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quarta-feira, 10 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25364: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XIV: Foi pela rádio, a BBC e outras emissoras, que a malta ouviu a notícia do golpe de Estado em Lisboa... Uns em Bissau, outros em Bissorã, Canssissé, Guidaje, Xitole...


Guiné > Região de Tombali > Sector S2
(Aldeia Formosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513
(Nhala, 1973/74) >  23 de Abril d
e 1974 > A última 
visita do Com-Chefe a um quartel no mato.
Foto (datalhe): António Murta  (2014)

1. Foi a BBC,  mas também   outras emissoras, estrangeiras ou nacionais, que deram as primeiras notícias do golpe de Estado que estava em curso, em Portugal, na madrugada do 25 de Abril de 1974. 

E foram naturalmente os nossos camaradas de transmissões os primeiros a aperceber-se de que algo estava a acontecer, "de anormal", em Lisboa... 

Na manhã de 26 de Abril de 1974, o gen Bettencourt Rodrigues seria destituído do cargo de governador e comandante-chefe e enviado para a Metrópole.(*)

Na nossa série "No 25 de Abil de1974 eu estava em...", temos cerca de 3 dezenas de depoimentos, com relatos, em primeira mão, e na primeira pessoa, do alvoroço que a notícia provocou  nos aquartelamentos do CTIG...


(i)  José Zeferino, ex-alf mil, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74)


(...) Xitole – 25 de Abril 1974 - madrugada, cerca das 6 horas:

– Zefruíno, alferes Zefruíno!!!

Era o Jamil, comerciante libanês com grande influência política, social e económica, tanto na Guiné como na restante família, árabe, dispersa por três continentes.

Estávamos a iniciar mais um patrulhamento, a dois Gr Comb, talvez à zona do Duá.

Na varanda da sua casa, tipo colonial, claro, estendiam-se fios de antenas que acabavam num rádio antigo, de válvulas, por onde estava a ouvir a BBC em árabe.

Diz-me:

– Zefruíno, o... (não me lembro, ou não quero, das palavras exactas) do Spínola está a fazer uma revolta.

O Jamil tinha tido um contencioso com o general Spínola: tinha querido transferir as suas casas de comércio na zona, para Bissau, no que foi impedido pelo general. Era uma base de apoio para as nossas tropas e para a população.

Foi assim que tive conhecimento do que se passava em Lisboa.

Regressámos de imediato ao quartel. Ficámos na expectativa nos dias seguintes. (...) (**)


(ii) Américo Marques (ex-sold trms, 3ª CART / BART 6523, Nova Lamego, Junho de 1973/ Setembro de 1974)

(Excertos do seu depoimento recolhido por telefone, em abril de 2007: na altura, ele era técnico de higiene e segurança no trabalho, nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo; na falta de uma foto do Américo Marques, um dos histórios do nosso blogue, reproduz-se à direita a imagem da igreja de Nova Lamego) (*)

Confundido e baralhado...

(...) A 3ª CART do BART 6523, estava colocada em Nova Lamego, enquanto ele foi destacado com um grupo de combate (25 homens) para Cansissé, a sul de Nova Lamego, a uma hora de caminho do Rio Corubal.

Ele era soldado de transmissões e, na noite de 24 para 25 de Abril de 1974, estava no seu posto, a sintonizar a rádio em Lisboa. Costumava fazer isso com muita frequência. Estava em contacto com todo o mundo. Os dias eram sempre iguais e custavam a passar. E as noites ainda pior.

Mas "nessa noite ficou confundido e baralhado: havia movimento de tropas em Lisboa, alguma coisa se passava de anormal"…

Foi assim que teve conhecimento do golpe de estado do Movimento das Forças Armadas que depôs o Governo de Marcelo Caetano. Foi logo informou os seus camaradas. Foi um alvoroço.

A vida em Nova Lamego e em Cansissé não voltou mais a ser como dantes. Apareceram logo uns “esquerdistas” (sic), até então muito caladinhos, a organizar o pessoal, a dar ordens, a fazer reuniões... A hierarquia e a disciplina militares começaram a ser postas em causas. Eram os "comités de soldados" (sic) que tomavam iniciativas. (...) (***)


(iii) João Dias da Silva, ex-alf mil op esp, Guidaje,  CCAÇ 4150 (1973/74)


(...) 25 de Abril de 1974 – Parece que hoje houve um Golpe de Estado Militar, em Lisboa.

Passámos todo o dia à volta do rádio, ouvindo as edições especiais da BBC em língua portuguesa, a tentar saber algo sobre o sucedido.

Por enquanto está tudo muito, muito confuso, pois todas as notícias são precedidas de "parece que" ou finalizadas por "não confirmado". Vive-se por aqui um certo estado de tensão por não se saber nada em concreto. Há que aguardar.

Pelas 22H45 chegou uma mensagem relâmpago confidencial do Com-Chefe (gen Bettencourt Rodrigues) a informar que corriam notícias que o Governo de Marcelo Caetano tinha sido derrubado, mas que eram só boatos (...) (****)


(iv) Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Agrupamento de Transmissões (Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74)

(...) Após grande agitação no Agrupamento de Transmissões, uns dois ou três dias imediatamente anteriores ao 25 de Abril de 1974, por parte de alguns oficiais que perguntavam com frequência se tinha vindo esta ou aquela mensagem, acordámos todos, os que não estavam de serviço, com a certeza de que algo se tinha passado na noite de 24 para 25 de Abril de 1974.

O nosso comandante, à data tenente-coronel, Mateus da Silva, tinha substituído interinamente o então Governador e Chefe Supremo da Forças Armadas Bettencourt Rodrigues. Esta situação manteve-se durante e até à chegada do Coronel, graduado em Brigadeiro, Carlos Fabião. (...)


Foi este o nosso despertar, no Agrupamento de Transmissões, no dia da revolução dos cravos. (....) (*****)

(v) Henrique Cerqueira (ex- fur mll, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, e CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74)


(...) Tinha ido eu com o nosso grupo de combate no dia 24 de abril de 1974 fazer mais um patrulhamento para a zona situada entre Bissorã e Biambe, o qual se prolongou por toda a noite e felizmente sem qualquer acontecimento a assinalar. Pese embora a nossa guerra noturna com os mosquitos tudo correu com normalidade. 

Pela manhãzinha foi a hora de regressar ao aquartelamento e,  como era normal,  a malta quando chegava a Bissorã dava uma passagem pelo bar dos Sargentos tanto para saciar a sede como para depositar o armamento mais pesado, pois que era nas traseiras do bar que havia a arrecadação de armamento.

Então nós nos deparamos com toda a malta junto de um pequeno rádio a ouvir notícias da BBC sobre os acontecimentos na Metrópole. Lembro-me que na altura se encontrava lá um elemento da PIDE/DGS e não se cansava de ameaçar o pessoal por estar a ouvir as ditas notícias (mal ele sabia o que o esperava).

Toda a gente ainda incrédula com a possibilidade do fim da guerra,  mas mesmo assim foi como se nada mais importasse e, a partir daí, começou logo a rolar cerveja a festejar. Eu até esqueci as ferradelas dos mosquitos da noite passada no mato.

Bom, depois de já convencido das mudanças na nossa política e com o fim á vista, lá me dirigi a casa onde me esperava a minha mulher e filho (pois que ambos viviam comigo em Bissorã) e dei a novidade, o que foi recebida com alguma incredulidade. É que dias antes tinha sido avisado que, devido ao agravar da guerra na Guiné, teria que mandar embora a família para a Metrópole que até já estaria um navio em Bissau de prevenção para a evacuação dos civis. (...) (******)



(****) Vd. poste de 14 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2939: No 25 de Abril eu estava em... (3): Guidage (João Dias da Silva, ex-alf mil op esp,, CCAÇ 4150, 1973/74)

(*****) 22 de novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3498: No 25 de Abril eu estava em... (6) Agrupamento de Transmissões, Bissau (Belarmino Sardinha)

(******) Vd. poste de 25 de abril de  2013 > Guiné 63/74 - P11470: No 25 de abril de 1974 eu estava em... (17): Bissorã, a ouvir as notícias da BBC, depois de regressar, de manhã, de um patrulhamento noturno (Henrique Cerqueira, Bissorã)

domingo, 24 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25302: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XII: Parece que houve um golpe de estado militar em Lisboa...

Mensagem: Relâmpago | Grupo Data Hora: 25Abr74 22h45 | De: Com-Chefe | Para: Geral (CTIG )

Fonte (e legenda):  © João Dias da Silva (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar (Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 


1.  Do poste P2939 (*), transcrevemos um excerto das notas pessoais do João Dias da Silva (**), ex-alf mil op esp, CCAÇ 4150 (Guidage, 1973/74):

(...) 25 de Abril de 1974

 Parece que hoje houve um Golpe de Estado Militar em Lisboa.

Passámos todo o dia à volta do rádio, ouvindo as edições especiais da BBC em língua portuguesa, a tentar saber algo sobre o sucedido.

Por enquanto está tudo muito, muito confuso, pois todas as notícias são precedidas de "parece que" ou finalizadas por "não confirmado". 

Vive-se por aqui um certo estado de tensão por não se saber nada em concreto. Há que aguardar.

Pelas 22H45 chegou uma mensagem relâmpago confidencial do Com-Chefe Bettencourt Rodrigues) a informar que corriam notícias que o Governo de Marcelo Caetano tinha sido derrubado, mas que eram só boatos, com o seguinte texto: 

Mensagem: Relâmpago | Grupo Data Hora: 25Abr74 22h45 | De: Com-Chefe | Para: Geral (CTIG)

AGÊNCIAS NOTICIOSAS INFORMAM QUE GOVERNO PROFESSOR 

MARCELO CAETANO FOI DERRUBADO POR MOVIMENTO DAS 

FORÇAS ARMADAS.  NÃO RECEBIDA QUALQUER COMUNICAÇÃO 

OFICIAL.  ADMITINDO QUE IN POSSA TENTAR EXPLORAR 

SITUAÇÃO INCREMENTO SUA ACTIVIDADE SUBVERSIVA. TODOS OS 

COMANDOS  DEVEM ADOPTAR MÁXIMA VIGILÂNCIA E GARANTIR 

PRONTA  CAPACIDADE REACÇÃO. COMANDANTES UNIDADES SÓ 

DEVEM  RESPEITAR ORDENS QUE RECEBAM APÓS RIGOROSA 

AUTENTICAÇÃO  SUA ORDEM. AUTENTICADO.


Transcrição manual da mensagem original, em impresso normalizado, recebido em Guidaje. 

(...) 26 de Abril de 1974 – Farim embrulhou às 6h00.

Continuámos a aguardar com certa ansiedade notícias daquilo que se está a passar na Metrópole quer no RCP (emissor do Movimento das Forças Armadas – é agora a emissora oficial), quer na BBC.

O gen Spínola deu uma entrevista sintética. Saiu o 1.º comunicado  oficial com o programa. É sensacional, se for cumprido integralmente. A situação ainda não está bem definida. Aguardemos. 

sábado, 14 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2939: No 25 de Abril eu estava em... (3): Guidage (João Dias da Silva, ex-alf mil op esp,, CCAÇ 4150, 1973/74)

Damos início a uma nova série (No 25 de Abril eu estava em...). Apelamos à contribuição de todos os que quiserem e puderem dar o seu testemunho, directo, pessoal, de como os acontecimentos foram vividos em 25 de Abril de 1974, na Guiné (vb).


O 25 de Abril em Guidage


Mensagem de João Dias da Silva (1) , de 27 de Maio último:

Meus caros,

O prometido é devido e aqui estou a dar sinal de vida.

Comemorámos há pouco mais de um mês o 34.º aniversário do 25 de Abril de 1974. Propositadamente utilizei a forma verbal comemorámos em vez de comemorou-se. É que este é muito impessoal, é sinónimo de algo que outros fizeram ou organizaram, enquanto que comemorámos significa que cada um se empenhou em comemorar aquele acontecimento da forma que melhor entendeu e pelas mais variadas razões, sejam elas quais forem, pela positiva ou pela negativa, pois cada um, desde aquela data, é livre de o fazer em obediência aos ditames das suas convicções e opiniões.

E refiro este aspecto porque me tenho apercebido que têm sido expressas no nosso blogue opiniões bem diferentes, antagónicas mesmo, acerca de diversos assuntos, por vezes de uma forma bastante apaixonada que, pensava eu, um período de 34 anos já teria moderado.

Os historiadores é que sabem quando afirmam que é necessário deixar passar sobre os factos o tempo suficiente para que haja um distanciamento tal que permita à razão sobrepor-se à emoção, ou seja, pensar mais com a cabeça do que com o coração.

De todo o modo, mesmo que se esgotem todos os motivos para comemorar o 25 de Abril, eu terei sempre pelo menos um para o comemorar – a minha comissão durou apenas um ano porque, entretanto, ocorreu a queda do regime.

É frequente ouvir-se ou fazer-se a pergunta: onde estavas no 25 de Abril? Eu estava em Guidaje.

O 25 de Abril em Guidaje e primeiras consequências

Respigando uma ou outra das minhas poucas notas pessoais e consultando alguns documentos (apenas as transcrições manuais feitas na altura, mantendo as pontuações e os erros ortográficos, porque os originais ficaram nas pastas de arquivo respectivas) os ecos do 25 de Abril chegaram a Guidage titubeantes, mas logo começaram a produzir efeitos.

Para nos situarmos, será bom relembrar que nesta altura a guarnição de Guidage era composta por duas companhias – a CCaç 19 (africana) e a CCaç 4150 – e um pelotão de artilharia.

25 de Abril de 1974 – Parece que hoje houve um GOLPE DE ESTADO MILITAR, em Lisboa.
Passámos todo o dia à volta do rádio, ouvindo as edições especiais da BBC em língua portuguesa, a tentar saber algo sobre o sucedido.

Por enquanto está tudo muito, muito confuso, pois todas as notícias são precedidas de "parece que" ou finalizadas por "não confirmado". Vive-se por aqui um certo estado de tensão por não se saber nada em concreto. Há que aguardar.

Pelas 22H45 chegou uma mensagem relâmpago confidencial do COM-CHEFE (Brig Bettencourt Rodrigues) a informar que corriam notícias que o Governo de Marcelo Caetano tinha sido derrubado, mas que eram só boatos, com o seguinte texto:





Mensagem vinda do Com-Chefe

AGÊNCIAS NOTICIOSAS INFORMAM QUE GOVERNO PROFESSOR MARCELO CAETANO FOI DERRUBADO POR MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS. NÃO RECEBIDA QUALQUER COMUNICAÇÃO OFICIAL. ADMITINDO QUE IN POSSA TENTAR EXPLORAR SITUAÇÃO INCREMENTO SUA ACTIVIDADE SUBVERSIVA. TODOS OS COMANDOS DEVEM ADOPTAR MÁXIMA VIGILÂNCIA E GARANTIR PRONTA CAPACIDADE REACÇÃO. COMANDANTES UNIDADES SÓ DEVEM RESPEITAR ORDENS QUE RECEBAM APÓS RIGOROSA AUTENTICAÇÃO SUA ORDEM. AUTENTICADO.
Transcrição manual da mensagem original, em impresso normalizado

26 de Abril de 1974 – Farim embrulhou às 6H00.

Continuámos a aguardar com certa ansiedade notícias daquilo que se está a passar na Metrópole quer no RCP (emissor do Movimento das Forças Armadas – é agora a emissora oficial), quer na BBC.

O Gen. Spínola deu uma entrevista sintética. Saiu o 1.º COMUNICADO oficial com o programa. É sensacional, se for cumprido integralmente. A situação ainda não está bem definida. Aguardemos. Recebemos uma MSG do COMCHEFE interino da Guiné (o Gen B. Rodrigues foi-se...).

27 de Abril de 1974 – É dia de descanso.

Saíram comunicados do Instituto Superior Técnico e da Conferência Episcopal dos Bispos reunidos em Fátima. Tudo parece encaminhado no melhor sentido e sem vítimas.

Ontem de manhã (soube-se hoje) o Batalhão de de Pára-quedistas de Bissau cercou discretamente o Palácio do Com-Chefe enquanto a PM mantinha a ordem no seu interior.

Entrou uma comissão pró-Movimento das Forças Armadas que obrigou o Gen B. Rodrigues a demitir-se. À tarde, acompanhado por um Brigadeiro e dois Coronéis (entre eles Vaz Antunes), que não aderiram ao movimento, embarcou escoltado por Páras para Cabo Verde onde todos estão exilados.
 
O Comodoro Almeida Brandão é o actual CMDT interino da Guiné e o Ten Cor Eng de TRMS Mateus da Silva o representante do Novo Governo na Guiné.

4 de Maio de 1974 – Fomos flagelados com armas pesadas.

Algum grupo de guerrilheiros do PAIGC, em deslocação do interior da Guiné, pelo corredor de Sambuaiá, para a sua base do Kumbamori (Senegal), provavelmente desconhecedor dos últimos acontecimentos políticos, aliviou-se do peso das granadas, até porque já estavam perto da fronteira, descarregando-as sobre nós.

26 de Maio de 1974 – A FORMAÇÃO da CCaç 19 entregou ao Cap Carvalho um comunicado que se encontra no "Dossier – GUINÉ".

Ex.mo CAPITÃO
Excelência

Com o maior respeito e compreensão, nós todos aqui presentes, que acabamos por compreender a situação indigna em que nos encontramos, e que queremos fazer tudo que seja natural para nos desembaraçarmos da mesma, pelo futuro melhor do nosso povo e do próprio povo português, decidimos desde então abandonar as Armas e ir participar na mobilização das massas populares da nossa terra.

Visto que é mesmo necessário fazer o nosso povo conhecer a realidade, a qual, foi-lhe sempre escondida e disfarçada durante longos anos de dominação fascista e colonialista. Queremos a Paz e para que haja tal é preciso uma independência da nossa terra. Aliás a independência é a maior aspiração do nosso povo, isto sabe-se mesmo na forma como eles têm lutado nos tempos presentes da Liberdade. E se tal é a vontade do nosso povo, nós não temos nenhuma razão de lutar conta quem a defende. Queremos pelo contrário, facilitar a obtenção de tais direitos de todos os povos do mundo.

Em nome do povo português e de todas as forças amantes da Paz, pedimos a Sua Ex.ª, a maior colaboração para atingirmos o nosso desejo pacífico. Esperamos com maior certeza que as autoridades competentes nos compreenderão.
Para terminar damos os nossos gritos de:

Viva o povo português
Viva a Paz
Viva a Junta de Salvação Nacional
Viva a Liberdade
Viva Portugal progressista
Glória ao imortal herói do nosso povo e de África:
Camarada AMÍLCAR CABRAL


O referido documento, segundo a transcrição manual que fiz na altura

28 de Maio de 1974 – Houve festa em Guidage.
Desde 1968 que não havia batuque devido à guerrilha, pois quando se fazia batuque havia, geralmente, um ataque, por isso...

31 de Maio de 1974 – Carta ao Cap Carvalho de DUKE DJASSY. Encontra-se no "Dossier –GUINÉ".

FRENTE S. DOMINGOS – SAMBUAIÁ

COMBANG'HOR, 31 MAIO 1974

Ex.mo Senhor
CMTE FORÇAS PORTUGUESAS
Em GUIDAGE

Em primeiro lugar os nossos mais sinceros votos de boa disponibilidade na recepção desta carta intrépida.

Tendo escutado, hoje, atentamente o vosso interlocutor, tomei conhecimento, e em nome do Comando Militar da nossa região, decidi rabiscar, no interesse de ambas as partes, as possibilidades que facilitarão o nosso eventual encontro. A vossa iniciativa desfruta grande admiração por nossa parte, que a única razão de nos estarmos batendo foi sempre e sempre será pela conquista da nossa dignidade e liberdade.

Nesta luta que escolhemos como única saída possível naquele momento de desespero, nela se encontra bem definida os interesses que nos identificam com o grande Povo Português, que aliás era vítima da mesma fera "o Colonialismo Fascista". Por isso ele, o Povo de Portugal, é o nosso primeiro aliado e hoje então é uma realidade.

Se o Sr. Comandante faz parte deste bom povo, é por certo que tecemos dos dois lados uma participação franca e de amizade neste contacto no futuro próximo.

Podíamos naturalmente, fazer os demais pormenores concernentes a este convite mas, claro está, não queremos que o mensageiro explore com astúcias as posições de ideias que nos unem e por isso preferimos fazê-lo depois de recebida a vossa resposta.

Sr. Comandante! Nós que não fazemos a guerra pela guerra, nós que nunca confundimos nem confundiremos povo com regime dum governo, nós que temos um critério eloquente entre o indivíduo e sistema político, a nossa participação nesta nova situação regional que ensaiamos criar, como aquele que no topo, em Londres, se desenrola.

A nossa parte não tem poupança de esforços no que se vai construir a Paz, que tudo ao nosso alcance será metido em acção.
Enfim, tudo depende do vosso lado, na espera duma resposta de confirmação e afirmativa.

VIVA PORTUGAL LIVRE!
VIVA O PAIGC!
QUE A VITÓRIA FINAL SERÁ DOS POVOS!
Obrigado prévio
Do camarada franco

a) DUKE DJASSY
Comissário Político Militar
CE 199 e 70

N.B. – Este, DUKE DJASSY, é a minha alcunha, porque o meu nome é Leopoldo António Luís Alfama


Carta-resposta a uma mensagem a solicitar um encontro (ou coisa do género, se bem me recordo, mas cujo conteúdo já não tenho presente, nem possuo qualquer documento), que o Cap. Carvalho (António Eduardo Gouveia Carvalho, Comandante da CCaç 19) fez chegar, através de um mensageiro, a DUKE DJASSY, Comissário Político do PAIGC.

1 de Junho de 1974 – Resposta do Cap. Carvalho. Encontra-se no "Dossier - GUINÉ".

GUIDAGE
1 Junho de 1974

CAMARADA DUKE DJASSY

Começo por pedir desculpa do tratamento que lhe dou no cabeçalho. Poderá parecer incongruente da minha parte tratá-lo por camarada, a si, que com todos esses bravos combatentes durante anos e anos consecutivos, no meio das maiores privações e sacrifícios, lutaram para conseguir a liberdade deste povo oprimido e explorado por todos os camaleões do antigo regime "Colonialista fascista" que no momento mais alto da história do meu povo, foi derrubado pela união das Forças Armadas – Povo.

Dizia eu, portanto, que não me sinto com a força moral necessária e suficiente de o tratar por "camarada", mas sinceramente é assim que me dá prazer tratá-lo. Era assim que eu gostaria de o ter tratado ao lutar na mesma causa comum, infelizmente as minhas afinidades familiares sobrepuseram-se aos meus ideais políticos e eis a razão porque me encontro num exército que durante anos serviu um governo opressor dos povos africanos que lutaram pela sua liberdade, LIBERDADE essa prestes a ser atingida.

Tentei, portanto, integrado num exército, lutar com palavras, palavras de mentalização aos homens que me estão confiados, tentando informá-los da verdade e da justiça duma guerra em que eles estão inseridos, única e simplesmente, pela falta de informação, que nunca lhes foi confiada e prestada, e o que é ainda mais desumano, comprados à custa de dinheiro.
Como concerteza está informado, é esse dinheiro com que o governo deposto comprou a consciência de milhares de guinéus, que faz com que alguns deles, mesmo agora, tenham uma certa relutância em aceitar a LIBERDADE e a INDEPENDÊNCIA pela qual os vossos valorosos combatentes se bateram.

Será que eles são culpados? Não, só esse governo odioso, poderá abarcar com todas as responsabilidades, pois esse mesmo governo, que montou toda a máquina económico-política para deformar e comprar a consciência humana. É por isso que eu admiro todos os homens que se conseguiram libertar das algemas que os acorrentavam.
Ao ver tão próxima a liberdade por nós desejada continuo na minha mentalização a esses homens enganados, estando convencido que estou a lutar por uma causa comum e é a única causa justa. Tentando dissipar possíveis animosidades criadas durante estes anos entre homens do meu povo que deveriam ter lutado em comum, e só o não fizeram pelo facto de terem sido levados por esses agressores dos povos.
Deve, portanto, camarada deduzir que é uma honra incalculável se conhecer e falar com um dos bravos combatentes desse glorioso Partido que é o vosso. Devido, portanto, à situação especial de Guidage, ter sob o meu comando uma Companhia Armada por homens do vosso Povo, acharia conveniente, se o camarada concordar, encontrarmo-nos, nesta primeira fase, em território senegalês, num local por vós escolhido.

Estando certo que sempre nos uniu a mesma causa, apesar das situações antagónicas em que nos encontramos, espero esse encontro com a maior ansiedade e a maior brevidade possível.

VIVA A REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU!
Viva o glorioso PAIGC!
VIVA PORTUGAL LIVRE!
VIVA A LIBERDADE ADQUIRIDA PELOS DOIS POVOS OPRIMIDOS!

Do camarada que sempre admirou a causa por que vos lutastes.

a) António Eduardo Gouveia Carvalho
Capitão Miliciano de Infantaria


2 de Junho de 1974 – Veio hoje a Guidage um carro civil de Carlos Vieira (irmão do Nino Vieira, que se encontra estabelecido em Binta com negócios diversos) vender/trazer mantimentos à população, o que não acontecia desde o início da guerra.

Proposta de Duke Djassy. Encontra-se no "Dossier – GUINÉ".

2 Junho de 1974

CAMARADA ANTÓNIO EDUARDO

Saudações fraternais

Acuso ter recebido ontem carta sua, a qual, causou grande emoção, tanto a mim pessoalmente, como a todos aqueles que tiveram a possibilidade de a ler.
Mas espero que o mais importante ainda será o dia da nossa entrevista.
Por isso, quero previamente prevenir-lhe, que estarei acompanhado com mais dois ou três camaradas responsáveis, os quais, não foram, todavia, indicados pela direcção do Partido.
Gostaria que esse encontro tivesse lugar no dia 5 do corrente mês a partir das 17.00 hora TMG (quer dizer, 4.00 horas da tarde na Guiné).
Mas caso o Sr. achar qualquer inconveniente no tempo e lugar escolhidos, convém assinalar logo.
O local será entre as tabancas senegalesas de BEILAN e SECONAIA.
Aceite um abraço do camarada amigo

a) DUKE DJASSY

Seguiu oralmente, através de mensageiro, a resposta do Cap Carvalho a solicitar que tal encontro se efectuasse junto à tabanca senegalesa de MARIÁ, pois aquelas estão muito longe, e a informar que ia acompanhado por mais colegas.

4 de Junho de 1974 – O Carlos Vieira quase todos os dias tem mandado uma camioneta para reabastecer o comércio civil.

5 de Junho de 1974 – À tarde lá foram (Dossier – GUINÉ) ao encontro, na tabanca senegalesa de MARIÁ:

- Cap António Eduardo Gouveia Carvalho – CMDT CCaç 19
- Alf Vítor Manuel Pereira Abreu – CMDT 3.º GR da CCaç 4150
- Alf Luís Socorro Almeida – CMDT 4.º Gr da CCaç 19
- Fur Lopes Pereira – Agente PIM em Guidage
- PATRÃO SONCO
- ANCHEU (FG 12) – Mensageiro, habitante de Mariá

com os elementos do PAIGC:

- DUKE DJASSY (Leopoldo António Luís Alfama, cabo-verdiano) – Comissário Político da Região S. Domingos – Sambuaiá
- MANUEL DOS SANTOS (MANECAS, cabo-verdiano) – Comissário Político da Zona Norte
- BRAIMA DJALÓ (Natural de Bolama) – Cap do Exército e membro do C.E.L.
- 2 CMDT DE BIGRUPO

Não possuo qualquer documento ou referência ao resultado deste encontro, nem me recordo de termos falado o que quer que fosse. Recordo, no entanto, que passados poucos dias o Comissário Duke Djassy veio ao Aquartelamento de Guidage, provavelmente para novo encontro. Nada sei da evolução destes contactos, até porque fomos para Bissau (COMBIS) no dia 4 de Julho de 1974.

15 de Junho de 1974 – À tarde houve um jogo de futebol entre os moços (12/13 anos) de Guidage e do Senegal. É de salientar o contraste: enquanto os de cá falavam mandinga (só falam português connosco e nem todos), os do Senegal falavam francês, correctamente. É sintomático...

1 de Julho de 1974 – Encontro na zona da bolanha de Nenecó (junto da fronteira com o Senegal, a norte de Bigene) entre PAIGC e COP3.

EM 011000JUL74, CMDT CE 199/E/70 QUECUTA MANÉ E SEUS COMISSÁRIOS POLÍTICOS DUKE DJASSY E MANUEL DOS SANTOS (MANECAS) ACOMPANHADOS DE ELEMENTOS ARMADOS DO PAIGC ENCONTRARAM-SE COM O CMDT, OFICIAIS E SARGENTOS DO COP3, NA REG. DA BOLANHA DE NENECÓ, ONDE FORAM DEFINIDOS NOS SEGUINTES TERMOS A SUA LINHA DE CONDUTA:

- Que se o Gen. Spínola visitar a Guiné dará origem ao reinício da luta.

- Que o cessar-fogo por parte do PAIGC é da responsabilidade dos combatentes, dado não terem recebido directivas do S. G. nesse sentido, pelo que poderão recomeçar a luta quando o entenderem.

- Pretendem estabelecer contactos permanentes com metropolitanos, tropas africanas e Pop., pelo que solicitam autorização para enviar equipas de Com. Pol. para GANTURÉ – BIGENE – BARRO e BINTA – GUIDAGE.

- Que consideram a guerra como último argumento e que condenam a violência.

- Que não reiniciarão a luta armada sem aviso prévio e com antecedência às NT.

- Não têm grande esperança em que o diferendo seja resolvido entre o Governo Provisório e o PAIGC pelo que a solução final deverá ser forçada pelas NT que prestam serviço na Guiné.

- Que inicialmente pretendiam apenas contactar quadros metropolitanos, mas que agora pretendem também contactar Tropas Africanas, no sentido de as mesmas entregarem as armas, deixando de colaborar com as NT.

- Não querem voltar à guerra mas que têm um objectivo a conseguir, pelo que serão novamente guerrilheiros se essa for a última solução para conseguir o seu objectivo.

Não sei o que foi tratado neste encontro, mas tive acesso a este documento, que parece ser, pelo seu conteúdo, um memorando de ideias/convicções apresentado pelos dirigentes do PAIGC presentes no encontro com pessoal do COP3 (Bigene), cujos nomes não recordo, mas que era comandado pelo Major Carlos Alberto da Costa Campos.

4 de Julho de 1974 – Deixámos Guidage e fomos para Bissau (COMBIS).

Não fora o 25 de Abril e certamente que esta viagem só teria ocorrido um ano, no mínimo, mais tarde.

E hoje fico-me por aqui. Voltaremos a encontrar-nos.

Um abraço do
JOÃO DIAS DA SILVA.
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Notas de vb:
Adaptação do texto da responsabilidade de vb;

(1) Artigo relacionado em
6 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2812: Tabanca Grande (66): João Dias da Silva, ex-Alf Mil Op Esp da CCAÇ 4150 (Guiné 1973/74)

terça-feira, 6 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2812: Tabanca Grande (66): João Dias da Silva, ex-Alf Mil Op Esp da CCAÇ 4150 (Guiné 1973/74)




João Dias da Silva
Ex-Alf Mil Op Esp
CCAÇ 4150
Cumeré, Bigene e Guidaje
1973/74


1. Em 21 de Abril de 2008, o nosso novo camarada João Dias da Silva enviava esta mensagem a Luís Graça:

Meu caro e amigo,
desculpe-me a familiaridade, Luís Graça.

Já há algum tempo que tive conhecimento deste blogue através de um amigo comum – o Albano Costa (CCAÇ 4150) –, mas, por esta ou aquela razão, que nem sei apontar, nunca me tinha predisposto a "fazer-lhe uma visita".

Antes de mais, uma apresentação muito sumária: chamo-me João Dias da Silva e fui alferes miliciano da CCAÇ 4150 (Cumeré, Bigene, Guidaje e Combis-Bissau), que nos finais de 1973 rumou a Guidaje e aí se manteve até meados do ano seguinte.

Em segundo lugar, quero manifestar, na sua pessoa, os meus sinceros e sentidos parabéns a todos quantos contribuem(ram) para esta página que é simplesmente fantástica (pelos conteúdos, pela apresentação, pela organização, pelo cuidado, enfim… pelo amor com que se fazem as coisas de que muito se gosta).
Muito obrigado.

Por último, a razão que, ao fim de tanto tempo, me levou a procurar-vos: é óbvio que a mola, que espoletou o impulso para quebrar a inércia, radica na Grande Reportagem sobre as exumações de Guidaje, que a SIC passou ontem no final do Jornal da Noite.

E porquê? Foi pena não ter sabido atempadamente, culpa minha por certo, de todo este movimento encabeçado pela Liga dos Combatentes, pois poderia, talvez, ter dado um pequeno contributo para complementar o croquis da zona das sepulturas.
É que, pouco depois de ter chegado a Guidaje fotografei o "Cemitério Militar de Guidaje", segundo a designação do citado documento, ou seja, pouco mais de meio ano sobre os enterros.

Embora tenha feito vários slydes nas áreas militar e civil, apenas um mostra especificamente o sítio das campas sinalizadas por cruzes de madeira.
Se, apesar de tudo, entender que poderá servir para algo, disponha.

Um abraço
João Dias da Silva


2. Em 24 de Abril de 2008 nova mensagem endereçada ao Blogue

Caros amigos

Com as visitas que tenho feito nos últimos dias ao blogue (o bichinho começa a corroer!) começo a aperceber-me do seu funcionamento e das normas de conduta e, a cada ida, mais visível se torna o trabalho hercúleo que ele representa, pelo que renovo os meus parabéns aos seus responsáveis directos, pois estão a prestar um grande serviço à comunidade em geral (acho que ninguém renega, ou pelo menos não deveria, renegar o seu passado) e, muito particularmente, a todos os que passaram pela Guiné.

Tal como já fiz em anterior contacto, repito a minha identificação João Dias da Silva, ex-Alferes Miliciano (Op. Esp.), n.º mecanográfico 11953971, CCAÇ 4150, Guiné, 1973/1974 e anexo as fotografias da praxe:

(1) Fotografia aposta na minha Carta de Identificação Militar, tirada no início do COM, em Mafra, e
(2) Actualmente.

Devo confessar que não sou um bom contador de factos/ocorrências passadas, não tanto porque não sou escritor, mas porque desenvolvo com muita facilidade mecanismos inconscientes de defesa que fazem com que facilmente se apague da memória tudo aquilo que provoca(ou) sofrimento. Aliás, no caso concreto, de quando em vez, há como que uns cliks sobre certos factos, mas que não sei bem se não terão mais a ver com narrações ouvidas aquando dos almoços da Companhia que vamos fazendo com alguma regularidade (não fora o empenho e o entusiasmo do Albano Costa e certamente que não seria tanto assim!) – o próximo, o XX Encontro-Convívio da CCAÇ 4150, será na zona de Fátima, já no domingo que vem, dia 27Abril –, em que situações vão-se clarificando ao jeito dum puzzle que se vai construindo.

Contudo, tenho algumas notas soltas, algumas fotografias e documentos, que irei retirar do fundo do baú (por certo que muitas delas já terão sido disponibilizadas/referidas pelo Albano Costa, sempre muito interessado em recolher tudo o que à nossa Companhia diga respeito – honra lhe seja feita! –, mas daqui também não vem mal ao mundo), e que porei à disposição de todos, dando mais um contributo, o meu, para a História que se está a escrever, para além de achar, pelo que tenho observado, que este blogue é um magnífico arquivo, na melhor acepção do termo.

Um forte abraço
João Dias da Silva


3. Em 29 de Abril de 2008, nova mensagem

Caros amigos
Em 23 de Abril de 2008, no "Guiné 63/74 – P2790: Quem pode ajudar a filha do nosso camarada Aliu Sada Candé?", o José Teixeira pedia informações sobre este comando africano.

Embora não tenha tido qualquer contacto ou relacionamento com qualquer destas pessoas, o facto é que estou a ler um livro que recentemente me ofereceram – referência bibliográfica: Bernardo, Manuel Amaro (2007) – Guerra, Paz e… Fuzilamentos dos Guerreiros. Guiné 1970-1980. Col. História Militar, Série Estudos e Documentos. Prefácio-Edição de Livros e Revistas, L.da. Lisboa. 402 pp. –, onde encontrei duas referências:

1.ª – pág. 80 - No Cap. V GRANDE ESFORÇO DE GUERRA EM 1973, ANEXO III Militares "Comandos" condecorados em combate na Guiné (Lista Provisória), ponto 3. Medalha de Cruz de Guerra (80+14/anter. refe.s aos das Torre Esp.), surge no 14.º lugar: "- Soldado Aliu Sada Candé – 1966.4"
A nota de rodapé 4 diz: "Fora graduado em Alferes e colocado na C.Caç. 21. Fuzilado em Bambadinca depois da independência."

2.ª – pág. 144 No Cap. VIII FUZILAMENTOS CLANDESTINOS NAS MATAS DA GUINÉ…, ANEXO III Lista dos Comandos Africanos Fuzilados na Guiné (Provisória), aparece na 22.ª posição: Nome, Posto / Colocação, Data/local fuzilamento Aliu Sada Candé 1, 4, 6 Inc. 6-5-1966 Alferes "Cmd" CCaç 21 (2.ª CCmds Af/74) n. 8-5-1944/Aldeia Formosa, Bambadinca.

As notas de rodapé indicam as fontes:
1 – Queda Sambú (quadro superior/dissidente do PAIGC, em 1987). "Ordem para Matar (…)". Lisboa, Ed. Referendo, 1989.
4 – Informação da Ass. Cmds.
6 – Em Junho/73 fora nomeado para a CCaç 21, extinta em AGO74, tendo regressado à CCmds onde pertencia (relação de documentos de matrícula em arquivo/ex-RCmds).

Que estas migalhitas possam ajudar o Zé Teixeira, lembrando-lhe que a esperança é a última a morrer (o povo é quem mais sabe!...).

Um grande abraço
João Dias da Silva


4. Em 3 de Maio o nosso Editor Luís Graça rtespondia ao João nos seguintes termos:

Meu caro João:
O Albano já me tinha falado em ti (tratamo-nos todos por tu aqui na nosa Tabanca Grande), como velhos camaradas que fomos e continuamos a ser... O teu texto e as tuas duas fotos chegaram em boas condições.
O Carlos Vinhal, meu co-editor, fará a gentileza de te apresentar, no blogue, ao resto do pessoal.

Obrigado pelo teu interesse, as tuas palavras amigas e amáveis, e o teu desejo de te juntares ao grupo, já extenso, de amigos e camaradas da Guiné.

Vamos fazer um III Encontro Nacional no dia 17´de Maio, em Monte Real, Leiria. Se quiseres e puderes, aparece. (Já agora, onde moras?).

Um Alfa Bravo
Luís Graça


5. Em 4 de Maio vinha a resposta

Luís e restantes co-editores
Obrigado pelo mail.
Folgo em saber que consegui atravessar com êxito esta "bolanha", já que os meus textos chegaram finalmente.
A apresentação na Tabanca Grande acontecerá quando tiver que acontecer, pois, imagino eu, terão muito material para ver e publicar.
Conforme as minhas disponibilidades e disposição irei mandando alguns contributos mais.

E, porque me perguntavas, moro em Coimbra.

E já agora, para vosso governo, acrescento que me aposentei em 31 de Julho de 2006, após 30 e tal anos de trabalho na Polícia Judiciária – em Lisboa, Coimbra, Açores/Ponta Delgada (Responsável pelo Departamento local) e Porto (Subdirector Nacional Adjunto) – e sou Licenciado em Geografia–Ordenamento do Território e Desenvolvimento.

Um forte abraço
João Dias da Silva


6. Comentário de C.V.

Caro Dias da Silva, chamo a isto uma entrada em grande.
Vamos aos elogios.
Tudo o que dizes sobre o nosso Blogue dá-nos uma certa vaidade pois a nossa ideia é que ele seja um arquivo histórico com narrativas e testemunhos na primeira pessoa e não o vulgar diz que disse que viu.

Pessoalmente não me revejo nos teus elogios, pois a minha colaboração passa despercebida. Grande homenagem temos que prestar ao Comandante Luís Graça que tomou em ombros tamanha tarefa.

Todos os membros da tertúlia estão igualmente de parabéns, porque cada um à sua maneira, contribui com as sua narrativas, avivando a memória colectiva e não deixando que se apaguem as páginas de um passado que não pode ser ignorado.

Portugal, como tantos países à época, era uma potência colonial e, o seu erro foi não programar a retirada dessas colónias, a tempo de evitar uma esperada guerra de libertação que iria custar milhares de vidas em ambos os lados das barricadas.

Obrigado pela tua colaboração em relação ao nosso ex-camarada Aliu Sada Candé. Faremos chegar estas informações ao Zé Teixeira.

Em nome da Tertúlia envio-te um abraço de amizade e boas vindas.
Não esqueças que assumiste implicitamente a obrigação de aumentares espólio do nosso Blogue.