos reservados.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

1 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 – P8846: Memórias de Gabú (José Saúde) (7): “Piriquitos” exploram o centro “nevrálgico” da urbe guineense