sábado, 20 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25415: S(C)em Comentários (34): As valentes mulheres de São Domingos, no Cacheu, que em 2006 queriam aprender a ler e a escrever



Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desemvolvimento > Foto da Semana > 17 de dezembro de 2006

Legenda:

"Maria de Lurdes é uma das mulheres de S.Domingos que decidiu aprender a ler e a escrever, como forma de melhorar a sua capacidade de intervenção numa vida profissional mais activa.

"Ela, conjuntamente com mais outros 45 pais filiados na Associação dos Afilhados de Elx, frequentam actualmente dois círculos de alfabetização que decorrem no Centro de Formação Rural (CENFOR) de S.Domingos todos os dias da semana.

"Inicialmente previsto para apenas 20 participantes, o interesse demonstrado pelas pessoas que não sabem ler acabou por ultrapassar todas as expectativas mais optimistas, sendo gratificante notar que, a nível da Guiné-Bissau, existe uma enorme procura de cursos de alfabetização funcional."


Fonte: Internet Archive > AD Bissau (com a devida vénia...)

PS - O link original foi descontinuado: http://www.adbissau.org/adbissau/fotodasemana/2006.12.17.htm

A página antiga da AD desapareceu... Deixou de estar em linha. Erro ou desleixo humano, falha técnica ? ... É uma pena, em qualquer caso. Sinal dos tempos... Era animada pelo Pepito (1949-2014) que também nos deixou. Ficámos órfãos, os amigos e a AD.

A AD tinha (e tem)  sede no bairro do Quelelé, tal como a  casa do Pepito e da Isabel Levy Ribeiro.  

Sobre a ONGD AD, fundada pelo Pepito, em 1991,  e mais uma cinquentena de guineenses, recorde-se alguns fados: 

(i) em 2012, em termos de recursos financeiros, mobilizava mais de 542 milhões de CFA, o equivalente a cerca de 827 mil euros (1 euro=655,957 CFA); 

(ii) metade dessas receitas era proveniente de fundos da União Europeia; 

(iii) dava trabalho a cerca  de 4 dezenas de técnicos e profissionais; 

(iv) tinha um significativo impacto na vida de diversas comunidades onde desenvolvia projetos (Bissau ( Quelelé,  São Domingos, Cacheu, Cantanhez); 

e, por fim, (v)  prestava contas e as suas contas eram auditadas.  (Infelizmente, já não publica ou não disponibiliza um relatório financeiro desde 2012...).

As ONGD, s organizações não governamentais oara o desenvolvimento, prtecisam de credibilidade.

A ONG AD - Acção para o Desenvolvimento  passou, a partir de maio de 2011, a ter outro endereço, mas a URL é ligeiramente diferente da do sítio antigo. Estranhamente, não tem sido capturada pelos robôs do  Arquivo.pt ou do Internet Archive; 
https://ad-bissau.org/

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Guiné 61/74 – P25414: (Ex)citações (429): Abril em Nova Lamego. (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem. 

Abril em Nova Lamego


Camaradas,

      O 25 de Abril de 1974, dia em que se proclamou a Liberdade, permitiu o regresso dos camaradas, instalados em territórios africanos – Angola, Moçambique e Guiné - onde a guerrilha predominava, à Pátria mãe. Sentiu-se, então, que o fim do martírio de “miúdos” enviados para os palanques da guerra, havia terminado. Era um Abril a rejuvenescer à “sonância” de um cravo vermelho e a rapaziada, eufórica, a preparar-se para um retorno, a casa, antecipado.

Abril, e o seu cravo vermelho!


      Somos filhos de longas madrugadas que se imortalizaram no tempo, mas onde a esperança da liberdade residiu permanentemente em nós. Somos também filhos de pessoas humildes, “que comeram o pão que o diabo amassou”, mas que nos educou, o quanto lhes foi possível, uma vez que os tempos da obscuridão ter-lhe-ão coartado a ânsia de mandar os seus descendentes para estudos médios ou superiores, visto que as possibilidades financeiras do clã familiar eram demasiado escassas, ou ainda filhos de um regime totalitário, Estado Novo, onde o poder sobre o mais incauto cidadão impunha ordens absolutas aquando o pessoal reclamava, apenas, um compreensível dia de trabalho que, nesses idos, eram tão-só sazonais.

      Os tempos eram outros! Tempos em que a liberdade, melhor, a falta dela em expressar sensibilidades pessoais tinham o condão de enviar os mais destemidos para “campos de férias”, mas onde as grades de uma prisão se apresentavam como inequívocas realidades. Pessoas sérias, honestas, uns “letrados” com então a 4ª classe, já era bom, outros analfabetos, mas cuja altivez dalguns passou pela prisão política. Seres humanos que se entregavam de alma e coração a uma profícua convicção que entendiam como justa e, sobretudo, para o bem do seu povo. Mas, do outro lado, lá estavam sempre atentos os fiéis agentes de um regime que não dava tréguas ao mais honesto plebeu.

      Fomos crianças alegres, brincámos na rua, jogámos ao berlinde, à bola, algumas de trapos outras com bexigas de porco cujo enchimento era feito através do ar que vinha dos nossos pulmões, à pata, ao eixo, ao pau da lua, e de tantas outras brincadeiras que ainda hoje recordamos, crescemos a ouvir as barbaridades omnipotentes vindas de um Estado Novo, de agentes de uma PIDE que tudo ou quase tudo dominavam, conhecemos inegáveis sofrimentos de famílias marcados pelos constrangimentos das austeras estratégias de pessoas que envergavam fatos à príncipes de Gales com gravatas de seda pura, mas vimos um dia o desamarrar das âncoras do medo que nos prendiam a uma governação que fora substancialmente impiedosa. Porém, o 25 de Abril de 1974, a glorificada Revolução dos Cravos, abriu-nos as portas para a Liberdade e, fundamentalmente, para o conhecer novos mundos e novas realidades.

      Perfilho, com toda a legitimidade, que essas lealdades de outrora nos trouxeram novéis conhecimentos, novas vidas, novos universos que harmonizaram em indesmentíveis empatias sociais. Aliás, somos de uma geração que teve a oportunidade em conhecer as remodelações dos lugares, ou, em síntese, reestruturações humanas, créditos estes que paulatinamente se transformariam ao cimo desta imensa esfera chamada Terra.

      Assistimos à guerra colonial da qual fomos mais um dos muitos milhares de camaradas que por lá andaram, no nosso caso em solo guineense, sendo que a peleja começou em Angola, 1961, estendendo-se a Moçambique e Guiné, terminando o conflito em terras de além-mar com a queda do poder até então instalado sob o camando dos Capitães de Abril.

      Nós, jovens militares, fomos enviados para o palco de uma guerra na qual os camaradas no momento em que se deparavam com os conteúdos reais da guerrilha, lançavam exclamações de raiva, de revoltas incontidas e de impropérios “berros” que os transportavam para um tabuleiro, que não sendo o de xadrez, mas um outro em que se esculpia a simples frase: “matar para não morrer”! Sim, como sabeis camaradas, porque é inevitavelmente verídico, muitos companheiros perderam as vidas nas frentes de combate, outros nas "picadas", ou em emboscadas, outros no interior dos seus quartéis resultantes de ataques noturnos levados a cabo pelo IN, mas quando descansavam num sono, que não sendo profundo, o seu descansar permite-me, agora e sempre, parafrasear uma metáfora que se traduzia, naqueles tempos, num "descansar de armas". E tantos foram os camaradas mutilados e de muitos outros cuja patologia os remete para inesperadas circunstâncias de vidas de todo inesperadas.


Na porta de armas, em Nova Lamego, o pessoal civil por lá se aglomerava pós 25 de Abril

      Quando a revolução de Abril “rebentou” e se ouviu o som do clarinete a emanar a sonoridade do toque a reunir, este vosso camarada cumpria a missão militar na Guiné, precisamente em Nova Lamego, Gabu. Claro que todos rejubilámos com tamanha aventura. Seguiram-se momentos de intercambio com elementos do PAIGC, o conhecer de rostos com os quais antes havíamos combatido, trocaram-se “galhardetes” e eles, por fim, assenhorearam-se das nossas instalações.

      Naturalmente que pelo meio de tanto alvoroço, a população, sempre expectante, não dava tréguas aos camaradas que assumiam o serviço da porta de armas. Reuniam-se em grupo e vá de reclamar quiçá benesses. Os seus semblantes indicavam acumuladas incertezas. Compreendia-se. A nossa missão chegara ao fim. Brevemente voltaríamos a casa. Ficava o nosso repto: “até sempre Nova Lamego”!


Com o furriel Santos, minas e armadilhas, no dia da nossa despedida do quartel

      E eis-me, finalmente, no dia 4 de setembro de 1974 com o camarada Santos à porta das nossas instalações de malas feitas e prontos para o embarque num avião Noratlas que nos conduziria ao aeroporto de Bissalanca, seguindo-se uma viagem para o quartel do Cumeré, local onde permanecemos até ao regresso a Lisboa, Figo Maduro.

      Momentos inesquecíveis que levarei comigo para a eternidade, tendo em linha de conta aquele Abril, e o seu cravo vermelho!

Abraço, camaradas

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

22 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25197: (Ex)citações (428): O sistema AAA, do final da II Guerra Mundial, que "defendia" o aeroporto de Bissalanca e a cidade de Bissau no meu tempo (António J. Pereira da Costa, cmdt da Btr 3434, mai 71/ mar 73)

 


Guiné 61/74 - P25413: In Memoriam (502): Historiador René Pélissier (1935-2024), que dedicou vasta obra literária às antigas possessões portuguesas em África

IN MEMORIAM
René Pélissier (1935-2024)

1. Com a devida vénia, reproduzimos o texto publicado no dia 3 de Abril de 2024 na página do Centro de História da Universidade de Lisboa, enviado ao Blog pelo nosso amigo e camarada, Mário Beja Santos:

Faleceu o historiador francês René Pélissier, estudioso do terceiro império português. René Pélissier (Nanterre, 1935) obteve, em 1975, o Doctorat d’État ès lettres pela Universidade da Sorbonne, com a tese intitulada Résistances et révoltes en Angola 1845-1961, investigação pela qual foi distinguido, em 1978, com o Prix Kastner-Boursault da Academia Francesa. A sua carreira de investigador esteve ligada ao Centre national de la recherche scientifique (CNRS), onde chegou a Directeur de recherche.

René Pélissier foi autor de uma vasta obra sobre as colónias portuguesas, em que se destacam as monografias Les guerres grises. Résistances et révoltes en Angola (1845-1941), 1978, La colonie du Minotaure. Nationalismes et révoltes en Angola (1926-1961), 1979, Naissance du Mozambique. Résistances et révoltes anticoloniales (1854-1918), 1984, Timor en guerre. Le crocodile et les Portugais (1847-1913), 1996, Naissance de Ia Guinée. Portugais et Africains en Sénégambie (1841-1936), 1996, e Les campagnes coloniales du Portugal (1844-1941), 2004. A sua obra foi editada em Portugal e alguns dos seus livros conheceram várias edições. Abordando, principalmente, os aspectos militares das conquistas portuguesas e das resistências locais durante o terceiro império, a sua obra constituiu uma novidade no período em que foi publicada e mantem-se actual. Dedicou-se, igualmente, à divulgação da bibliografia sobre o império português e os países de língua oficial portuguesa, tendo elaborado inúmeras recensões críticas e ensaios bibliográficos.


Ao longo do seu percurso como historiador reuniu uma extensa biblioteca com mais de 12.000 volumes, a maior parte deles sobre o antigo império português, a qual doou à Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

A 3 de Março de 2022, foi-lhe atribuído o grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa, sob proposta da Faculdade de Letras, como reconhecimento de mérito académico, científico e profissional no estudo e na divulgação da história de Portugal. A cerimónia de entrega do diploma e das insígnias decorreu em Paris, na Embaixada de Portugal em França.

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Notas do editor:

(1) - René Pélissier tem 39 referências no nosso Blog. Mereceu por parte do nosso camarada Mário Beja Santos várias referências e recensões aos seus livros. Talvez o Mário possa elaborar, para publicação, um trabalho sobre este brilhante historiador que dedicou alguns dos seus livros à África lusófuna, originando por vezes algumas discordâncias com os antigos combatentes portugueses.

(2) - À sua família deixamos o nosso pesar pela perda do seu ente querido.

(3) - Último post da série de 10 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25259: In Memoriam (501): António Lobato, maj pil av, ref (Melgaço, 1938 - Lisboa, 2024), autor de "Liberdade e Evasão: o Mais Longo Cativeiro": Falta uma dimensão ao homem que não conheceu a prisão, escreveu ele, citando o filósofo Emmanuel Mounier. A sua vida foi também ela uma luta contra o esquecimento e a ingratidão. Repousa, finalmente, em paz, em Rio de Mouro

Guiné 61/75 - P25412: 20.º aniversário do nosso blogue: (5): Vinte anos a construir memórias (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CCAÇ 2381 - Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70)



VINTE ANOS A CONSTRUIR MEMÓRIAS

por Zé Teixeira


Q
uando libertos da pressão da guerra que tínhamos sido forçados a praticar e sentir na pele, na Guiné… que nos mantinha em silêncio. Doentio silêncio que nos abafava o espírito e que a pouco e pouco se foi curando…

Quando libertos da pressão que a liberdade trazida pelo 25 de abril, nos empurrava para um outro tipo de silêncio, porque segundo os mais extremistas, (alguns deles vindos do exterior, onde se refugiaram para evitarem a mobilização), nós, os combatentes, tínhamos sido lacaios do Estado Novo, do fascismo, e até de assassinos fomos apelidados…

Pois! Quando estas pressões se foram dissipando, começou a bailar dentro da nossa cabeça um vazio. E agora?!...

Eu sentia uma nova pressão. Precisava de falar dos acontecimentos, que o Estado Velho me tinha forçado a viver: das dores, das lágrimas, do sangue que vi derramar, dos camaradas que ficaram estropiados do físico e do espírito, dos camaradas que vi partir ingloriamente, na flor da juventude, sem lhes poder valer, dos “caguefes” que senti tantas vezes, os quais desapareciam, como por encanto, quando as balas começavam a assobiar por cima das nossas cabeças, ou quando os estilhaços das granadas se espetavam na terra à nossa frente, ou “cantavam” ao traçar a ramagem das árvores, atrás das quais nos protegíamos, em que o pensamento dava uma volta sobre si mesmo e nos punha a pensar – como sair daqui? Desapareciam os “caguefes” e começava a luta pela sobrevivência.

Precisava de fazer uma limpeza à caixa dos pirolitos, de fazer a catarse, como está cientificamente comprovado e é moda dizer-se.

Por onde começar? Com quem falar? Ninguém me queria ouvir. Apenas os meus filhos queriam que lhes contasse, à laia de aventura, o que tinha feito na guerra, como agora, os meus netos – conta Avô a história daquela menina que andava sempre ao teu colinho, ao debruçarem-se sobre as fotografias a preto e branco queimadas pelo tempo, perdidas num álbum carregado com o pó da história.

Pois?! E agora?

O Luís Graça, em boa hora, e já lá vão vinte anos, resolveu tirar o “tapa chamas” do computador e começou a disparar em todas as direções que a Internet lhe permitia, não com balas assassinas, mas com o seu blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, mais propriamente o pomposo Blogueforanadaevaotres, falando de si, das suas vivências na guerra que não quis fazer, mas foi obrigado. Sim. Naquele tempo, ou se ia para a guerra, ou se escapulia a salto para França, confundindo-se ainda hoje o medo, com a dignidade da objeção de consciência, que poucos sabiam o que era e como se podia obter.
O nosso editor Luís Graça, sempre por detrás de uma máquina fotográfica, a sua imagem de marca


Então fugia-se, e, se fosse apanhado pela PIDE ou pela Guardia espanhola era devolvido à procedência e ganhava o direito de embarcar para a guerra, logo de seguida, antes que desse novamente corda às sapatilhas. Assim aconteceu com o meu amigo Fernando que foi “convidado” para ir passar umas férias a Gadamael em 1973 e andou desenfiado na bolanha, aquando do cerco ao quartel. Salvou-o o comandante da Corveta que andava por perto e à revelia das ordens emanadas de Bissau, recolheu umas centenas de jovens militares e civis que, para fugirem da morte que espreitava por todos os cantos de Gadamael, se refugiaram na perigosa bolanha, que rodeava o aquartelamento, ganhando um stress pós-traumático de guerra, que lhe destruiu o futuro.

Para espanto do Luís Graça, não tenho dúvidas, começaram a surgir de todos os cantos, companheiros da jornada que se prolongou por cerca de treze anos, sem armas, sem medos, mas com vontade de conversar, de partilhar as suas “guerras”, de contar as suas dores e suas angústias, as suas alegrias e tainas, o seu estado de alma, talvez o seu desespero. À data éramos um mundo de gente. Hoje, muitos já partiram, contrariados, para o aquartelamento eterno. Nós, os resistentes vamos aguentando a parada no BlogueForandaevãotrês, mais conhecido pelo blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, que surgiu na sequência do primeiro Blogue, que se esgotou no espaço.

Tudo começou em 23 de abril de 2004, quando o inspirado Luís Graça se lançou à aventura.


V. N. Gaia > Madalena > 26 de Dezembro de 2005 >  Na casa da irmã e do cungado da Alice Carneiro, a Nita (1947-2023) e o Gusto > Uma minitertúlia de camaradas e amigos da Guiné... Da esquerda para direita: o nosso editor LG (cunhado dos dosnos da casa),  o A. Marques Lopes, o Zé  Teixeira, o Albano Costae o seu filho Hugo Costa,  e e ainda o saudoso Francisco Allen (mais conhecido pelo Xico de Empada, ou Xico Alle, 1950-2022).

Quem diria que estava aqui um dos embriões da  Tabanca Pequena de Matosinhos (pequena só de nome), que iria surgir três anos depois, em 19 de Novembro de 2008. O A. Marques Lopes e o José Teixeira são dois dos régulos iniciais: os outros  se seguiram,   o Álvaro Basto e o Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017), o João Rebola (1945-2018), e agora o Eduardo Moutinho  Santos, entre outros (corre-se sempre o risco de cometer a injustiça da omissão)

Foto (e legenda): © Hugo Costa / Albano Costa  (2005).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 


Logo sentiu uma “chuveirada”, não de estilhaços, mas de postes com testemunhos vivos, concretos, “disparados” por camaradas que à data não conhecia, como eu, por exemplo, que quando o descobri (fins de 2005) logo comecei a mandar bojardas e ainda vou dando uns “tiritos” de vez em quando, como este, que apenas pretende dar-lhe os parabéns pela iniciativa e agradecer-lhe, a ele, e a tantos camaradas a quem hoje me sinto ligado e preso por uma amizade solidificada neste “estar e sentir” de uma guerra em que participamos sem querer.

Obrigado, Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, por ser o meu intermediário na relação com tantos camaradas, muitos dos quais nunca tive a oportunidade de dar o meu abraço, mas a quem me sinto ligado por laços de profunda afetividade. Para todos vós, um abraço do tamanho do Geba.

Obrigado, mais uma vez, Luís Graça e Alice pela profunda amizade, meu mano querido, que nos une e que nasceu naquela véspera de Natal, na Madalena em 2005.

O meu profundo agradecimento, também, ao Carlos Vinhal, em especial, por me ter aturado tantas vezes, e a todos os co-editores que têm dado forma a este nosso grito de paz.

Agora, somos cada vez menos e estamos mais velhos. Muitos de nós já “esgotaram” as munições, ou perderam a vontade e a força de continuarem a escrever, mas continuam, pela calada, a visitar todos os dias o “nosso” Blogue, e de vez em quando, lá sai mais um comentário, ou num rebuscar de memória, mais um acontecimento que estava escondido num escaninho da massa cinzenta. Não desistam, por favor, porque se não formos nós a contruir a nossa história, outro virão, e a nossa verdade histórica corre o risco de ser deturpada.

Aos que deixaram a vida na Guiné e aos que já partiram ao encontro do Além, o meu profundo sentimento de que estejam, onde estiverem, se sintam em paz. Na certeza de que todos nós nos encontraremos por lá um dia.

Aos camaradas que, como eu, continuam a luta pela vida, que se sintam com a saúde possível e não desistam de viver.

Um Grande abraço do
Zé Teixeira

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Nota do editor

Último post da série de 6 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/75 - P25348: 20.º aniversário do nosso blogue: Alguns dos nossos melhores postes de sempre (4): Um roteiro poético-sentimental para um regresso àquela terra verde-rubra (Joaquim Mexia Alves / Luís Graça)

Guiné 61/74 - P25411: Notas de leitura (1684): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (21) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2024:

Queridos amigos,
Estamos prestes a concluir a apresentação do trabalho do nosso confrade José Matos e de Matthew Hurley, trata-se do penúltimo volume que eles dedicaram à Força Aérea Portuguesa na guerra da Guiné. Naquele ano de 1972, Caetano rejeitou peremptoriamente qualquer solução política entre Portugal e o PAIGC, mediada por Leopold Senghor, diz abertamente a Spínola que negociações com a guerrilha teriam impacto direto e imediato noutras parcelas do império. Continua o afã para encontrar meios aéreos mais modernos do que o Fiat, entretanto o PAIGC melhora o seu armamento e equipamento, visando claramente avançar para a guerra convencional. É todo o relato de tais peripécias que aqui se dá conta ao leitor, já não havia ilusões nos altos comandos de que o PAIGC tudo estava a fazer para quebrar a supremacia dada pela Força Aérea. Mas será matéria que ficará para o derradeiro volume, fica-se à espera que o José Matos nos dê essa notícia.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (20)


Mário Beja Santos

Deste segundo volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados na sua aquisição: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/.


Capítulo 5: “Tudo estava dependente deles, de uma forma ou outra”

Como se viu no texto anterior, no rescaldo da Operação Mar Verde emergiu com mais intensidade toda a questão da defesa aérea que já preocupara o governador Schulz. Era indesmentível a incapacidade de Portugal em defender a Guiné de ataques aéreos, e Spínola estava bastante bem informado das lacunas existentes. O Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, General Venâncio Deslandes, que visitou a Guiné em junho de 1971, concordou com Spínola que a situação se estava a deteriorar a um ritmo preocupante, reconheceu o agravamento do clima militar, observando que as forças portuguesas “não são suficientes para garantir a permanência dos sucessos obtidos”, admitindo também que o PAIGC “pode tentar impor uma solução pela força, criando situações desfavoráveis, difíceis ou impossíveis de reverter”.

Spínola, no entanto, nunca baseou a sua estratégia apenas sob resultados militares, continua a insistir que “a expressão vitória militar” não tinha qualquer sentido naquele tipo de conflito, como disse claramente na reunião havida em maio desse ano no Conselho Superior de Defesa Nacional. “O problema só pode ser resolvido no domínio político, e quero acreditar que tal solução ainda é viável”. O Governador estava certamente a deixar mensagens que incluíam a abertura de um diálogo com as forças de guerrilha, um esforço que considerou necessário para evitar “uma agonia prolongada e inútil”. Spínola já tinha tentado negociações com elementos do PAIGC no chamado “chão Manjaco”, e o ministro do Ultramar escreveu mais tarde que Spínola estava eufórico com os resultados que antevia. A aventura terminou em tragédia, quando três majores, um alferes e os intérpretes foram brutalmente assassinados por elementos do PAIGC, em 20 de abril de 1970. “Foi um duro golpe que sofremos”, informou Spínola o Ministro da Defesa Nacional, Sá Viana Rebelo, no dia seguinte, “já que eles eram uma equipa de valor e determinação excecionais”.

Voltando um pouco atrás, Spínola julgara que o planeamento da Operação Mar Verde lhe oferecia uma oportunidade para remodelar radicalmente a guerra. O impacto internacional do ataque a Conacri, as repercussões que teve e a escalada da guerra na Guiné, tolheram qualquer iniciativa em direção ao acordo negociado até 1972, quando os esforços diplomáticos face ao Senegal foram retomados. Houve uma reunião em Cap Skirring, em 18 de maio desse ano, entre Spínola e o presidente senegalês Senghor, os dois discutiram um cessar-fogo e um período de 10 anos de transição para preparar a independência da Guiné. Ainda tendo na mente o chamado “massacre dos majores”, as forças portuguesas prepararam uma operação de peso com o objetivo de proteger o comandante-chefe durante a conferência. Sem o conhecimento do presidente Senghor, um conjunto de aviões Fiat estava de alerta em Bissalanca, pronto para bombardear “toda a área” ao primeiro sinal de qualquer ameaça de Spínola; a par desta eventual operação de bombardeamento, dez helicópteros Alouette III e dois Noratlas aguardavam para levar 130 paraquedistas para Cap Skirring, onde iriam “recolher os corpos”, incluindo o de Spínola, se fosse preciso.

A reunião terminou sem quaisquer incidentes, assim como um encontro de acompanhamento, vários dias depois. Encorajado pelos resultados, Spínola viajou para Lisboa no fim do mês para informar Marcello Caetano sobre o encontro diplomático. Fê-lo com grandes esperanças: Caetano era considerado menos rígido e dogmático em questões coloniais do que o seu antecessor. Em 1972, porém, a perspetiva imperial de Caetano tinha aparentemente endurecido. Durante a reunião havida em 28 de maio com Spínola, proibiu terminantemente novas iniciativas diplomáticos de resolver o conflito na Guiné, dizendo a um estupefacto Spínola: “Para a defesa geral dos territórios ultramarinos é preferível deixar a Guiné através de uma derrota militar com honra do que através de um acordo com terroristas que justificaria outras negociações em outros territórios.” Se as forças portuguesas fossem militarmente derrotadas depois de terem lutado com todo o seu potencial, argumentou Caetano, “tal derrota deixa-nos intactas as possibilidades jurídicas e políticas para continuar a defender o resto dos territórios ultramarinos”. Spínola concluiu, desapontadamente, que Caetano tinha desperdiçado a última oportunidade de Lisboa para resolver o problema da Guiné com honra e dignidade, a resposta de Caetano significava o sacrifício de vida das suas tropas e o prestígio das Forças Armadas.

Os comandos subordinados a Spínola tinham preocupações mais imediatas, observavam com preocupação o aumento das capacidades militares do PAIGC e a introdução de novas armas. Numa avaliação feita em 1972, a guerrilha conduzida por Amílcar Cabral tinha canhões antiaéreos de 37 mm, lançadores múltiplos de foguetes BM-21 de 122 mm, veículos blindados de transporte de pessoal BTR-40 e até tanques leves PT-76.

Além disso, a guerrilha começava a realizar operações mais ambiciosas, com formações maiores, o que correspondia à sua intenção há muito estabelecida de desencadear uma guerra de manobra convencional. O resultado óbvio, como concluía o comandante do GO-1201 (e, mais tarde, Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné) Coronel José Lemos Ferreira, era que o PAIGC acreditava agora que a vitória militar estava ao seu alcance, mas “o que eles precisavam era algo que anulasse a Força Aérea”. Com esta finalidade, as defesas antiaéreas da guerrilha reapareceram na Guiné em 1972. Em maio, por exemplo, canhões antiaéreos de 37 mm abriram fogo contra um par de Fiat que patrulhava a fronteira Sudeste e as chamadas zonas libertadas do Quitafine. Aqueles caças escaparam ilesos, mas outras oito aeronaves portuguesas ficaram danificadas pela ação da guerrilha durante o ano. Em fevereiro e agosto, fogo antiaéreo não especificado, presumivelmente originado da República da Guiné, atingiu um total de três Fiat que patrulhavam a fronteira Nordeste, provocando danos ligeiros. Dois DO-27 foram atingidos por tiros de armas leves durante março, assim como o T-6 em fevereiro, enquanto três Alouette III foram danificados por morteiros, por disparos de RPG e armas automáticas, em novembro e dezembro. A Zona Aérea reportou um total de 23 ações contra aeronaves ao longo de 1972, mas apenas dois resultaram em danos materiais ou ferimentos graves em militares portugueses. Significativamente esses incidentes envolveram armas e morteiros e infantaria em vez de sistemas antiaéreos especialmente construídos.

O Mirage passou a ser a opção para as operações da FAP em África (Dassault)
Em 1972, Spínola procura uma solução política para a questão da Guiné desde a mediação do presidente senegalês, mas Caetano rejeitou a iniciativa de paz (Coleção Revista do Povo)
O primeiro-ministro Marcello Caetano rejeitou qualquer negociação para a Guiné, temendo que ela seria um procedente irreversível para o resto do império colonial português (Arquivo Histórico do Ultramar)
Operações de fogo independentes da Zona Aérea, 1972 (Matthew M- Hurley, baseado em documentação portuguesa)

(continua)

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Notas do editor:

Vd. post de 12 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25377: Notas de leitura (1682): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (20) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 15 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25389: Notas de leitura (1683):"Memórias SOMântícas", de Abulai Sila; Ku Si Mon Editora, 2016 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25410: Os 50 anos do 25 de Abril (9): "Factum": c. 170 das melhores fotografias do Eduardo Gageiro, no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, até ao próximo dia 5 de maio


Foto nº 1


Foto nº 2 

Lisboa  > Cordoaria Nacional  > Torreão Nascente > 16 de abril de 2024 > Galerias Municipais / EGEAC > Até ao dia 5 de maio próximo, está a decorrer a exposição "Factum - Eduardo Gageiro", composta por 167 impressões emolduradas, impressão jato de tinta sobre "archival  fine art  baryta paper".

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 3


Foto nº 4

Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9


Foto nº 9A


Foto nº 9B

Imagens colhidas por Luís Graça (2024),  com o único propósito de ilustrar  a notícia do evento e motivar os nossos leitores para agendarem uma visita o mais rápido possivel... São naturalmente "fracas cópias do original",  em termos técnicos e estéticos.  Com a devida vénia, de resto, ao autor e às Galerias Municipais / EGEAC.


1. Por ocasião dos 50 anos do 25 de Abril, as Galerias Municipais / EGEAC organizaram a exposição de fotografia "Factum", reunindo algumas (cerca de 170) das imagens captadas pelo Eduardo Gageiro (n. Sacavém, 1935), que mostram 7 décadas da evolução do pais, desde os anos 50, nas suas suas diferentes dimensões (política, social, demográfica, cultural, etc.).

Estão, naquele espaço expositivo fabuloso (a Cordoaria Nacional,  enorme edifício fabril pombalino, classificado como monumento nacional), algumas das melhores (e mais dramáticas) imagens do 25 de Abril de 1974, colhidas ali no Terreiro do Paço (e no Carmo):

 (i)  Fotos nº 7, 8, Terreiro do Paço: O ex-alf miliciano Brito e Cunha (à civil, empunhando  uma pistola Walther), Salgueiro Maia (quarto a contar da esquerda) e outros oficiais revoltosos, preparando-se para deter o major de cavalaria Pato Anselmo, do RC 7;

(ii) Fotos nºs 9, 9A, 9B: cap Salgueiro Maia e alf Maia de Loureiro, festejando a vitória, depois  de as tropas do Regimento de Cavalaria 7 terem aderido ao Movimento; sobre esta icónica foto, o Salgueiro Maia disse: "Venho a morder o lábio (foto nº 9B) para não chorar. É que o 25 de Abril venceu-se ali".

Destaque para outros temas,  tais como:

(iii) o trabalho (foto nº 5: depósito de combustível da Sacor, Sacavém, 1960; foto nº  6: obras dee construção  da cidade universitária, Lisboa, 1969);

(iv) a ditadura (foto nº 3: Salazar no Forte de São João do Estoril, 1964;  foto nº 4: Desfile do Dia da PSP, Restauradores, Lisboa, 1966);

(v) personalidades (retratos em geral na intimidade): de Spínola a Ramalho Eanes, de Mário Soares a Cunhal,  de Sophia de Melo Breyner a  Miguel Torga, de Eusébio a Amália...

Esta exposição levou um ano a montar!... Lê-se na ficha técnica: " (...) foram realizadas novas e cuidadas digitalizações, tratamentos de imagem, ampliações e impressões de todas as fotografias selecionadas, a partir dos seus negativos originais"... 

Isto dá  ideia do rigor e do empenho que foi posto no seu planeamento e execução em estreita colaboração com o autor, um dos fotojornalistas portugueses de nível mundial. Exposição a não perder.  (LG)
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Nota do editor:

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25409: Efemérides (434): Homenagem aos Combatentes da Guerra do Ultramar da União das Freguesias Anreade e São Romão - Concelho de Resende (Fátima's)

Foto 1 - Anreade


Homenagem aos Combatentes da Guerra do Ultramar
União das Freguesias Anreade e São Romão
Concelho de Resende

No dia 13 de abril de 2024, foram homenageados todos os combatentes que rumaram para terras longínquas durante a Guerra do Ultramar, outrora naturais da freguesia de Anreade, concelho de Resende. Na obra “Resende e a sua História”, volume 2, o Dr. Joaquim Correia Duarte refere-se a Anreade nos seguintes termos: «uma das freguesias mais belas e progressivas da região. Anreade acompanha o Douro nas suas águas serenas, frescas e sombreadas.
Quem atravessa a freguesia (…), não resiste silencioso e indiferente a essa beleza do Douro que encanta, que comove, que seduz. (…)
Em cada cabeço uma novidade contagiante. Em cada encosta um novo fôlego de coragem. Em cada plano, um novo alívio de frescura e de paz!»


Manuel de Almeida Alexandre levou para sempre no coração este belo e eterno cenário quando partiu para Moçambique, pois foi o único jovem combatente, natural da freguesia de Anreade, do concelho de Resende, a perder a vida, durante o período da Guerra do Ultramar.

A Cerimónia teve início pelas 15h00, com a celebração de uma missa na Igreja Matriz de S. Miguel de Anreade, dirigida pelo Senhor Padre Joaquim Correia Duarte, que dignamente relembrou alguns acontecimentos, por si vivenciados, naquela época enquanto cidadão e pároco. Também se homenageou o Combatente falecido, por doença, na Província Ultramarina de Moçambique, Manuel de Almeida Alexandre, que morreu no dia 6 de agosto de 1968, bem todos os restantes que ainda se encontram vivos e os que já partiram para na vida civil.

Finda a cerimónia religiosa, deu-se início no Salão Paroquial de Anreade a uma cerimónia muito emotiva e comovente, onde se pode assistir a um vídeo da reconstituição da vida do militar falecido, Manuel de Almeida Alexandre, desde a data do seu nascimento até à data da sua morte, bem como a algumas intervenções, nomeadamente dos combatentes Domingos Ferreira e Albertino Pinto e leitura do testemunho do combatente António Lopes Pinto, realizada pelo seu neto. Houve alguns momentos musicais a cargo da Senhora presidente da União das Freguesias Anreade e São Romão, Sónia Pinto, e de Adriano Moreira, neto de combatente. Ainda foram exibidos mais de setenta slides de combatentes, naturais da freguesia.

De seguida rumou-se ao cemitério, onde se prestou honras militares junto da campa de Manuel de Almeida Alexandre com apoio dos Associação de Lanceiros Veteranos. Logo de imediato, com a emoção no expoente máximo, procedeu-se à inauguração de um Monumento aos Combatentes do Ultramar junto ao cemitério da freguesia, seguido de um lanche e convívio entre os presentes.

Estiveram representadas várias instituições civis e militares, nomeadamente a Associação Veteranos Lanceiros de Portugal, Centro de Tropas de Operações Especiais (CTOE), Major Gonçalo Pereira, um dos assessores do Sr. Presidente da República, Tenente-coronel Anselmo Dias, e o Núcleo de Lamego da Liga dos Combatentes, representado por elementos dos seus órgãos sociais, associados e respetivo Estandarte Heráldico. Também estiveram presentes o senhor presidente da Assembleia Municipal, alguns vereadores e presidentes de Junta de Freguesia do Concelho de Resende.

Fotos 2 e 3 - Combatente falecido em Moçambique, no dia 06.08.1968
Foto 4 - Senhor Padre Joaquim Correia Duarte (Historiador e membro da Academia de História)
Foto 5 - Núcleo de Lamego da Liga dos Combatentes
Foto 6 - Assessor do Sr. Presidente da República (Tenente-Coronel Anselmo Dias), Presidente da Assembleia Municipal, Major Gonçalo Pereira (CTOE)
Foto 7 - Membros do Núcleo de Lamego da Liga dos Combatentes, Assessor do Sr. Presidente da República (Tenente-Coronel Anselmo Dias) e Major Gonçalo Pereira (CTOE)
Foto 8a - Combatente Domingos Ferreira
Foto 8 - Combatente Albertino Pinto
Foto 9 - Coronel Valdemar Lima (Núcleo de Lamego da Liga dos Combatentes)
Foto 10 - Associação de Lanceiros Veteranos
Foto 11 - Homenagem junto da sepultura do Soldado Manuel de Almeida Alexandre
Foto 12 - As Fátima's, Senhora Presidente da União das Freguesias de Anreade e São Romão e membros do Núcleo de Lamego da Liga dos Combatentes
Foto 13 - As Fátima‘s, membros da União das Freguesias Anreade e São Romão e a Associação de Lanceiros
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Nota do editor

Último post da série de 16 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25393: Efemérides (433): Ainda a recente homenagem em Nova Iorque a dois grandes humanistas lusofónos, diplomatas da II Guerra Mundial, que faleceram há 70 anos, neste mês de abril, o português Aristides de Sousa Mendes (a 3) e o brasileiro Luís Martins de Sousa Dantas (a 16) (João Crisóstomo)

Guiné 61/74 - P25408: Consultório Militar do José Martins (82): Dia 16 de Março de 1974 - Parte VII (e última) - Os dias depois


Parte VII e última de "Dia 16 de Março de 1974", um trabalho da autoria do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviado ao Blog em 10 de Abril de 2024. Neste dia ensaiou-se a primeira tentativa de derrube do regime vigente, conhecida por Levantamento ou Golpe das Caldas, por ter sido protagonizada por militares do antigo RI 5 das Caldas da Rainha.


Dia 16 de Março de 1974 - Parte VII (fim)

Os dias depois

Dia 17 de Março de 1974

00:15
● O Comandante da 1.ª Companhia do Batalhão n.º 1 da GNR informa que, no parque da Estação da CP do Rossio, se encontram 2 Berliets, 3 Unimogs e 3 Jeeps com militares da Policia Militar, dando a impressão de aguardarem alguém. [CGg]

00:16
● O Comando-Geral da GNR comunica a notícia acerca do aparato na Estação do Rossio ao Comandante da Região Militar de Lisboa e recebe a informação de que, o pessoal da Polícia Militar, aguarda militares em regresso de fim-de-semana. [CGg]

04:00
● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha informou superiormente que a situação continuava sem qualquer alteração. [PCR]

08:50
● Comandante da GNR de Pêro Pinheiro comunicou que tinham sido feitas chamadas anónimas para a central telefónica local, avisando as telefonistas para abandonarem o serviço por estar eminente o rebentamento de bombas naquele edifício. Tendo, o Comandante do Posto, procedido a minuciosa revista do edifício, não encontrou ali qualquer engenho explosivo. [B2g]

09:30
● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha informa, o escalão superior, que a situação continuava sem alteração. [PCR]

● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha informa que a situação geral, era normal. [B2g]

● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha informou superiormente que a situação continuava sem qualquer alteração. Acrescenta que, por informação recolhida de que os oficiais sublevados foram transportados para o Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1, em Moscavide. [PCR]

11:00
● O 2.º Comandante da Região Militar de Tomar informou o Major Guimarães que podia regressar ao Regimento de Infantaria n.º 7 e que a Companhia de Caçadores do Regimento, regressaria no dia seguinte. [RI7a]

14:00
● O Major Guimarães regressou, ao Regimento de Infantaria n.º 7, terminando o serviço que lhe foi determinado, ao acompanhar a Companhia de Caçadores. [RI7a]

14:30
● Por determinação superior, passa-se à Situação de Alerta, a partir das 15H00. [B2g]

15:00
● O Comando-Geral da GNR indica passagem a estado de Prevenção Simples. [CGg]


Dia 18 de Março de 1974

00:01
● Uma informação oficial, do Departamento da Defesa Nacional, refere que foram detidos trinta e três oficiais, das Forças Armadas, na sequência dos acontecimentos de 16 de Março:
Tenente-Coronel João Almeida Bruno;

Majores:
Manuel Soares Monge e
Luís Casanova Ferreira;

Capitães:
Virgílio Luz Varela,
Fortunato de Freitas,
Ivo Garcia,
Armando Marques Ramos,
Farinha Ferreira,
Pita Alves,
Domingos Gil,
Piedade Faria,
Gonçalves Novo,
Pereira Carvalho,
Madaleno Lucas,
Silva Parreirinha e
Branco Ramos;

Tenentes:
Rocha Neves,
Pina Pereira,
José Vaz Pombal,
Moreira dos Santos,
Matos Coelho,
Abreu Carvalho,
Gomes Mendes,
Carreira Ângelo e
José Verdu Montalvão;

Alferes Milicianos:
Dinis Coelho e
Oliveira Ribeiro, entre outros. [JM]

09:30
● Do relatório do Batalhão n.º 2 da GNR, o Comandante da GNR de Caldas da Rainha, informa que a situação geral não sofrera qualquer evolução, mantendo-se a normalidade recuperada. Durante as últimas 24 horas, foi também efectuada discreta vigilância sobre os movimentos de entradas e saídas nas unidades militares aquarteladas na área: Academia Militar e Regimento de Infantaria n.º 1 (Amadora); Regimento de Artilharia Anti Aérea Fixa (Queluz); Escola Prática de Electromecânica (Paço de Arcos); Regimento de Artilharia de Costa, (Oeiras); Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea (Cascais); Campo de Tiro da Carregueira (Venda Seca); Base Aérea n.º 1 (Granja do Marques); nada tendo sido notado de anormal. Por determinação superior passa-se à situação de Alerta, a partir das 15:00. [B2g]

15:00
● O Comando-Geral da GNR indica passagem a estado de Vigilância. [CGg]

S/hora
● É emitido o segundo e último comunicado do Movimento das Forças Armadas, até ao dia 25 de Abril de 1974. Redigido por Vítor Alves e Otelo Saraiva de Carvalho, analisa a tentativa de golpe do 16 de Março e denuncia o papel da PIDE na perseguição de militares. [JM]


19 de Março de 1974

● O General Joaquim da Luz Cunha é nomeado Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. [JM]


24 de Março de 1974

● Na última reunião da Comissão Coordenadora do MFA foi decidido que o derrube do regime ditatorial só poderia ser alcançado pela via militar e que o Movimento se deveria empenhar na rápida concretização desse objectivo. O golpe de estado é marcado para a semana se 20 a 27 de Abril de 1974. [JM]

Muitas das unidades que se viram envolvidas, por ordem superior, no 16 de Março, tinham elementos activos no Movimento dos Capitães, nomeadamente no comando das forças destinadas à intervenção imediata, mas não em número suficiente para poderem alterar a curso da revolta, protagonizada pelo Regimento de Infantaria n.º 5, dando-lhe apoio.

Chegados aqui, levando a “Fita do Tempo” até uma semana depois do acontecimento de 16 de Março, tendo sido feita menção a factos que, de uma ou outra forma levaram ao relatado caberia, agora, fazer a análise crítica e as conclusões, mas esse “trabalho” será matéria para o leitor que, como bem sabemos, até já pode ter uma ideia definida.

Para os mais velhos, nomeadamente aqueles que viveram já na então metrópole, ou ainda nos então Teatros de Operações, reviverem ou relembrar o sucedido.

Os mais novos poderão aqui ver que, a “tropa” servia como “frente de combate” para os que aqui ficavam, nomeadamente nos gabinetes do poder e, quando a tropa mostrava ideias diferentes, a sua própria “guarda pretoriana” avançava, mas mandavam-na ficar na retaguarda e/ou reserva.

Para mim foi um gosto poder “reviver”, passado que foi meio século sobre um momento em que, quando se soube que provavelmente, facto que não se registou, que parte da coluna saída das Caldas da Rainha poderia não ter regressado ao quartel, poderia representar uma nova facção de revoltados, que podiam continuar a gerar um quadro de instabilidade, quiçá, uma “guerrilha interna”.
João Paulo Diniz. Foto: Com a devida vénia a Sapo.pt

Em 5 de Abril desse ano de 1974, teve lugar, como era hábito, o concurso da canção da Eurovisão. Foram os ABBA que ganharam, com a canção "Waterloo", tendo ficado Portugal, representado por Paulo de Carvalho, ficado em 15.º lugar com a canção “E depois do adeus” que, cerca de vinte dias depois, pelas 22:55, tocada pelos Emissores Associados de Lisboa, por João Paulo Diniz, que seria o primeiro sinal para que, as tropas aderentes ao MFA, iniciassem os preparativos para arrancarem. O segundo sinal é dado às 00:h20, quando a canção “Grândola, Vila Morena” do cantor Zeca Afonso, é transmitida pelo programa Limite, da Rádio Renascença. 
O Movimento das Forças Armadas estava na rua. Já nada era reversível.

José Marcelino Martins
9 de Abril de 2024
No 106.º ano da Batalha de La Lys, na Grande Guerra.

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Nota do editor

Vd. posts de:


12 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25378: Consultório Militar do José Martins (76): Dia 16 de Março de 1974 - Antes do dia - Parte I

13 de Abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25381: Consultório Militar do José Martins (77): Dia 16 de Março de 1974 - Antes do dia - Parte II

14 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25385: Consultório Militar do José Martins (78): Dia 16 de Março de 1974 - Parte III - O dia

15 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25392: Consultório Militar do José Martins (79): Dia 16 de Março de 1974 - Parte IV - O dia

16 de Abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25395: Consultório Militar do José Martins (80): Dia 16 de Março de 1974 - Parte V - O dia
e
17 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25402: Consultório Militar do José Martins (81): Dia 16 de Março de 1974 - Parte VI - O dia