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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25447: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5.ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte III



Timor Leste > Um pequeno país da CPLP (c. 15 mil km2, mais de 1,3 milhões de habitantes), ocupa a parte oriental da ilha de Timor. Independente desde 2002, esteve ocupada pela Indonésia desde final de 1975. Cerca de 10% da população terá sido morta durahte o período da ocupação indonésia (1975-2002). A
 população é predominantemente católica (c. 97%). Línguas oficiais: português e tétum, mas a língua mais falada ainda é o indonésio. E o inglês é uma língua de trabalho.  Dili é a capital e o município mais populosos (c. 200 mil  habitantes), Liquiça surge em 4º lugar (c. 20 mil).  O tétum é uma língua crioula, com muitos vocábulos malaios e portugueses, falada sobretudo em Díli. O analfabetismo ronda os 50%.  Presidente da República: José Ramos-Horta; primeiro-ministro: Xanana Gusmão.  


De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte III



Rui Chamusco e o seu amigo e 'mano'
Eustáquio. Foto: LG (2017)

Terceira crónica, enviada de Timor Leste, pelo Rui Chamusco, na sua 5ª estadia (fev/maio 2024).

Ele deve regressar a casa por volta de meados de maio. Mas até lá espera poder ultrapassar dificuldades burocráticas e falta de pessoal docente, problemas  que afetam  o funcionamento e o futuro da Escola São Francisco de Assis (ESFA), construída e apoiada pela                                                                                             ASTIL -  Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste.

A ASTiL, como projeto de solidariedade, começou a ser pensada em 23 de Dezembro de 2015 na Aldeia de Malcata, Sabugal. Como organização foi formalmente constituída, em 18 de Setembro de 2017, em Coimbra. A ASTiL é uma instituição privada de solidariedade sem fins lucrativos.

Ao fim destes anos, continua a lutar pela divulgação da língua e cultura portuguesa no interior profundo de Timor-Leste, em Manati-Boebau, Suco de Leotalá e Município de Liquiçá.  Para o efeito, já   construiu e inaugurou a Escola de S. Francisco de Assis Paz e Bem em Manati/Boebau com capacidade para 180 alunos, além da casa para os professores e a  cozinha escolar.  Apesar das suas dificuldades financeiras, assegura também o funcionamento da escola, mas luta  há muito com falta de pessoal docente. (LG).



16.03.2024, sábado - Há dias assim

Umas vezes parece que temos todo o tempo do mundo, outras vezes parece que o tempo não dá para nada. Hoje é daqueles dias que parece que nunca mais acabam. Nada previsto para hoje, nada a fazer a não ler, escrever e “matar” o tempo. Há ao menos tempo para descansar. 

Lá em casa tudo está calmo e tranquilo. Lá fora o barulho das crianças que brincam, com qualquer coisa que as entretenham, nem que seja a queimar uma garrafa de plástico. Os “motores” que passam apitando, com os canos de escape ruidosamente roncando, quebram a monotonia de quem não sai de casa. 

De vez em quando venho à varanda ver o que se passa, e logo as crianças que me avistam começam a Chamar: “Malae! Malae! Malae!...”  (Estrangeiro, em tetum.) Claro que tive de lhes acenar e dizer “adeus!...”

16.03.204 - Uma voltinha em “motor”

Desde março do ano passado que não andava de mota. Depois da aquisição da pickup nunca mais permitiram que isso acontecesse, com medo das mazelas que me pudesse causar. Mas hoje teve de ser, pois o Eustáquio foi ontem de mota para Boebau, e não tinha condutor para a pickup.

A professora Cristina mandou ontem à noite uma mensagem para nos encontrarmos amanhã no Pateo. Como a mota da casa estava ausente, falei com a Adobe sobre o convite da professora Cristina e pedi-lhe para ir comigo na microlete até ao local do encontro. 

Ela acedeu, mas adiantou logo: “Não, não vamos de microlete.(#) Vou pedir à tia Benedita que me empreste a mota dela, e vamos de motor.” E pronto, a Adobe que ainda não tem carta porque só tem 16 anos, mas que conduz muito bem e com muita segurança, mereceu logo o meu sim. 

Mais ou menos à hora combinada, aparece com a mota e dois capacetes, e lá vamos nós até ao Pateo. Foi uma manhã bem passada, bem diferente de estar em casa fazendo não sei o quê, talvez escrevendo. Obrigado, Adobe!

Bem-haja, professora Cristina!

21.03.2024, quarta feira  - Treino militar?...

“Que voz é esta que se está ouvindo através de grande amplificação sonora?” Perguntei eu a Adobe que chegava da escola. 

“É a instrução militar no quartel de Hera”,  respondeu a moça.

Com efeito, hoje durante todo o dia fomos agredidos com decibéis, que umas vezes eram vozes de comandos, outras eram o ribombar e o rufar de tambores, e outras até era a banda militar. Começou muito cedo com o toque do clarim, com o içar da bandeira que em Timor é algo moroso e espetacular, e continuou pelo dia a fora com as práticas afetas à instrução em causa.

 Não sei é por que se faz amplificação do som, de tal modo que aqui, em Ailok Laran , se ouvia com nitidez as vozes e os sons que comandavam. E dou comigo a pensar na marcha “O Magala” que o saudoso Max popularizou.

“Toca a marchar, andar a fartar / Se és bom militar galopa! / Anda pra frente / E mostra que és gente / E sabes andar na tropa!”

22.03.2024, quinta feira  - Contra os mosquitos marchar, marchar...

Luta inglória esta,  de perseguir adversários que tanto nos incomodam. Alguns quase invisíveis, que só nos damos conta deles depois da picada; outros que anunciam a sua chegada através de sonido irritante, as famosas melgas que até dão o nome a pessoas que não param de nos chatear. “És uma melga!...” 

Mas o pior ainda é quando, furiosos, nos lançamos a eles na certeza que, com uma palmada, os vamos esborraçar e, afinal, acabamos de nos agredir a nós próprios com uma valente bofetada. Até os mosquitos se riem!... 

Claro que temos as armas químicas que dão cabo deles. Mas, luta por luta, dão-nos um baile do caraças. Ouço alguém a cantar: “Não és homem p’ra mim...” Creio que nem o Dom Quixote de la Mancha nem o seu aio Sancho Panza nos poderão valer qualquer coisa. Aqui não há moinhos de vento, mas há muitos mosquitos contra que lutar. Contra os mosquitos marchar, marchar!...

23.03.2024. sexta feira  - O que foi que ele disse...! O que foi que ele disse...!

Hoje ao almoço, na troca de encontrar provérbios com a Adobe, apanhei este que diz tudo sobre o modo de ser timorense. Mais a mais são os chineses,  que por cá andam,  os“paizinhos” deste dito. 

Então o que é que eles dizem?... Aqui vai: “ os timorenses trabalham mas não suam; os timorenses comem e estão sempre a suar”. Este dito revela algo dos timorenses que, quem está por cá, pode observar. 

Mas não diz tudo. Qualquer ser humano em qualquer parte do mundo não está feito para trabalhar desalmadamente, de modo a não ver mais nada que o trabalho, custe o que custar. Por isso os timorenses, e não devem ser os únicos, preferem ir trabalhando, de modo a garantirem a sobrevivência, mesmo que seja com pouco. Quem estará certo?

Trabalhar para viver ou viver para trabalhar?

 Para a maioria das pessoas o trabalho em excesso serve para acumular riqueza, para ser maior do que o outro. Gente rica é outra  coisa! Nem que essa riqueza não seja usufruída nesta vida, que é efémera. “Ricos e pobres sempre os tereis connvosco”... E enquanto durar esta dicotomia teremos de conviver como podemos, suando a trabalhar e suando a comer.É assim a vida!... (...)

25.03.2024, domingo - A caminho de Boebau

Viagem programada, que nos leva de novo até às terras montanhosas do interior deste país. O caminho já é sobejamente conhecido, até por que agora só este dá acesso a Boebau. Depois do temporal que se abateu sobre estes montes, que derrubou árvores de grande porte sobre o caminho, levou telhados de casas e danificou os postes da luz, havia alguma apreensão sobre esta viagem. 

Pelo sim e pelo não, o Eustáquio fez o reconhecimento da passagem, em “motor”, e trouxe-nos a certeza de que, com algumas dificuldades, já se podia passar. E aí vamos nós (Adobe, Monízia, Fátima, Eustáquio e eu), de manhã, até Liquiçá, aonde tivemos algumas diligências a fazer.

25.03 - Tum-tum  pela 1ª vez

Quem conhece um pouco da vida de Timor sabe bem que os Tum-tum  são um meio de transporte muito peculiares: motor silencioso, decorações e música “ad libitum”, sem portas nem janelas, com quatro assentos, mas com lotação inesgotada. Cada cidade tem os seus, exceto Dili, a capital, que tem serviço de táxis tradicionais e os carros da Uber.

Por diversas vezes senti vontade de viajar neles, e é agora a ocasião. Como tivemos de parar em Lahuata para apanhar o professor Alarico, tomamos a decisão: o Alarico, eu, a Adobe e a Monízia vamos no Tum-tum; o Eustáquio e a Fátima vão na pickup

E que viagem agradável!... Sem pressas, sem stress, observando regaladamente a paisagem, o movimento, dando e recebendo os cumprimentos de “bom dia!” Poderei até dizer que, em Liquiçá, o movimento de tantos Tum-tum é um grande cartaz de visita. E, há sempre uma primeira vez...

Ao princípio da tarde foi a 2ª etapa da viagem, sempre a mais difícil, a mais dolorosa pelas dificuldades do caminho: o leito da ribeira, as curvas e contracurvas, o caminho estreito, a profundeza de buracos, os troncos das árvores, os precipícios, as paisagens vertiginosas. 

Mas chegamos sãos e salvos. Ok! Agora há que descansar e preparar a reunião de amanhã.

26.03.2024, segunda feira  - Reunião com os Pais e Encarregados

Hoje é dia que escolhemos para reunir as escolas São Francisco de Assis e a escola de Kilo, os professores, os encarregados de educação de ambas as escolas, chefes e ex-chefes do poder local, com o objetivo de apresentarmos uma proposta de colaboração, que depois de ser dada a conhecer a todos os presentes irá ser discutida e votada.

Seguidamente será entregue na Educação Distrital da Educação de Liquiçá, que a fará chegar ao Ministério da Educação de Timor-Leste, juntamente com a lista de presenças.

26.03.2024 - “Devagar que tenho pressa!”

Sempre a aprender... E nada adianta que temos de começar a horas, porque aqui é assim.

A reunião está marcada para as 9.00 horas, mas ninguém me sabe dizer a que horas vai verdadeiramente começar. As pessoas vêm para passar o tempo que for preciso, mesmo que seja o dia todo. 

Mas para isso há que assegurar a comida. Por isso o primeiro ato é o “matabicho”. Depois vem a reunião. E, depois da reunião o “almoço”. Por isso não adianta marcar horas. A gente junta-se para a reunião, mas também para conviver.  E está bem assim. Aqui, na montanha, temos todo o tempo do mundo. Talvez até porque há pouca gente com relógio. Os relógios roubam-nos o tempo porque o controlam.

26.03 - Proposta de colaboração aprovada

É com regozijo que verificamos o interesse e a vibração com que esta proposta foi acolhida. Ninguém se manifestou contra, e por isso foi aprovada por unanimidade.

Todos se manifestaram prontos a fazer o que lhes for possível para que ela se concretize, a saber: alargamento do ensino escolar com o pré escolar e o 1º ciclo na Escola São Francisco de Assis, e o 2º ciclo (5º e 6º anos) na Escola de Quilo. 

Será um benefício grande para a região, para as crianças e encarregados de educação, evitando que os seus alunos tenham de se deslocar para longe para continuarem a estudar. 

Se conseguirmos que esta proposta se concretize, já valeu a pena estarmos em Timor pela quinta vez.

26.03 - A anona mais saborosa

Não há nada que pague estes momentos. De tarde, frente à casa do Cesáreo, avisto uma árvore que, só pelo fruto, consigo identificar. No início quase impercetíveis, para logo aseguir descobrir anonas abundantes. 

Foi então que o Alarico, qual chipanzé trepador, sobe pela árvore afora procurando a anona mais madura. Que sabor! Que delícia! Que néctar divino! Foi com certeza a melhor anona que até agora já comi.

26.03 - Milho e mais milho... (Batar, em tetum)

Ao longo do caminho que percorremos até Boebau, fomos observando que, ao redor das casas por ali existentes, havia manchas amarelas em abundância. Quis saber o que era aquilo, e perguntei ao Eustáquio que, de repente me respondeu: “ Tiu, é batar, é milho que está a secar.”

 Alguma vez eu pensava que no mês de março se secava o milho!...

Com o fuso horário trocado, dou comigo a pensar que, em Portugal, estas tarefas dão-se no mês de setembro. Ficamos com os neurónios num oito. Isto pode lá ser!?... 

O melhor de tudo é esquecer esta disparidade e saborear este alimento tão generalizado no mundo, e base da alimentação de alguns povos. Que venha a broa de Portugal, que venha o  batardan  (##) de Timor-Leste, que venha o .......... do México! 

Amarelo, vermelho, branco, ou mesmo às cores. Milho verde, milho maduro, em grão ou em massaroca. Venha milho, e vira milho!...

27.03.2024, terça feira  - Afazeres em Liquiçá

A manhã foi passada com os alunos da Escola São Francisco de Assis, com atividades musicais, como é costuma sempre que por aqui estou. Depois do almoço na casa do Cesáreo,  descemos outra vez até Liquiçá, para a Direção da Educação Distrital, e fim de completarmos e entregarmos a candidatura a um programa de melhoramento dos espaços escolares. Pode ser que caia alguma coisinha para o nosso lado. 

Depois foi rumar até Dili, até Ailok Laran e encontrar o sítio tão desejado para fazer a toba (sesta), porque o cansaço já era tanto, que a vontade de chegar a casa era o nosso maior desidério.

28.03.2024, quarta feira  - Aqui, em Timor, é assim.

Quinta feira Santa, em Ailok Laran. Logo, bem cedo, me dei conta do movimento não habitual. Cá em casa, todos buliam na limpeza e arrumação dos espaços. 

Perguntei à Adobe o porquê desta agitação, e la pronto me deu a resposta: “Amanhã é sexta feira Santa, e não podemos varrer, nem cantar, nem fazer barulho”. 

E, por mais que eu tentasse fazer-lhe ver que isso não tem importância, que noutros países, noutras terras não era assim, ela manteve a sua postura e respondeu-me:  "Ok! Eu compreendo e sei que os costumes e hábitos de outras terras são diferentes mas,  aqui em Timor é assim".

Temos de respeitar e seguir a tradição”. E pronto! Não está cá mais quem falou. 

“ Ó tempora, ó mores!...” (###)

29.03.2024, sexta feira  santa - Meditando...

A vida e a morte. Independentemente de qualquer ideologia ou religião, temos a certeza de que tudo o que nasce há de morrer. Mas será que este destino é linear? Será que nascemos para morrer, só e nada mais? Será que o nascimento não será o princípio de tudo o mais que possa acontecer? Nascer somente para morrer para morrer parece-me demasiado trágico. 

Prefiro dar um sentido à morte, como uma passagem para outro modo de ser, seja ele qual for. Nem que seja para uma existência cósmica, para além do pó da terra. “Nada se perde: tudo se transforma” dizia Pascal. “Se a semente que cai naterra não morrer e germinar, não poderá dar o seu fruto”. 

“Por cada flor estrangulada há milhões de flores que florescem”. 

Hoje, dia em que os cristãos celebram a morte deJesus Cristo, quero acreditar que a morte tem sentido, sempre que ela traz transformação, salvação. Cristo Alfa e Ómega é ponto de partida e de chegada, segundo o antropólogo e teólogo Teillard de Chardin. 

Mesmo que não concordemos com muito do folclore religioso associado às celebrações religiosas destes dias, faz-nos bem pensar de que isto tudo não acaba por aqui. 

Que uma vida nova, melhor até do que esta que nos é permitido viver, é possível e desejável. E só assim consigo entender a atitude de São Francisco de Assis que, chamando irmãs a todas as criaturas, não se esqueceu de chamar também irmã à morte corporal. 

A fé é um dom que podemos ou não aceitar e cultivar. Quem puder acreditar, acredite.

31.03.2024, domingo - Páscoa de 2024

Hoje, dia de Páscoa de 2024, amanheceu com o sol radiante aqui em Dili. Toda a natureza exulta de alegria: as aves, sobretudo a passarada, as árvores que viçosas ostentam os seus ramos e as suas flores, as pessoas que, anafaiadas (####), percorrem as veredas e caminhos deste recanto. Tudo parece feliz, tudo canta...Tudo é vida! 

Neste país maioritariamente de religião católica, é fácil compreender a razão de todo estecontentamento. Jesus Ressuscitou! Nova vida, nova esperança para todos. A Páscoa é a certeza de que esta vida não acaba, apenas se transforma. A própria natureza, transborda este anúncio.

“Na natureza tu podes ver / o sol acaba sem medo / para o dia de novo nascer”. 

É este elã vital que habita em cada um de nós que nos transforma e nos faz querer ser homens novos, com capacidade de ajudarmos a transformar este mundo num mundo melhor. Feliz Páscoa!...

(Revisão / fixação de texto, para efeitos de publicação deste poste: LG)

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Notas de LG:

(#) Veículo privado de transporte colectivo de passageiros. Origem etimológica obscura

"microlete", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/microlete.

(##) Prato tradicional timorense à base demilho (batar)

(###) Frase latina, atribuída a Cícero: Que época, que costumes!

(####) Julgo tratar-se de um regionalismo beirão (o autor é do Sabugal...), derivado de "anafaia", do árabe... (Os primeiros fios que faz o bicho-da-sedaantes de formar casulo). 

"anafaia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/anafaia.

Para os leitores que se queiram associar a este projeto, aqui fica a conta solidária da Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (ASTIL) (Página do Facebook)

IBAN: PT50 0035 0702 000297617308 4

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Nota do editor LG:

sábado, 6 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24291: A língua que nos une: alguns dados (segundo o Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. ): (i) quarta mais falada no mundo como língua materna; (ii) a quinta mais utilizada na Internet; (iii) a terceira ou a quarta mais usada no Facebook...


Fonte: CPLP  -Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (2023) (com a devida vénia)

1. Dados sobre a Língua Portuguesa, segundo o Camões, IP:

(i) É uma língua falada por mais de 260 milhões de pessoas nos cinco continentes, em 2050 serão quase 400 milhões e em 2100 serão mais de 500 milhões, segundo estimativas das Nações Unidas;

(ii)  As projeções para o final do século apontam que será no continente africano que se registará o maior aumento do número de falantes. Estima-se que Angola tenha uma população superior a 170 milhões de pessoas e Moçambique uma população superior a 130 milhões de pessoas; 

(iii) É a língua mais falada no hemisfério sul; 

(iv) 3,7% da população mundial fala português; 

(v) É a quarta língua mais falada no mundo como língua materna, a seguir ao mandarim, inglês e espanhol (observatório da língua portuguesa). 

(vi) O português é a língua oficial dos 9 países membros da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – e em Macau. As 9 economias da CPLP, em conjunto, valem cerca de 2,7 biliões de euros, o que faria deste grupo a sexta maior economia do mundo, se se tratasse de um país (FMI); 

(vii) Os países de língua portuguesa representam 3,6% da riqueza total do mundo, 5,48% do global das plataformas marítimas, 16,3% de disponibilidade global de reservas de água doce, 10,8 milhões de km2; 

(viii)  A Língua Portuguesa é língua oficial e/ou de trabalho em 32 organizações internacionais (...):

(ix) Há 56 universidades na República Popular da China que ensinam o português como língua estrangeira e aproximadamente 5000 alunos que frequentam esses cursos; 

(x) O português é a quinta língua mais utilizada na internet, teve uma taxa de crescimento de quase 2000 % entre 2000 e 2017, é a terceira ou a quarta mais utilizada no Facebook

(xi) Na área da ciência, embora o inglês seja a língua dominante, a língua portuguesa tem conseguido criar os seus espaços próprios de comunicação e publicação científica.

 O Brasil criou a Scientific Eletronic Library Online, amplamente participada por países de língua portuguesa e espanhola. 

As revistas e cientistas de língua portuguesa também vão tendo presença crescente em outras bases de revistas científicas de alcance global, como a SCOPUS e a Web of Science. 

Há também vários repositórios académicos e portais de conhecimento de acesso aberto online, designadamente no Brasil, Cabo Verde e Portugal...

Fonte: Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. (Camões, I.P), Dia Mundial da Língua Portuguesa, 5 de Maio de 2023

Guiné 61/74 - P24290: Efemérides (393): 5 de Maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa, a sexta mais falada do mundo, depois do mandarim, espanhol, inglês, árabe, hindi e bengalês, à frente do russo, japonês e punjábi... É a língua mais falada no hemisfério sul...


Infografia: UNESCO (2023), com devida vénia

1. Comemorou-se ontem o Dia Mundial da Língua Portugesa, língua oficial de 9 países que formam a CPLP.

"A data de 5 de Maio foi oficialmente estabelecida em 2009 pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) - uma organização intergovernamental, parceira oficial da UNESCO desde 2000, que reúne os povos que têm a língua portuguesa como um dos fundamentos da sua identidade específica - para celebrar a língua portuguesa e as culturas lusófonas. Em 2019, a 40ª sessão da Conferência Geral da UNESCO decidiu proclamar o dia 5 de Maio de cada ano como "Dia Mundial da Língua Portuguesa".

A língua portuguesa é não só uma das línguas mais difundidas no mundo, com mais de 265 milhões de falantes espalhados por todos os continentes, como é também a língua mais falada no hemisfério sul.

O português continua a ser, hoje, uma das principais línguas de comunicação internacional, e uma língua com uma forte extensão geográfica, destinada a aumentar.

Os Dias consagrados às línguas faladas em todo o mundo celebram anualmente o multilinguismo e a diversidade cultural, e constituem uma oportunidade para sensibilizar a comunidade internacional para a história, a cultura e a utilização de cada uma destas línguas. O multilinguismo, um valor central das Nações Unidas e uma área de importância estratégica para a UNESCO, é um fator essencial para uma comunicação harmoniosa entre os povos, promovendo a unidade na diversidade, a compreensão internacional, a tolerância e o diálogo."


Fonte: UNESCO (2023)

2. Vd. aqui a mensagem do secretário-geral das Nacóes Unidas, António Guterres, em que assinala o Dia Mundial da Língua Portuguesa:

Para o primeiro secretário-geral de língua portuguesa na ONU, "a língua é, muitas vezes, o refúgio e a esperança dos mais vulneráveis - a esperança de serem ouvidos, de que as suas vozes contem, de não serem `deixados para trás`. A língua portuguesa é, também nisso, um bom exemplo, sendo partilhada e construída por populações em todos os continentes" (...)

(...) "Para os mais de 260 milhões de falantes nos países da CPLP e nas suas diásporas, a língua portuguesa continua a ser uma língua de mobilização em favor de uma renovada urgência na implementação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Precisamos de reafirmar esse empenho e essa esperança, em todas as línguas - e precisamos de passar das palavras aos atos".

Cerca de 260 milhões de pessoas falam hoje português nos cinco continentes e em 2100, esta língua vai unir mais de 500 milhões, segundo uma estimativa das Nações Unidas.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23544: Notas de leitura (1477): "A Guerra de Bissau, 7 de Junho de 98", por Samba Bari, um guineense diplomado em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada; Sinapis Editores, 2018 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Janeiro de 2020:

Queridos amigos,
É meritória a iniciativa de Samba Bari, coligindo e tratando de notícias que ele guardou, vivia no estrangeiro quando eclodiu o conflito político-militar. Claro que a bibliografia do conflito é hoje apreciável, mas é sempre estimulante acolher novos olhares. Pode haver poucas novidades, mas toda esta reportagem tem um fundo de melancolia, um anúncio de desaire, era inevitável que toda aquela destruição, o reacender de ódios entre velhos camaradas iria forçosamente apresentar uma dolorosa fatura que se chama de trauma. E não houve uma personalidade política capaz de conclamar a reconciliação e o andar para a frente, dentro de um estado de sincero perdão. Samba Bari fez bem em também socorrer-se da história oral, atenda-se ao depoimento que colheu a Hélder Vaz, hoje embaixador da Guiné-Bissau em Portugal, pleno de patriotismo e apegado ao bom relacionamento luso-guineense.

Um abraço do
Mário



Um guineense usa a reportagem para contar o conflito político-militar de 1998-99 (1)

Beja Santos

A obra intitula-se "A Guerra de Bissau, 7 de Junho de 98", o seu autor é Samba Bari, um guineense diplomado em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada que vive em Manchester, Sinapis Editores, 2018. Trata-se de mais um contributo sobre o conflito político-militar que devastou a Guiné-Bissau por cerca de onze meses. Sobre este conflito, Samba Bari entendeu socorrer-se dos órgãos de comunicação social, e baseado em todo este acervo noticiarista escreve um livro que é uma autêntica reportagem. Para o leitor interessado, lembramos que há obras literárias sobre o conflito, caso do esplêndido relato "Comandante Hussi", por Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira, Clube do Autor, 2011, Jardim Botânico, um romance de Luís Naves, Quetzal Editores, 2011 e vários relatos como "Bissau em chamas", de Alexandre Reis Rodrigues e Américo Silva Santos, Casa das Letras, Lisboa, 2007, "Crónica dos (des)Feitos da Guiné", por Francisco Henriques da Silva, Almedina, 2012, o "Conflito Político-militar na Guiné Bissau", por Guilherme Rodrigues Zeferino, IPAD, 2003, "Guiné – 24 anos de Independência, 1974-1988", por José Zamora Induta, Hugin Editores, 2001 e o estudo científico "Colapso e Reconstrução Política na Guiné-Bissau (1998-2000)", Lars Rudebeck, Uppsala, 2011 (versão portuguesa), isto para não esquecer "História(s) da Guiné-Bissau", de que sou autor, Edições Húmus, 2016.

O pretexto da reportagem tem a ver com o facto de Samba Bari ter vivido no estrangeiro esta guerra de pendor fratricida, pegou nos textos dos jornais guardados, recorreu à história oral e dá-nos o seu ponto de vista, sem alardes. Até 7 de junho de 1998, a Guiné-Bissau podia orgulhar-se, a despeito de se poder considerar ter um regime despótico, não ter sofrido de uma guerra devastadora, tudo ficara circunscrito, em 1980, a um golpe de Estado que afastou um conjunto de cabo-verdianos da cúspide do PAIGC, acontecimento que conduziu à separação da Guiné de Cabo Verde. O que começou em 7 de junho terminou em 7 de maio do ano seguinte, quando a Junta Militar, dirigida por Ansumane Mané chegou a Bissau e Nino Vieira, após se ter refugiado na embaixada portuguesa, partiu para o exílio. Conflito devastador do princípio ao fim, na derradeira batalha viam-se dezenas de corpos caídos por terra enquanto o palácio presidencial foi saqueado e incendiado. A violência não acabou nesse dia, Ansumane Mané terá sido executado em novembro de 2000, a cerca de trinta quilómetros de Bissau, outros elementos da Junta irão ser mortos, posteriormente.

Samba Bari elenca algumas das causas remotas e próximas que conduziram a um conflito que teve caraterísticas muito especiais: iniciados os tiroteios que marcaram a revolta, consciente de que à volta de Ansumane Mané estava a nata de todos aqueles que tinham lutado pela independência, Nino Vieira pediu apoio internacional ao Senegal e à Guiné-Conacri, jamais terá pensado que o armamento destes países e os respetivos militares irão personificar a sua derrota. O presidente, outrora carismático, ficou circunscrito a Bissau; a Junta Militar só lhe deixou saída para o mar e as principais estradas foram bloqueadas e o aeroporto tomado. Em poucos dias a capital esvaziou-se, o corpo diplomático fugiu, com exceção do embaixador português, os tiroteios iam destruindo infraestruturas, os hospitais não escaparam.

Samba Bari procura dar-nos o retrato do ditador, do seu círculo de fiéis, da ganância dos seus negócios, dos seus ódios de estimação, do trauma que provocou quando mandou executar Paulo Correia, 1.º Vice-Presidente do Conselho de Estado, Viriato Pã, Procurador-Geral da República, à frente de um rol de mais 44 acusados. A política externa de Nino era completamente errática, umas vezes do lado da China Popular, outras da Formosa, umas vezes com Israel e a Indonésia, o que criava mal-estar no seio da Organização da Unidade Africana e Portugal, no caso da Indonésia era inaceitável este estreitamento de relações quando Timor estava ocupado. Ao longo dos últimos anos o relacionamento com a chefia das Forças Armadas deteriorara-se. A causa próxima tinha a ver com o tráfico de armas para o Casamansa, uma região em permanente conflito com Dacar, um conflito étnico aparentemente insolúvel. Nino acusava Ansumane de ser o responsável pela venda clandestina de armas aos revoltosos, Ansumane dizia literalmente o oposto. E não havia grandes dúvidas de que nas primeiras eleições democráticas de 1994 a vitória de Nino sobre o seu adversário Kumba Yalá estava envolta de bastante batota. Ao destituir Ansumane Mané do cargo de Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Nino incendiou as Forças Armadas. No início desse dia 7 de junho, a casa do brigadeiro Ansumane Mané foi atacada a tiro, o brigadeiro Bric-Brac (seu nome de guerra) não estava lá, tinha ido convocar os seus fiéis homens de armas. Horas depois três fiéis de Nino caíram numa emboscada na estrada que liga o aeroporto ao centro da capital. Começaram os tiroteios, Nino desistiu de uma viagem ao estrangeiro, barricou-se no Palácio Presidencial.

O descontentamento nas Forças Armadas não podia ser maior, com salários em atraso, tinha havido o abandono das fileiras de centenas de militares, Ansumane foi à procura dos mais resistentes e operacionais. No interior, a população militar era flutuante. Por exemplo, o quartel de Gabú, poucos dias antes da guerra, tinha apenas um militar e o de Bafatá três. A Junta Militar recrutou todos os descontentes, muitos deles esperavam uma oportunidade para obterem o estatuto semelhante aos designados “Combatentes da Liberdade da Pátria”, que eram todos aqueles que tinham combatido o colonialismo português.

Samba Bari recorda o procedimento de António Guterres, da CPLP, do Comandante Hélder Costa, do “Ponta de Sagres”, que correndo os maiores riscos atracou no cais de Bissau para recolher os fugitivos; o comportamento do embaixador português que se recusou a partir e que se revelará um destacado chefe de missão, tentando que as conversações diplomáticas chegassem a bom porto; a tentativa da Gâmbia para um cessar-fogo, que falhou; uma entrevista a Hélder Vaz, então presidente do grupo parlamentar do Movimento Bâ-fata (e hoje embaixador da Guiné-Bissau em Portugal) sobre as razões da crise; o estado calamitoso das multidões em fuga, a criação de fundos humanitários, a propaganda de um lado e do outro, a tentativa do bispo de Bissau, D. Artur Septímio Ferrazzeta, que tentou improficuamente o diálogo entre as partes; a raiva que se ia apoderando dos revoltosos com a duplicidade da política francesa; a tentativa de mediação da CPLP que conduziu ao memorando de entendimento que foi rubricado em 23 de julho de 1998 a bordo da Fragata “Corte Real” e a desilusão posterior; e a oposição guineense a querer ver os senegaleses fora da Guiné. Entretanto, prosseguiram outras conversações, há a esperança de se ter chegado a um cessar-fogo. Esperança de pouca dura.

(continua)

Tanque abandonado, imagem da guerra civil de 1998-99
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23539: Notas de leitura (1476): BC 513 - História do Batalhão, por Artur Lagoela, execução gráfica no Jornal de Matosinhos, 2000 (2) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23339: Recortes de imprensa (123): Bubaque: alterações climáticas e educação ambiental (Excertos de reportagem de Carla Tomás, Expresso, 18 de abril de 2019, com a devida vénia...)




Guiné-Bissau > Região de Bolama-Bijagós > Ilhas de Bubaque e Rubane > 11-13 de dezembro de 2009 > Recantos, encantos e... armadilhas. Fotos do álbum de João Graça, médico e músico.

Fotos: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Cartaz do V Congresso Internacional de ed Educação Ambiental. Cortesia da página da ASPEA - Associação Portuguesa de Educação Ambiental.


1. Com a devida vénia à autora, a jornalista Carla Tomás, e ao editor, o semanário Expresso, tomamos a liberdade de reproduzir aqui alguns excertos de uma extensa e interessante reportagem sobre Bubaque, no coração do arquipélapo dos Bijagós, realizada aquando do V Congresso Internacional de Educação Ambiental.Crise Ecológica e Migrações: Leituras e Respostas da Educação Ambiental (Bijagós, 14.18 deabril de 2019).

A reportagem completa (incluindo as fotos da jornalista) pode ser vista, na íntegra aqui:

https://expresso.pt/sociedade/2019-04-18-Em-Bubaque-nos-Bijagos-pensa-se-como-a-educacao-ambiental-pode-ajudar-a-enfrentar-as-alteracoes-climaticas


Em Bubaque, nos Bijagós, pensa-se como a educação ambiental
 pode ajudar a enfrentar as alterações climáticas

Expresso > 18 de abril de 2019 20:04
Carla Tomás, jornalista


Num dos locais do planeta mais ameaçados pela subida do nível do mar e por fenómenos extremos, debate-se “ a crise climática e as migrações”. Mais de quatrocentas pessoas de quatro continentes trocaram experiências e saberes.

Manhã cedo ainda se sente o cheiro das fogueiras onde o lixo foi queimado ou ainda arde. Restos de plástico, pilhas e outros resíduos que não tenham sido limpos pelos abutres que pousam nos telhados, ou pelos cães, porcos ou cabras que andam pelas ruas, acabam incinerados ao lado das casas de adobe e telhado de zinco. Em redor das fogueiras veem-se crianças de roupas gastas e sujas a brincar sem a mínima noção das dioxinas que respiram.
 
Riem-se entusiasmadas com a enchente de gente de fora que inundou a ilha, Bubaque, capital do arquipélago das Bijagós, localizado a hora e meia de Bissau em lancha rápida ou a quatro horas numa espécie de ferry.

Entre 14 e 18 de abril, a pequena cidade de pouco mais de quatro mil habitantes recebeu o maior evento da CPLP organizado pela sociedade civil. Durante quatro dias, cerca de 416 pessoas — originárias de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e da Galiza — debateram “a crise ecológica e as migrações”, no quinto Congresso Internacional de Educação Ambiental, co-organizado, este ano, pela delegação guineense da Rede Lusófona e pela Associação Portuguesa de Educação Ambiental (Aspea).

(...) O arquipélago dos Bijagós e a costa ocidental da Guiné correm sérios riscos de ficar submersos com a acelerada subida do nível do mar. Esta “é uma ameaça muito relevante para a Guiné-Bissau”, confirma Meio Dia Có, técnico do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) perante uma plateia oriunda de quatro continentes que quer saber mais sobre estas ilhas. Sentados nas velhas secretárias de madeira do liceu de Bubaque trocam saberes e experiências.

(...) A memória recente do ciclone Idai, que devastou a Beira em Moçambique, serve de alerta face à urgência de agir na proteção do ambiente e de preparar ou adaptar os países mais vulneráveis face às ameaças que sobre eles pairam, lembram vários dos intervenientes. (...)

(...) A Guiné é um dos 10 países mais vulneráveis às alterações climáticas. Em Bubaque, uma das 21 ilhas povoadas deste arquipélago que resultou da subida de um delta, a erosão costeira já se faz sentir. Com a maré alta a areia quase desaparece das praias e os mangais (ecossistemas que servem de berçário a muitas espécies, de proteção costeira e também de sumidouros de CO2) já refletem a pressão.

Como se as divindades animista por que se regem já os tivessem advertido dos perigos que espreitam, nas ilhas mais isoladas, como Canhabaque ou Orango, as tabancas (aldeias) ficam distantes das praias, algumas a uma hora de distância a pé.

(...) A intrusão salina já começa a afetar os recursos aquíferos e os arrozais. As chuvas tendem a chegar cada vez mais tarde e em menor quantidade e a seca faz-se sentir afetando as hortas comunitárias. O que ainda melhor resiste são as palmeiras de cujo fruto, o chabéu, fazem vinho ou óleo de palma ou de cujas folhas, casca ou ramos fazem materiais para construção.

(...) “A gestão do espaço e dos recursos do arquipélago sempre foi feita pelo povo bijagó seguindo as regras transmitidas oralmente pelos anciães”, conta Meio Dia perante a plateia atenta. “Ser bijagó significa passar pela escola do mato e a comunidade participa na gestão do território e os régulos de cada tabanca transmitem as regras aos que nelas vivem”. Em algumas ilhas estabelecem-se “tabus”, ou regras mais restritas, para impedir a construção de novos resorts turísticos, o crescimento da agricultura intensiva ou a sobrepesca.

“Estes países africanos estão entre os mais vulneráveis. E se não se adaptarem rapidamente, muitas mais pessoas vão morrer”, alerta Luísa Schmidt, Investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e membro do conselho científico do congresso, reforçando que “a educação ambiental na escola pode ajudar na transformação”. (...)

(...) Mas aqui não se fala só de alterações climáticas. Investigadores, professores ou membros de organizações não governamentais assim como técnicos de entidades públicas ou até de empresas privadas apresentam os projetos que estão a desenvolver nos seus países ou em cooperação. Brígida Brito, investigadora na Universidade Autónoma,  explica como um projeto desenvolvido junto de uma comunidade de tartarugueiros de São Tomé e Príncipe conseguiu converter o seu modo de sustento. levando-os a parar de matar tartarugas e a passar a utilizar corno de cabra para fazer os objetos de artesanato que vendem a turistas.(...)

(...) Nesta ilha, onde não há água potável, nem saneamento básico, nem tratamento e recolha adequada de lixo, um guineense fica incrédulo quando Sofia Quaresma e Paula Sobral, da Associação Portuguesa de Lixo Marinho, explicam que o flagelo da poluição de plástico não se fica pelo que é visível, mas que é muito maior se pensarmos nos microplásticos ou nanoplásticos que resultam da degradação dos plásticos no mar ou das microfibras das roupas sintéticas que lavamos.

Durante os dias do congresso não se vê muito lixo pelo chão, nem nas praias dos hotéis. Em alguns pontos surgem amontoados, prontos para a fogueira. Um jovem da associação ambiental local Andorinha explica que recolhem alguns dos resíduos para diferentes fins: muitas garrafas de plástico e de vidro são reutilizadas por quem vai buscar água aos poços espalhados pelas ilhas ou por quem faz vinho ou óleo de palma, outras acabam compactadas e transformadas em blocos para construção. (...)

(...) Nesta troca de aprendizagens e de projetos novas ideias surgem. Janó Face Te, da associação de Jovens pela Produção do Ambiente, com sede em Bissau,  fica entusiasmado com a possibilidade de replicação do projeto da ONG portuguesa Educafrica, que promete levar luz elétrica a muitas aldeias que não a têm. Dirigido por Inês Rodrigues, uma professora em constante nomadismo profissional, o projeto iniciado em 2011 permite transformar uma simples garrafa de plástico numa lâmpada solar. (...)

Carla Tomás

[ Seleção / revisão e fixação de textos  para efeitos de publicação deste poste: LG ]

domingo, 2 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22869: Tabanca dos Emiratos (7): Expo' 2020 Dubai UAE - Parte II (B): A Presença dos Países da CPLP: Angola, Moçambique e Timor-Leste (Jorge Araújo)

 


“APONTAMENTOS” DA «EXPO 2020»

(DUBAI - 01Out2021 / 31Mar2022) 


PARTE II (B)

A PRESENÇA DE PAÍSES DA CPLP 

(Guiné-Bissau / Cabo Verde / São Tomé e Príncipe / Angola / Moçambique / Timor-Leste)



Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); nosso coeditor, a viver neste momenyo em Abu Dhabi, Emiratos Árabes Unidos.


3. – FOTOGALERIA DESTE “APONTAMENTO” (*)

(Continuação)



Foto 11 – «Expo’2021». Edifício do Pavilhão de Angola.


Foto 12 – Pavilhão de Angola. Espaço com diversos objectos de artesanato.


Foto 13 – Pavilhão de Angola. Espaço de animação musical.

Foto 14 – Pavilhão de Angola. Espectáculo musical com Gelson Castro.


Foto 15 – «Expo’2021». Pavilhão de Moçambique. Entrada principal do pavilhão.


Foto 16 – Pavilhão de Moçambique. Parede com vários quadros de proeminentes figuras nascidas em moçambique: o de Eusébio da Silva Ferreira “Rei Eusébio” (1942-2014) e o de José João Craveirinha (1922-2003), Prémio Camões de 1991


Foto 17 – Pavilhão de Moçambique.


Foto 18 – «Expo’2021». Pavilhão de Timor-Leste. Entrada principal do pavilhão.


Foto 19 – Pavilhão de Timor-Leste. Imagem de promoção turística 
com estátua do Cristo Rei, em Dili.


Foto 20 – Pavilhão de Timor-Leste. Manequim masculino com vestes tradicionais.



Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

Continua…



Termino esperando que este segundo apontamento de “reportagem” da «EXPO’2020» (*) tenha sido do vosso agrado.

Votos de um óptimo ANO de 2022, com muita saúde.

Com um forte abraço de amizade.

Jorge Araújo.

01Jan2022

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Nota do editor:

(*)  Vd.postes anteriores da série:

10 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22706: Tabanca dos Emiratos (5): Expo' 2020 Dubai UAE - Parte I: Uma das melhores exposições de sempre, sob o triplo lema da Sustentabilidade, MObilidade e Oportunidade (Jorge Araújo)

sábado, 1 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22864: Tabanca dos Emiratos (6): Expo' 2020 Dubai UAE - Parte II (A): A Presença dos Países da CPLP: Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe... (Jorge Araújo)



“APONTAMENTOS” DA «EXPO 2020»

(DUBAI - 01Out2021 / 31Mar2022) 


Foto 1 - Vista aérea do espaço da «Expo 2020» (Dubai) com destaque para a imponente cúpula da «Praça Al Wasl» (ao centro), com os seus 130 metros de largura e 67,5 metros de altura, sendo este último valor superior à da «Torre de Pisa» (Pisa, Itália), que é de 56,7 metros na sua parte mais alta, ou ao do «Arco do Triunfo» (Paris, França), que tem 50 metros de altura. (foto da Agência de Notícias dos Emirados, com a devida vénia – in: https://www.wam.ae/pt/details/1395302987723) 


PARTE II (A)

A PRESENÇA DE PAÍSES DA CPLP 

(Guiné-Bissau / Cabo Verde / São Tomé e Príncipe / Angola / Moçambique / Timor-Leste)






Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); um homem das Arábias: (i)  doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; (ii) professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; (iii) vive entre entre Almada e Abu Dhabi; (iv) autor, entre outras, da série "(D)o outro lado do combate"; (v) nosso coeditor, com mais de 300 referências no nosso blogue: (vi) oltou às "Arábais" em agosto de 2021, depois de passar uma parte da pandemia na terrinha natal...

Está de momento com menos disponibilidade para o nosso blogue devido a afazares acedémicos: tem, nomeadamente em mãos dois livros técnicos. Mas arranjou tempo para ir à Expo' 2020 e dar-nos um "cheirinho" do que lá se passa... Portugal e a lusofonia também lá estão... Aproveitamos para lhe mandar, a ele e à sua Maria, um "balaio" cheio de saudades, miminhos, chicorações, rabanadas e outras docinhos, com votos de um ano de 2022 cheio de realizações pessoais e profissionais.



1. - INTRODUÇÃO


Decorridos os primeiros três meses do calendário da «EXPO’2020» no Dubai, Emirados Árabes Unidos (UAE), que, como é do domínio público, teve de alterar a sua data inicial para o período de 1 de Outubro de 2021 a 31 de Março de 2022 (seis meses), devido à pandemia da COVID-19, voltamos a partilhar no Fórum da Tabanca Grande alguns “apontamentos” sobre esta “Exposição Mundial” que, segundo os entendidos no assunto, está considerado como o maior acontecimento do género até agora realizado.

Com um total de mais de duzentos pavilhões, onde estão representados cento e noventa e uma nações dos cinco continentes, estes encontram-se espalhados ao redor da «Praça Al Wasl» (foto 1) por três espaços temáticos – Sustentabilidade / Mobilidade / Oportunidade –, onde cada conceito, ou subtema da «Exposição», procura antecipar o que será (ou poderá ser) o mundo nas próximas décadas.

Durante o primeiro mês do evento (Outubro), a organização anunciou ter registado o número de 2.350.868 visitas, crescendo para 5.663.960 em 5 de Dezembro e passando para 7.167.591 em 20 de Dezembro, última cifra conhecida.

Outros números divulgados pela organização dão conta de que durante os dois primeiros meses (Outubro e Novembro) a “Exposição” foi visitada por 5.383 líderes governamentais, incluindo Presidentes, Primeiros-ministros, Chefes de Estado e Ministros. 

No mesmo período decorreram nos vários espaços do recinto 10.461 eventos. Neste dois primeiros meses foram registadas cerca de 455.000 viagens de táxis de e para a “Exposição”; 600.000 viagens de serviço gratuito de autocarros Expo-Rider e 2.2 milhões de utilizadores que se deslocaram à «EXPO» através do Metro do Dubai.

Quanto a visitas virtuais os números atingiram os 25 milhões no mesmo período, devido à grande procura do Live@Expo, aumentando para 31.6 milhões em 20 de Dezembro último, consequência das inúmeras reportagens produzidas pelo universo dos «mídia» (jornais, revistas, televisão, rádio e internet) que diariamente visitam e divulgam informações sobre o evento.

Ainda que a maioria dos visitantes residam nos UAE, são alguns milhões aqueles que viajam do exterior oriundos dos vários continentes. Por exemplo, durante o mês de Novembro, 28% dos visitantes vieram de fora dos Emirados Árabes Unidos, designadamente da Índia, França, Alemanha, Arábia Saudita, Reino Unido, entre outros.

Por outro lado, segundo julgo saber, o conjunto dos diversos meios de comunicação do nosso País (jornais e canais de televisão) têm vindo a disseminar informações sobre este grande acontecimento mundial.

Em função do parágrafo anterior, os “apontamentos” narrados nesta PARTE II dizem respeito, apenas, a imagens obtidas durante as visitas que efectuámos aos pavilhões de seis países membros da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), acima identificados. 

Desses países, só Angola está instalada em pavilhão próprio, enquanto os restantes cinco (certamente por falta de recursos!?) dividem os espaços com outras nações. Neste caso, cada edifício construído em alvenaria foi dividido em quatro partes, onde se observa uma autonomia na gestão do mesmo.

2. – O “PASSAPORTE ESPECIAL” COMO RECORDAÇÃO DA EXPO

Tal como vem acontecendo desde 1967, ano em decorreu a «Exposição Mundial de Montreal», (Canadá), onde surgiu pela primeira vez o “passaporte especial”, também a organização da «EXPO’2020» manteve a edição do seu exemplar.

A criação deste documento serve, desde sempre, de estímulo para os visitantes, que querem ver e acompanhar todos os pavilhões internacionais que visitam, gravarem os carimbos de cada um como lembrança, para memória futura.

Recordo aqui os dois “passaportes” que ainda guardo como lembrança, por neles ter participado: o 1.º da «EXPO’92», em Sevilha (Espanha), e o da «EXPO’98», em Lisboa (Portugal).

A versão do “passaporte” da «EXPO’2020», de cor amarela, foi inspirado na herança dos UAE, ligando o passado ao presente. Nas suas 50 páginas contém desenhos e fotos dos três Pavilhões Temáticos, bem como da Praça Central «Al Wasl» e de outros marcos da cidade do Dubai (conforme exemplos abaixo: capa e uma folha interior com os carimbos do Paquistão, Bahrain e das Honduras).



O “passaporte” é personalizável, com recursos de segurança bem pensados, com número único, uma área para incluir uma foto, tipo passe, detalhes pessoais e imagens com marca d’água colocadas em cada uma das suas páginas, garantindo que não haja dois documentos iguais.

Reprodução dos carimbos dos seis países (adaptado a moeda/medalha).



3. – FOTOGALERIA DESTE “APONTAMENTO”


Porque o espaço disponível não é ilimitado, as fotos que seguidamente se apresentam foram aquelas que me pareceram serem as melhores para enquadrar este trabalho relativo às visitas aos pavilhões dos seis países em título.  


Foto 2 – «Expo’2021». Pavilhão da Guiné-Bissau. Os responsáveis de serviço naquele dia: a Djanaina Turpin e o Júlio Sanhá, acompanhados pelo repórter.


Foto 3 – Pavilhão da Guiné-Bissau. Banco oval existente na parte superior do salão, em forma de «L» invertido, enquadrado, numa das paredes, por painel de imagens da GB


Foto 4 – Pavilhão da Guiné-Bissau. Painel com mais fotos e um manequim feminino vestido com traje regional.


Foto 5 – Pavilhão da Guiné-Bissau. Foto ampliada retirada da imagem anterior.


Foto 6 – Pavilhão da Guiné-Bissau. Foto ampliada retirada do painel da imagem anterior.


Foto 7 – «Expo’2021». Pavilhão de Cabo Verde. Entrada principal do pavilhão.




Foto 8 – Pavilhão de Cabo Verde. Painel de promoção turística, onde a cadeira/espreguiçadeira colocada em zona frontal desempenha uma função


Foto 9 – Pavilhão de Cabo Verde.  
O mesmo painel da imagem anterior e a função da cadeira/espreguiçadeira


Foto 10 – «Expo’2021». Pavilhão de São Tomé e Príncipe. 
Expositores com vários produtos locais.

Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Continua: Parte II(B), com fotos da representação de Angola, Moçambique e Timor-Leste

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Nota do editor: